Embora nunca
seja agradável pensar, sobretudo criticamente, creio que é oportuno propor uma
discussão sobre o nosso isolamento real num mundo imaginário (não estou falando
de internet ou tecnologias, pois elas são reais). Nós vivemos em um mundo
lúdico, um mundo de interpretações pelo qual às vezes passamos secamente
observando muito mal a paisagem. É desesperador o quanto refletimos pouco e
observamos pouco nossos parceiros com o qual interagimos ou não. Temos a velha comodidade de apreender sempre
apenas ou que foi dito ou o que é mais comum ainda: o quisemos ouvir.
É claro que
tentar compreender o outro exigiria uma maior complexidade de pensamento nossa
e, sobretudo, do agir. É óbvio que seria necessário que entendêssemos um pouco
da psique individual, sobretudo da nossa que é a mais difícil. É evidente que
necessitaremos de um método que seja, senão claro, pelo menos evidente. O
conhecimento das relações; talvez pelo método empírico da experiência mesmo não
sendo possível agregar um método externo, uma ciência, para analisar o caso; é
essencial para a nossa pretensiosa intenção. Aí, eu creio que paira um problema
mais complicado, pois mesmo com toda boa intenção, entender o próximo é sempre
mais complicado e exige muita habilidade e disponibilidade.
Sem dúvida
seria um passo fenomenal entender o que as pessoas dizem e não o queremos
ouvir, no entanto seria um passo ainda maior entender o que as pessoas querem
dizer - é claro sem a nossa pretensão de distorcer as coisas de acordo com o
nosso sentimento, por isso o método-. É isso que proponho tentar fazer, não sem
levar em conta o desgaste e o empenho necessário para isso, no dia-a-dia ou no
máximo de casos que conseguirmos.
Parece
estarmos cada vez mais numa sociedade, e é muito claro isso até pela fase do
capitalismo e do individualismo que estamos, que perdeu o senso de
corresponsabilidade, onde cada um cuida de si, não se cuida mais do outro.
Parece que se perdeu a ideia de sistema único, de ecologia, de geopolítica. É
cada vez mais patente que apesar de estarmos num mundo profundamente
interligado (pelo menos esse fato positivo!) nós agimos como se nossas ações
fossem isoladas. Essa consciência ética que temos, meu amor, se não se tornar
mais geral certamente nos afundará a todos em um poço de egoísmos.
Deixamos a
responsabilidade social para nossos governantes fazerem caridade, quer dizer,
humilhar ainda mais quem já está humilhado. Não conseguimos estabelecer
parcerias uns com os outros. Reinamos um império de desconfiança. E sabemos que
preço alto pagamos por confiar. Embora saibamos que não importa o preço, é
sempre melhor para o todo estabelecer um sistema de confiança. E morremos senão
da fome de alimentos, da fome de compreensão, da fome de carinho, sobretudo da
fome de fraternidade se continuarmos a viver nesse império de desconfiança.
É claro que
estaria provavelmente perdendo meu tempo falando isso se fosse com outra pessoa
porque já não nos importa o outro, sobretudo se não o conhecemos. Já não temos
mais laços. Já não temos o sentimento de/da humanidade, o que é muito natural
porque não somos mais humanos, somos indivíduos. Fomos reduzidos a quase
números.
Realmente se
algumas ideias mais avançadas das ciências puxadas pela ecologia buscam
valorizar o todo, e não as partes como queria Descartes, fico muito alegre com
isso, pois, apesar de aumentar a nossa responsabilidade, valoriza o que há de
mais humano em nós: a fraternidade. No dia em que cada ser humano decidir
cuidar de si, dos próximos, do meio-ambiente circunvizinho, do seu continente e
do mundo, cada um a sua vez e ao mesmo tempo, teremos tempos memoráveis.
Ah se todo ser
humano pudesse ter tempo para analisar as suas atitudes, pudesse refletir suas
ações, concebe-las em todo um raio de influência. Pudesse analisar o outro sem
preconceitos ou com o mínimo deles já que não é possível analisar sem um
conceito anterior. Pudesse mergulhar nas intenções suas e dos outros. Pudesse
ser humilde o bastante para aprender com as situações. Mas já que como individuo,
número, não pode, não desisto... mas até outra... continuemos a lutar...