Acompanham

Mostrando postagens com marcador Castoriadis. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Castoriadis. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 1 de maio de 2025

História e Liberdade

 


Muitas vezes discutimos sobre nossa percepção de mundo e contrapomos nossas pequenas diferenças de visão sobre os assuntos mais importantes (e, portanto, histórico-socialmente vitais). Tomamos algumas vezes o mesmo caminho para chegar a conclusões diferentes. Na maioria das ocasiões, caminhos diversos para chegar a conclusões muito próximas, quando não rigorosamente a mesma.

Um assunto quase nunca discutido diretamente, mas que permeou necessariamente nossas conversas, até porque já conversamos sobre Platão, Spinoza, Karl Marx, Imanuel Kant, Hegel, Antônio Gramsci, Hannah Arendt, Adorno, Habermas, foi a questão de como, por quais meios e sob quais limitações o homem faz a história. A ressurreição da filosofia grega, Cornélio Castoriadis, no livro A instituição imaginária da sociedade, nos fornece bons dados sobre uma perspectiva marxista para essa discussão. Segundo ele, “é certo que a consciência humana, como agente transformador e criador na história, é essencialmente uma consciência prática, uma razão operante-ativa, muito mais do que uma reflexão teórica, à qual a prática seria anexada como o corolário de um raciocínio e da qual ela somente materializaria as consequências. Mas essa prática não é exclusivamente uma modificação do mundo material, ela é também, ainda mais, modificação das condutas dos homens e de suas relações. O Sermão da montanha, o Manifesto comunista pertencem à prática histórica, tanto quanto um invento técnico, e pesam, quanto a seus reais efeitos sobre a história, com um peso infinitamente maior” (CASTORIADIS, 1982, p.33).

Claro para aceitar todo esse poderio do homem sobre a história, necessariamente somos obrigados a aceitar uma dialética histórica, concepção com que Hegel revolucionou a filosofia ao introduzir a contingência histórica ao subjetivismo de Kant. Estava criado o sujeito histórico. Obviamente a dialética como motor da história é outro fato extremamente relevante. Castoriadis também a explica, destacando a importância de Hegel em Marx: “Existe uma dialética da história que faz com que os pontos de vista sucessivos das diversas épocas, classes, sociedades, mantenham entre si uma relação definida (mesmo se muito complexa). Eles obedecem a uma ordem, formam um sistema que desdobra no tempo, de maneira que o que vem depois ultrapassa (suprime conservando) o que estava antes. O presente compreende o passado (como momento “superado”) e por isso pode compreendê-lo melhor do que esse passado compreendia a si mesmo. Essa dialética é, em sua essência, a dialética hegeliana; o que era para Hegel o movimento do logos, torna-se em Marx o desenvolvimento das forças produtivas e a sucessão de classes sociais que marca suas etapas não tem, em relação a isto, nenhuma importância. Num e noutro, Kant “ultrapassa” Platão e a sociedade burguesa é “superior” à sociedade antiga. Mas isso assume importância em relação a outra aspecto – e é este o segundo termo do movimento. Precisamente porque esta dialética é a dialética da aparição sucessiva de diversas classes na historia, ela não é mais, necessariamente, infinita de direito; ora, a análise histórica mostra que ela pode e deve se completar-se com o aparecimento da “última classe”, o proletariado” (CASTORIADIS, 1982, p.48 e 49).

Necessariamente debatemos também a liberdade, pois com exceção de Baruch Spinoza, todos os outros concebem a história como terreno da liberdade. Para isto, após décadas em que foram muito melhor lidas as críticas de Marx a Hegel, Castoriadis mostra como a concepção de liberdade inunda o pensamento de ambos: “O hegelianismo como podemos em verdade ver, não está ultrapassado. Tudo o que é e tudo o que será real, é e será racional. Que Hegel pare esta realidade e esta racionalidade no momento em que aparece sua própria filosofia, enquanto que Marx as prolonga indefinidamente até e inclusive a humanidade comunista, não enfraquece o que dizemos, antes o reforça. O império da razão que, no primeiro caso, englobava (por um postulado especulativo necessário) o que já está dado, estende-se agora também a tudo o que poderá ser dado na história. O fato de que o que podemos dizer desde agora sobre o que será torna-se cada vez mais vago na medida em que nos afastamos do presente, provém de limitações contingentes de nosso conhecimento e sobretudo de que se trata de fazer o que há por fazer hoje e não de “dar receitas para as cozinhas socialistas do futuro”. Mas esse futuro está desde já fixado em seu princípio: ele será liberdade, como o passado e o presente foram e são necessidade” (CASTORIADIS, 1982, p.56)

(CASTORIADIS, Cornélius. A instituição imaginária da sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1982)

domingo, 16 de março de 2025

Tem dia que é noite

 


Engels diz que "a história é o mundo das intenções inconscientes e dos fins não desejados" (CASTORIADIS, 1982, p.59). Essas afirmações colocam a história no escuro, ao sabor de um acaso não determinável. Mostra toda a herança hegeliana em Marx e Engels, praticamente ratificando o famoso Espírito da História, que dialeticamente "dá uma vida própria à história".

Portanto, "o hegelianismo como podemos em verdade ver, não está ultrapassado. Tudo o que é e tudo o que será real, é e será racional. Que Hegel pare esta realidade e esta racionalidade no momento em que aparece sua própria filosofia, enquanto que Marx as prolonga indefinidamente até e inclusive a humanidade comunista, não enfraquece o que dizemos, antes o reforça. O império da razão que, no primeiro caso, englobava (por um postulado especulativo necessário) o que já está dado, estende-se agora também a tudo o que poderá ser dado na história. O fato de que o que podemos dizer desde agora sobre o que será torna-se cada vez mais vago na medida em que nos afastamos do presente, provém de limitações contingentes do nosso conhecimento e sobretudo de que se trata de fazer; o que há por fazer; hoje e não de "dar receitas para as cozinhas socialistas do futuro". Mas esse futuro está desde já fixado em seu princípio: ele será liberdade, como o passado e o presente foram e são necessidade" (CASTORIADIS, 1982, p.56).

O sabiá sabia assobiar

  Assim cantou o sabiá Como sempre Sabia assobiar Com a melodia assombrar E o ritmo encadear O sol sobe e a lua baixa As estrela...