Num momento em
que, apesar de ciências como a ecologia que põe em evidência a visão sistemática do
todo, ainda é muito forte a exigência de especialização imposta pela técnica
seria muito bom que os pensadores voltassem a ler a Metafisica de Aristóteles.
Sobretudo porque expõe argumentos muito interessantes para sua belíssima e
inusitada tese que deveríamos considerar. O trecho onde destaca que é
preferível o conhecimento geral ao conhecimento específico está logo nas
primeiras páginas de sua obra. O trecho que transcrevo está no livro 1 de a
Metafísica e está demarcada em seus trechos com as marcas 982a1 e 982b1. Assim
versa este:
Tais são em
gênero e numero as opiniões sustentadas quanto à sabedoria e ao sábio. Das
qualidades descritas, o conhecimento de todas as coisas tem, necessariamente,
que pertencer àquele que, no mais elevado grau, possui conhecimento do
universal, porque ele conhece, num certo sentido, todos os particulares
contidos no universal. Estas coisas, quais sejam, as mais universais, são
talvez as de mais difícil apreensão para o ser humano, porque são as mais
distanciadas dos sentidos. Que se acresça que as ciências mais exatas são as
que mais concernem aos primeiros princípios, pois as que são baseadas em poucos
princípios são mais exatas do que aquelas que incluem princípios adicionais;
por exemplo, a aritmética é mais exata do que a geometria. Além disso, a ciência
que investiga causas é mais instrutiva do que a ciência que não o faz, pois são
os que nos informam acerca das causas de qualquer coisa particular que nos
instruem. Ademais, o entendimento e o conhecimento que são desejáveis por si
mesmos são mais atingíveis no conhecimento daquilo que é mais cognoscível, uma
vez que aquele que deseja o conhecimento por si mesmo desejará maximamente o
mais perfeito conhecimento, e este é o conhecimento do mais cognoscível, e as
coisas que são as mais cognoscíveis são primeiros princípios e causas, pois é
através destes e a partir destes que outras coisas passam a ser conhecidas, e
não estes através dos particulares que neles se enquadram. E será a ciência
máxima e superior às subordinadas a que detiver o conhecimento da finalidade de
cada ação a ser concretizada, isto é, o bem em cada caso particular e, no
geral, o bem supremo no conjunto da natureza.
O trecho além
de demonstrar porque o conhecimento do todo é superior ao conhecimento das
partes, pois de certa forma as abrange. Assim quem domina a teoria ao encarar a
prática pode aos poucos não apenas compreender um caso particular, uma
aplicação da ciência conhecida, não com a mesma facilidade de um especialista
naquela subárea, mas pode compreender todas as outras especificamente que seu
conhecimento abrange com muito mais facilidade que um especialista. Outro ponto
fundamental que compensa a leitura é a destinação do conhecimento. Podemos
dizer que Aristóteles é um dos maiores fundamentadores da técnica e da ciência,
mas o fim da técnica para o filosofo estagirita é o bem, que poderíamos
traduzir modernamente em uma de suas acepções como fazer o melhor. Assim
trocaríamos o fim atual (eficiência e produtividade), na qual o foco está
apenas no fim, pelo fazer o melhor, para o qual vale todo o processo, pois
fazer o melhor inclui também fazer melhor.