Walter Benjamin tinha uma ideia sobre a apreensão/representação nas obras de arte muito interessante. Desejo somente explorar um pedacinho dessa percepção. A filosofia se faz muitas vezes pelo obvio que deixou de ser observado ou não é observado. Ele percebe como a representação dos objetos em uma pintura, foto, filme, descrição narrativa tende a perder aspectos/qualidades/atribuições dos objetos.
Digamos uma
foto simples escolhe um ponto de vista e mostra como se está vendo o objeto. Mais
ou menos porque as fotografias não tem acuidade de um bom olho ou por serem
externas sofrem influencias que desajustam. Uma pintura que pretende ser
realista escolhe um ponto de vista, tem dentro de si uma representação do
objeto. Uma subjetividade que acrescenta mais atributos ao objeto. Algo que
deixa menos vazio, descaracterizado.
Uma descrição
narrativa emerge em subjetividade mais claramente que as outras. As outras
também estão banhadas, mas não tão objetivamente. A descrição está tão cheia de
subjetividade que pode mostrar a essência do objeto para o autor da obra
permitindo, inclusive, que o leitor capture outra essência. De toda forma, a
representação é redutora. Não pode mostrar tudo. Os aspectos são escolhidos. É impossível
passar a integralidade do objeto. Mas evidentemente são escolhas subjetivas. Mesmo
que fosse possível mostrar a integralidade, o autor provavelmente preferiria
mostrar seu ponto de vista, sua interpretação do objeto.
O autor pode
mostrar a essência do objeto, a negação do objeto, pode “desobjetificar” o objeto,
mas não pode escapar de fazer escolhas. Mostrar algumas coisas, esconder
outras. Pode até negar escolhas, o que é uma decisão. Desse modo toda obra são
cortes da realidade ou da negação da realidade ou da relação com a realidade. Nunca
a realidade em si, sobretudo no que deseja ser verossímil.