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quarta-feira, 14 de maio de 2025

Por uma "ligião"

 


Há pouco na páscoa comemoramos a data onde o Deus do puro amor, o Deus do Novo testamento, Jesus Cristo se fez homem. O mesmo Deus amoroso e misericordioso que resumiu as 10 leis mosaicas a apenas duas (duas leis de amor): “(...) Ame ao Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda sua alma, e com todo o seu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Ame ao seu próximo como a si mesmo. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos” (Mateus 22, 37-39). Ou seja, determinou que a autoridade de todos os demais mandamentos como dos demais ensinamentos cristãos baseiam-se nos mandamentos do amor, como são conhecidos os dois primeiros mandamentos.

O amor é sentimento mais coligativo, agregador, mais político que existe (você sabe que falo do que entendemos classicamente por política). No entanto, vemos hoje em dia que as denominações religiosas promovem justamente o contrário disso, sobretudo por evocarem a verdade para si, quando o próprio Deus que se fez homem afirmou em João 14,6: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”, o que não deixa nenhuma dúvida possível de que a verdade esteja no Nazareno e, que, portanto, não possa ser atributo de nenhuma religião cristã em particular, pois seria um contrassenso, um desrespeito justamente a quem lhes deu sentido.

Mas infelizmente, o problema da tentativa de ligar a Deus o que já nasceu ligado e que foi religado duplamente pelo sacrifício do filho, do cordeiro de Deus, e por pentecostes, quando o Espírito Santo vem habitar o mundo, é muito mais grave, pois provoca todos esses problemas já citados, e muitos outros, ao tentar religar o que já está ligado.

As religiosidades primitivas e até algumas do começo da história, na era escravagista, não diferenciavam o religioso do profano. Não separavam um mundo sagrado de um mundo mortal e chinfrim, quem fez isso foram as religiões "ocidentais" como conhecemos: as cristãs, árabes, judaicas, espíritas e espiritualistas também de certo modo ao se abastecer das outras. Inicialmente ninguém pensava que necessitava parar sua vida para em instante separado cultuar a uma deidade. Viver já era o ato em si. A religiosidade, os cultos, já estava implícita nas regras cotidianas quando se admirava o céu ou as estrelas ou o Mar Vermelho por exemplo.

O divino que estava dentro dos homens não necessitava ser explicado como, por exemplo, pela terceira pessoa da trindade: o Espírito Santo. Todos tinham plena consciência de ter algo divino dentro de si, ainda que não fosse uma definição perfeita, pois a maioria o tinha como algo separado como corpo e alma. Alguns povos, sábios em sua simplicidade não faziam quaisquer diferenciações. Esses povos não eram necessariamente o que os filósofos modernos chamariam de os mais primitivos. Povos como os Bretões, embora cultuassem divindades que algumas vezes viviam em mundos separados, algumas vezes só em reinos, não diferenciavam sua condição divina da condição profana.

Creio que eticamente, é muito ruim separar a crença do ato influenciado por ela. Na verdade, se conseguíssemos nem diferenciar ato e crença seria melhor ainda. Digo se a crença fosse também considerada um ato. A diferenciação entre a teoria, a fé, o pensamento e a prática é a maior causa da hipocrisia e, justamente por isto que muitos religiosos são profundamente hipócritas, embora muitas vezes até sejam imersos pelas melhores intenções.

Se religião é religar, não faz o menor sentido que as religiões, nascidas no oriente médio e, predominantes no ocidente, se esforcem tanto para diferenciar e separar os mundos da vida espiritual e material. Não existem dois mundos, o mundo é e sempre foi um só, fomos nós que por efeitos metodológicos os separamos como se alma vivesse sem corpo ou corpo sem alma. Corpo e alma, razão e emoção são uma coisa só. Nós apenas insistimos em separar a clara da gema, como se não fosse um ovo só. Seria injusto se eu não dissesse que os primeiros cristãos tinham uma ideia de religiosidade imanente, embora Deus não estivesse num mesmo plano que os homens, mas com a institucionalização das religiões cristãs tudo se perdeu e o maniqueísmo simplificador se fortaleceu.

Todo o maniqueísmo simplificador deveria ser negado pelos homens, os quais longe desse grande problema viveriam a natural e intensa ligação com Deus e experimentariam diretamente todo o seu amor. Sem a necessidade de religar, nunca precisaríamos nos desligar do que há de mais precioso em nós: nossa ligação com o Divino. Assim poderíamos ter muitas e sinceras Ligiões, embora eu acredite que no fim das contas haveria uma só, pois haveria um único objetivo: curtir a graça de sua ligação a Deus.

O sabiá sabia assobiar

  Assim cantou o sabiá Como sempre Sabia assobiar Com a melodia assombrar E o ritmo encadear O sol sobe e a lua baixa As estrela...