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terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Sobre a arte e as hermenêuticas



A arte é muito mais eficiente ao capturar (ou ser capturada) pelo Zeitgeist (o espírito do tempo).  Portanto contar a história geral, humana, dita universal pela arte dos povos, grupos, nações parece ser uma abordagem muito mais rica, plural e sujeita a mais interpretações e mais erros. Quanto mais é possível errar, melhor é o método. Como assim seu idiota??? Você diz que o método menos rigoroso é melhor??? Não!!! Que métodos abertos são melhores que fechados.

 Não é possível descobrir uma verdade quando se sabe há pelo menos um séculoBa que as verdades são particulares. Que as ditas “verdades universais” são verossimilhanças consensuadas, algo que nos dá chão pra pisar. Estar próximo ou muito próximo da verdade é melhor que se prender a fantasias como se fossem realidades. Então você quer dizer que dois mais dois igual a quatro não é uma verdade? É sim. É uma verdade analítica, que é uma autoproclamação: só garante a si mesma.

Não era o propósito, mas estico: duas bananas mais duas laranjas são quatro frutas. Duas mangas mais duas jaboticabas igualmente. Duas bananas e duas laranjas são iguais a duas mangas e duas jaboticabas? As situações, os sujeitos, as interações mudam a reação. Usei uma lógica física ou química. Nem sociologia, nem filosofia, porque para essas é muito mais óbvio. Para qualquer hermenêutica, tudo é muito susceptível.

Textos se tornam eternos porque podem ser reinterpretados. Universais também porque a tradução permite ultrapassar realidades dispares entre as línguas. Não há fidelidade nenhuma nisso. Há a lealdade possível. Para isso há a verossimilhança de criar metáforas e metonímias para mudando tudo mostrar os aspectos primordiais do texto que se julga que deveriam ser preservados.

Somente a arte consegue numa mesma obra se dizer e desdizer do modo de sua época. Mostrar os conflitos não como discurso, as vezes nem como descrição, mas como narrativa. A narrativa do conflito é muito mais complexa: mocinho não é mocinho, nem bandido é bandido. Sem defender um ou outro, em muitas situações fazem o inverso. Na maioria, não é muito claro quem é quem. Salvo os casos limítrofes, as pessoas tendem a variar entre um ou outro, virtuoso e desvirtuado com frequência e precisam de uma narrativa para se estabelecerem como mocinho ou bandido. As melhores obras são as que não tem nem mocinho, nem bandido.

Quanto mais uma obra é particular, tem as dores, os prazeres, o espírito de seu tempo, mais ela é universal. A obra mais universal é a que explora a singularidade, as dores do individuo em seu tempo porque por mais que seja subjetiva (e, portanto, limitada) será lida por sujeitos que se identificarão. Quando se diz que o sertão, a vila isolada é o mundo é uma verdade porque mostra os aspectos essenciais. Embora as metrópoles mostrem muito mais o mundo que é intrinsecamente interligado. Essa é uma visão geral, panorâmica que não alcança as especificidades.

As narrativas particulares (escritas, pintadas ou cantadas) mostram lugares, épocas, ambientes que não vivemos, mas tem maior verossimilhança com nossa realidade do que textos que tentam descrever ou dissertar sobre o real. Não há verdade, mas verossimilhança graça por todo o lado. É muito mais completo descrever uma goteira numa poesia que num relatório técnico. O ultimo tem a virtude ser objetivo, mas deixa escapar quase tudo do que é uma goteira.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

O perigoso ato de escrever

     


    Nada mais perigoso hoje em dia que pretender se fazer entender. Os comunicadores infelizmente não sabem disso. Acreditam numa teoria tola baseada na racionalidade. Jornalistas acreditam que é possível repassar informações ou opiniões sem que estas sejam submersas no ambiente próprio ou de todos que intervieram no texto, seja como sujeitos, seja como objetos. Publicitários acreditam que podem influenciar os leitores a terem os comportamentos esperados. Mas esquecem o que Nietzsche disse aos positivistas: "Contra o positivismo que permanece parado junto ao fenômeno afirmando: ‘Só há fatos’, eu diria: não, justamente fatos não existem, apenas interpretações. Não estamos em condições de fixar nenhum fato ‘em si’: talvez seja mesmo um disparate querer algo assim. Vós direis então: ‘Tudo é subjetivo.’ Mas isto também já é interpretação: o ‘sujeito’ não é nada dado, mas acrescentado através da imaginação, inserido aí por detrás. – Ainda é necessário afinal colocar o intérprete por detrás da interpretação? Um tal ato já é poetização, hipótese. Uma vez que a palavra ‘conhecimento’ possui antes de mais nada um sentido, o mundo é passível de ser conhecido: mas ele pode receber outras significações. Ele não possui nenhum sentido por detrás de si mesmo, mas inumeráveis sentidos".

    Nietzsche está certo? Não sei. Sua própria filosofia o impediria de dizer isso. Na verdade, me impediria de ter a certeza de estar sendo fiel ao que ele disse. Também não é o meu interesse discutir se Nietzsche estava certo ou não. Se minha leitura é a correta ou não. Pouco importa. Minha convicção, que não posso garantir que é verdadeira é de que a obra é a leitura feita pelo leitor. Não o que escreveu o escritor ou a mancha gráfica no livro. Já alerto: bastante discutível como tudo que encontraremos aqui. E que bom que é discutível! Pois é justamente o que pretendemos fazer aqui discutir, dar impulso a discussões.

    Ainda não cheguei ao que desejo propor com o texto. Bom... mas já é um bom pressuposto. Vamos ao problema concreto que lhes proponho com um exemplo inicial: Imaginem que um grande entendido em algum filosofo ou literato escreva um texto onde tente simplificar pra tornar compreensível qualquer teoria e o faça com maestria, enfatizo com grande sucesso. Consegue, tipo, explicar o primeiro capítulo de fenomenologia do espírito de Hegel em poucas páginas, talvez até mais páginas que tem o supracitado capítulo. Há teses volumosas sobre esse primeiro capítulo ou mesmo sobre o primeiro ou segundo paragrafo do mesmo.

    Imaginem, não é preciso muito esforço, pois todos fazemos isso, que alguém leia o texto explicativo do tal gênio que conseguiu explicar magicamente o texto de Hegel e preencha todos os espaços vazios ressignificá-lo na mente ou torná-lo plenamente compreensível. O texto não será mais do autor ou do livro, mas do leitor que baseado em suas experiências e compreensões imprimiu novos significados ao texto. O leitor pode ter entendido plenamente a síntese feita pelo nosso genial escriba. Pode não ter deturpado nada das teses propostas pelo escritor ou pelo texto, mas as tirou de um ambiente e o colocou no meio dele no qual flutuam suas experiências e convicções. 

    Por isto que eu digo será de imensa coragem, quiçá temeridade escrever aqui. Escrever é colocar a cara à tapa não pelo que escreve. Todos nós estamos dispostos a assumir nossas convicções. Mas pelo que os outros entenderão de nossos textos. Numa época em que a hermenêutica é tão maltratada pela falta de leitura. Em que leitores de interpretes julgam ter certeza sobre obras. A certeza que sequer seus autores tiveram. Uma época em que simplificadores canhestros ou funestos deturpam teorias que por vezes desmentem a própria leitura ou pensamento do autor ou sua escola ou época. Uma época em que as florestas não são preenchidas sequer por unicórnios, que apesar de fantasiosos viveriam bem em solo, mas por cachalotes ou orcas simplesmente porque estas existem.

    Repito, nesta época de péssimos leitores. brindo a coragem ou destemor de quem redige. Talvez seja necessário pensarmos que a educação do futuro se funde na exigência moral e fundamental da leitura. Prioritariamente dos autores e depois dos bons interpretes. Não estou me referindo a filosofia, mas a literatura como o todo. Pois não há base maior para o pensamento que toda a literatura. Só a leitura de boas obras pode nos conduzir a uma boa de todo o resto. Ler criticamente o mundo talvez seja a única tarefa que nos sobra. Para ser mais claro, não ser conduzido, seduzido pela facilidade das leituras alheias. É preciso lutar para ter a nossa, mesmo que possa se considerar impossível. O sujeito, mesmo que tenha se tornado para muitos de nós um conceito morto, deve ser o nosso horizonte: a autonomia.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Incoerências

 


Hoje pensei em expor-lhe uma das contradições que acho mais interessante nas ciências sociais que norteiam nossas ciências humanas e boa parte da filosofia atualmente. O problema torna-se maior no momento em que os problemas afetam a compreensão da história. Todas as ciências hoje, mesmo as naturais e principalmente as humanas, são consideradas históricas, ou seja, ligadas a seu tempo e as contingencias do momento.

Tu bem sabes que Emile Durkheim, um funcionalista, um dos mais eminentes deles, pois fundou a sociologia cientifica moderna, acreditava que a sociedade era um sistema em equilíbrio. Também não ignoras que Hegel acreditava que a história apesar da dialética, do conflito de movimentos opostos, tinha um caráter progressista e positivo, tinha um espírito, um rumo certo. E que o próprio Karl Marx era fatalista quanto a historia. Claro... Inspirou-se em Hegel (leu ao contrário a dialética, mas se inspirou). Acreditava que o fim natural do capitalismo como regime que se autodestrói seria o comunismo.

As visões dominantes da história se consideram esta mesma fruto da ação humana, nada mais natural, também tem uma visão determinística ou fatalista em sua base. Espinosa em sua religiosidade mundana também impunha um certo fatalismo, mas desta vez solidamente construído, pois está imerso ao próprio mundo. O que aprendemos, estudamos ou cremos sobre a história é exatamente o contrário: a história é feita pelos homens desde a Grécia Antiga, onde havia a intervenção dos deuses, mas a história era humana ainda. Vale destacar que nós humanistas, que acreditamos no livre arbítrio, no trabalho como construção do mundo, embasamos nossas teorias em paradigmas que são conservadores (o funcionalismo) ou fatalistas (dialética positiva de Hegel ou negativa de Marx).

Portanto se o materialismo histórico ainda fundamenta as principais teorias históricas, sociológicas, antropológico-culturais e por mais que o marxismo original tenha crescido ou se modificado com Antônio Gramsci ou com os Frankfurtianos, ainda sobra certo fatalismo de Marx. Como sobra certo conservadorismo de Durkheim em quem melhor juntou as teorias sociológicas modernas e as disciplinou coerentemente: Max Weber.

Quer dizer, sem dúvida somos todos induzidos a acreditar coerentemente na única tese aprazível ou possível que é a de que nós fazemos a história a cada momento de nossa vida, mas toda a base das teorias que fundamentam nossa ciência crê num destino... Curioso isso. Não?

quinta-feira, 1 de maio de 2025

História e Liberdade

 


Muitas vezes discutimos sobre nossa percepção de mundo e contrapomos nossas pequenas diferenças de visão sobre os assuntos mais importantes (e, portanto, histórico-socialmente vitais). Tomamos algumas vezes o mesmo caminho para chegar a conclusões diferentes. Na maioria das ocasiões, caminhos diversos para chegar a conclusões muito próximas, quando não rigorosamente a mesma.

Um assunto quase nunca discutido diretamente, mas que permeou necessariamente nossas conversas, até porque já conversamos sobre Platão, Spinoza, Karl Marx, Imanuel Kant, Hegel, Antônio Gramsci, Hannah Arendt, Adorno, Habermas, foi a questão de como, por quais meios e sob quais limitações o homem faz a história. A ressurreição da filosofia grega, Cornélio Castoriadis, no livro A instituição imaginária da sociedade, nos fornece bons dados sobre uma perspectiva marxista para essa discussão. Segundo ele, “é certo que a consciência humana, como agente transformador e criador na história, é essencialmente uma consciência prática, uma razão operante-ativa, muito mais do que uma reflexão teórica, à qual a prática seria anexada como o corolário de um raciocínio e da qual ela somente materializaria as consequências. Mas essa prática não é exclusivamente uma modificação do mundo material, ela é também, ainda mais, modificação das condutas dos homens e de suas relações. O Sermão da montanha, o Manifesto comunista pertencem à prática histórica, tanto quanto um invento técnico, e pesam, quanto a seus reais efeitos sobre a história, com um peso infinitamente maior” (CASTORIADIS, 1982, p.33).

Claro para aceitar todo esse poderio do homem sobre a história, necessariamente somos obrigados a aceitar uma dialética histórica, concepção com que Hegel revolucionou a filosofia ao introduzir a contingência histórica ao subjetivismo de Kant. Estava criado o sujeito histórico. Obviamente a dialética como motor da história é outro fato extremamente relevante. Castoriadis também a explica, destacando a importância de Hegel em Marx: “Existe uma dialética da história que faz com que os pontos de vista sucessivos das diversas épocas, classes, sociedades, mantenham entre si uma relação definida (mesmo se muito complexa). Eles obedecem a uma ordem, formam um sistema que desdobra no tempo, de maneira que o que vem depois ultrapassa (suprime conservando) o que estava antes. O presente compreende o passado (como momento “superado”) e por isso pode compreendê-lo melhor do que esse passado compreendia a si mesmo. Essa dialética é, em sua essência, a dialética hegeliana; o que era para Hegel o movimento do logos, torna-se em Marx o desenvolvimento das forças produtivas e a sucessão de classes sociais que marca suas etapas não tem, em relação a isto, nenhuma importância. Num e noutro, Kant “ultrapassa” Platão e a sociedade burguesa é “superior” à sociedade antiga. Mas isso assume importância em relação a outra aspecto – e é este o segundo termo do movimento. Precisamente porque esta dialética é a dialética da aparição sucessiva de diversas classes na historia, ela não é mais, necessariamente, infinita de direito; ora, a análise histórica mostra que ela pode e deve se completar-se com o aparecimento da “última classe”, o proletariado” (CASTORIADIS, 1982, p.48 e 49).

Necessariamente debatemos também a liberdade, pois com exceção de Baruch Spinoza, todos os outros concebem a história como terreno da liberdade. Para isto, após décadas em que foram muito melhor lidas as críticas de Marx a Hegel, Castoriadis mostra como a concepção de liberdade inunda o pensamento de ambos: “O hegelianismo como podemos em verdade ver, não está ultrapassado. Tudo o que é e tudo o que será real, é e será racional. Que Hegel pare esta realidade e esta racionalidade no momento em que aparece sua própria filosofia, enquanto que Marx as prolonga indefinidamente até e inclusive a humanidade comunista, não enfraquece o que dizemos, antes o reforça. O império da razão que, no primeiro caso, englobava (por um postulado especulativo necessário) o que já está dado, estende-se agora também a tudo o que poderá ser dado na história. O fato de que o que podemos dizer desde agora sobre o que será torna-se cada vez mais vago na medida em que nos afastamos do presente, provém de limitações contingentes de nosso conhecimento e sobretudo de que se trata de fazer o que há por fazer hoje e não de “dar receitas para as cozinhas socialistas do futuro”. Mas esse futuro está desde já fixado em seu princípio: ele será liberdade, como o passado e o presente foram e são necessidade” (CASTORIADIS, 1982, p.56)

(CASTORIADIS, Cornélius. A instituição imaginária da sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1982)

sábado, 19 de abril de 2025

A ética, a política e a história pessoal

 


As histórias pessoais são em última análise a base da história universal, a história mais ampla que existe, menos previsível e mais importante porque constitui o ambiente para todas as outras. Como já dissemos, é praticamente impossível prever como se encaixa e que resultado as ações individuais, ou a interação destas, tem na história universal. Mas quanto menor o âmbito da história, mais previsível é o resultado das ações. Como se fossem experimentos: quanto mais numerosos e mais fortes os limites mais determinados são os resultados destes.

Assim, determina-se a importância da ética como a parte da consciência que está sempre ponderando para alcançar o maior bem comum ou bem público. Toda ação na história pessoal, ou na história dos indivíduos ou história individual tem uma consequência direta previsível, embora não determinada. Assim avoluma-se a importância de agir bem. Aí entra a ética tão esquecida.

É verdade que a ética hoje é muito mais pragmática que bem intencionada. Natural numa sociedade em que os fins valem muito mais que os princípios. Assim uma ética da responsabilidade se torna imprescindível para mudar a história. É óbvio também que não podemos deixar para trás nossos princípios. Boa parte deles são inegociáveis por natureza, pois inobservados fatalmente a civilidade descambaria para a barbárie. Creio, na verdade, ser inexistente esse maniqueísmo pregado entre as éticas de convicção e de responsabilidade. É possível e desejável satisfazer as duas.

Agir bem não significa somente ir para as ruas lutar por direitos ou cumprir deveres. A conduta ética se define em cada ação, em cada interação. Por isso a ética é companheira inseparável da política para Sócrates, Aristóteles, Hannah Arendt ou Jüngen Habermas. Assim, o homem político não pode deixar de agir no mundo observando e refletindo sobre seus atos. Se aperfeiçoando para agir melhor. Carregando o fardo de em sua história pessoal criar as melhores peças possíveis do grande quebra-cabeça que será a história universal.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

A pequena e a grande história

 


Toda a história do mundo não é composta por grandes atos isolados. Toda a história é fruto de uma contingência histórica anterior. Nada de grandioso acontece sem que se tenha criado um ambiente para o seu aparecimento. Por isso, insisti tanto nos primeiros minutos de hoje no longo texto sobre a dialética histórica. Sobre a ideia de que a síntese histórica é um efeito particular de seus termos anteriores: tese e antítese. Pode ser explicado por estes, mas não como uma adição, mas como uma reação química sobre a qual pouco se conhece dos reagentes e muito menos do ambiente.

A grande história é composta por centenas, talvez milhares, de pequenas historias. As historias individuais interferem à sua maneira nas histórias dos grupos, as dos grupos no das sociedades. Histórias menores são costuradas de maneiras particulares nas historias maiores. Por essa razão toda ação é histórica. Toda reação também o é. Mas o papel ocupado por cada historia menor nas maiores é sempre imprevisível, dado a enorme quantidade de variáveis que tornam imprecisa as análises.

Dessa limitação surge a ideia idealista do espírito da história em Hegel, prontamente refutada por Karl Marx que cai num mesmo fatalismo de Hegel por esse excesso de crença na na racionalidade instrumental. A mesma crença no progresso de Hegel, metamorfoseada num novo esclarecimento  levantamento da massa proletariada criada pelas condições históricas da iminente crise do capitalismo. A crença no progresso de Hegel chegava no fim da história. A de Marx, no fim do capitalismo: o Comunismo.

Mas, pouco importam essas considerações. O importante mesmo é a validade ética de devemos agir pelo bem do todo porque embora desconheçamos os efeitos históricos a médio prazo, sabemos que fizemos a nossa parte e do que depender de nossa pequena história, influenciamos a grande história dentro da nossa capacidade, para obter os melhores resultados possíveis de acordo com as circunstâncias existentes. Assim, a política é o ato público, é interação, sabes que somente a ação pode modificar a história.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Uma crise inevitável?

 


Vivemos em um mundo que valorizou excessivamente a ideia de indivíduo, a noção de sociedade. Uma sociedade ilimitada de fato. Não há melhor definição para um empreendimento onde os sócios não são conhecidos e nem se conhecem ou interagem (como pede uma boa política). Não há ideia melhor para coordenar as ações isoladas de seres que inexistem para os outros que a ideia da mão invisível de Adam Smith. Alguma coisa tão imperceptível como o espírito da história de Hegel a organizar as ações para o melhor proveito do sistema, digo, do empreendimento, ou seja, da sociedade, porém muito menos explicável.

Não bastasse isso, como uma sociedade financeira e financista, tudo é orientado para o consumo. Absolutamente tudo é consumido. Nada escapa à missão de satisfazer desejos, numa espécie de pesadelo budista, onde como previa Sidarta Gautama, um desejo leva a outro e o outro a um novo, numa cadeia infinita de desejos, felicidade instantânea e uma eterna insatisfação por não alcançar nunca o último desejo. E nós consumimos tudo: coisas, sentimentos, pessoas, ideias, descanso, lazer, etc. Tudo dentro da lógica Aristotélica de que o único fim-em-si é a felicidade, mas com o adendo de que esta nunca pode ser alcançada pelo espiral de desejos.

Num mundo que nos anula, nos reifica, nada mais natural de que não possa se falar de humanidade. Sem humanidade, fica impossível existir o humanismo. Talvez seja melhor num mundo como esse desistir do conhecimento, fixar-se apenas nas informações. Esquecer a ontologia, a ética e a epistemologia e nos ligarmos na cibernética, pois só importa a informação. O conhecimento e a reflexão não cabem mais nesse mundo de inputs e outputs.

Sem humanismo, sem humanidade, atormentado pela reificação e pelo niilismo, o “homem” encontra-se perdido, totalmente sem parâmetros. Sobretudo num mundo rápido em que a técnica toca o mundo na sua velocidade e arrasta os homens, que em nenhum momento param e pensam: “poxa, eu sou um homo ludens. Sou eu que faço a história e sou feito por esta. Não fatores estranhos às minhas interações”. Num mundo estranho desse, o “homem” se sente completamente inadequado. Não há mais base nenhuma para seus pensamentos. Nenhuma garantia. O sistema funciona independente dele. O que ele faz no mundo? Qual a sua missão? Que importância tem? Toda a personalidade, de persona, pessoa, é perdida.

Sobra ao ser humano uma crise de personalidade. Ele acredita ser algo, mas a todo instante o mundo lhe mostra que ele não é nada. Ele pensa em coisas bonitas. Tem convicções utópicas da época do humanismo, acredita ser gente. Mas isso pouco importa. Assim estão criadas as condições da crise perpétua. Uma crise de personalidade que se funda ora na inadequação, quando o ser acredita ser algo ainda, ter personalidade. Ou na anulação, quando o ser descobre que sujeito a quase tudo ele está, mas um sujeito ele não é, pois perdeu sua subjetiva ao se transnaturar de animal pra coisa, instrumento.

A humanidade, com todas as evidências contrárias insiste em refletir. Que bom! Mas pensar é justamente o bom contrassenso que a deixa em crise. Sorte que a crise é o terreno da filosofia e esta é um dos únicos domínios que a subjetividade pode existir ainda. Pensemos e ultrapassemos a crise existencial e talvez voltemos a ser humanos.

quinta-feira, 27 de março de 2025

A lei como forma

     


     Hegel, um dos mais notáveis filósofos que conseguiram explicar a modernidade e o liberalismo que a cria, viveu numa época em que a maioria dos regimes eram absolutistas, a maioria tirânicos. Ou seja, as decisões do estado eram subjetivas. Uma pessoa poderia morrer por uma birra de um adolescente (um adulto infantilizado ou até uma criança mesmo).  Por isso, Hegel tem uma grande devoção pela burocracia moderna, um conjunto de regras impessoais. Quer dizer, teoricamente ficaríamos livres do despotismo da emoção. É verdade que não ficamos livres da pessoalidade e que nenhuma fase histórica fica livre de resquícios da outra.

    Essa ideia de que regras neutras e objetivas poderiam administrar melhor o mundo é a marca do estado moderno com suas constituições e direitos compartimentados, civil, público, penal, etc. Até mesmo as regras não escritas, que sempre existiram, mas que se tornaram vitais apenas com o surgimento da sociedade civil, o para além do Estado. Nos despotismos, quase tudo ou tudo é Estado.

    Raras pessoas refletiram como Kafka sobre essa realidade. Sobre a lei, a justiça (que abarca o poder judiciário, mas vai muito além dele):

              A teologia negativa ou da ausência, a transcendência da lei, a priori da culpa são temas recorrentes em muitas interpretações de Kafka. Os textos celebres do Processo (e também da Colônia penal e da Muralha da China) pressentem a lei como pura forma vazia e sem conteúdo, cujo objeto permanece irreconhecível; a lei não pode, portanto, enunciar-se a não ser em uma sentença; e a sentença não pode se apreender senão em um castigo. Ninguém conhece o interior da lei. Ninguém sabe o que é a lei no interior da Colônia; e as agulhas da máquina escrevem a sentença no corpo do condenado que não a conhecia, ao mesmo tempo em que elas lhe infligem o suplício. “O homem decifra a sentença com suas chagas”. [...] Kant fez a teoria racional do reviramento, da concepção grega à concepção judaico-cristã da lei: a lei não depende mais de um Bem pré-existente que lhe daria uma matéria, ela é pura forma, da qual depende o bem como tal. É bem o que enuncia a lei, nas condições formais em que ela mesma se enuncia. (DELEUZE, 2004. p. 81 e 82).

     Kafka mostra como a burocracia, as regras escritas ou não escritas ocupam todos os espaços na modernidade. Disciplinam a convivência e permitem a racionalização do Estado e a existência da sociedade civil. Mas acabam se espalhando para todos os espaços, inclusive as relações mais intimas. Principalmente como essa necessidade de ocupar todos os espaços e a dificuldade de se adaptar às particularidades faz com que as regras se tornam vazias tendo apenas forma, fórmula. Como não há conteúdo, não existe argumento pra contraditar

segunda-feira, 17 de março de 2025

O que somos?


   

O Renascimento e o Iluminismo nasceram centrados na figura do sujeito. Um sujeito ainda muito limitado no Renascimento, mas reivindicando bastante autonomia no Iluminismo, sobretudo na sua primeira fase de Kant a Hegel, da Crítica da Razão Pura (1781) à Fenomenologia do Espírito (1807). Um curto período, mas que perpassou todo o século XIX. Só em meados do século XIX começamos a pensar na modernidade tardia com Nietzsche, com Marx (1818-1893), Nietzsche (1844-1900) e, principalmente Freud (1856-1939). Começa e desconstrução da razão autônoma e, por consequência, do sujeito nos moldes do Iluminismo.

  Um fenômeno que nunca cessou de se auto-alimentar. O sujeito foi constantemente desmontado. Foi progressivamente alienado como Marx e Nietzsche denunciam de maneiras diferentes. Mas sobretudo desmontado e reconstruído seguida e constantemente como objetos diferentes (ou maquinas diferentes, como preferiria Deleuze). A modernidade ou o capitalismo foi progressivamente tomando os indivíduos por suas funções. José não é um semita ou um religioso. Também o é. Mas é sobretudo um carpinteiro. Tiago e João não são pregadores, nem viajantes, são pescadores. Cito exemplos religiosos da antiguidade para ser questionado justamente. Lá não havia essa demarcação, essa percepção. Mas na era moderna inegavelmente as pessoas perderam sua individualidade (no sentido de serem únicas) passaram a ser sobretudo o que fazem.

  Seu trabalho passa a ser o que são. E ser ocupa toda a existência. Não importa se adotemos uma ontologia antiga, medieval ou moderna. Ser ou Dasein. Não importa se fujamos para o existencialismo. O sujeito foi desmontado. Não há um ser-em-si, talvez nem um ser em relação à. Somos todos particularmente iguais no que nos é imposto de fora pra dentro, sobretudo por nós mesmos. Um poeta vive a sua vida captando signos. Um ferreiro a observar colunas ou outras coisas que desconhecia sobre seu oficio ou que poderia fazer melhor do que foi feito. Um jornalista na eterna angústia por acontecimentos ou desdobramentos. O oficio ultrapassa o período trabalhado e invade a vida. Tanto a pessoa (pessoa?) não se vê mais como uma razão autônoma, um sujeito no mundo, como os outros indivíduos também não o veem. Esclarecedora é uma passagem de Deleuze sobre Kafka:


   Se a calderaria, contudo, não é descrita por si mesma (o barco, aliás, é preso), é que jamais uma máquina é simplesmente técnica. Ao contrário, ela só é técnica como máquina social, tomando homens e mulheres em suas engrenagens, ou, antes, tendo homens e mulheres dentre suas engrenagens, não menos que coisas, estruturas, metais, matérias. Bem mais, Kafka não pensa somente nas condições de trabalho alienado, mecanizado, etc.: ele conhece tudo isso de muito perto, mas seu gênio é considerar que os homens e mulheres fazem parte da máquina, não somente em seu trabalho, mas ainda mais em suas atividades adjacentes, seu descanso, seus amores, seus protestos, suas indignações, etc. O mecânico é parte da maquina, não somente enquanto mecânico, mas no momento em quede cessa de sê-lo. [...] A máquina não é social sem se desmontar em todos os elementos conexos, que fazem máquina por seu turno. [...] É que a máquina é desejo, não que o desejo seja desejo da máquina, mas porque o desejo não cessa de fazer máquina da máquina, e de constituir uma nova engrenagem ao lado da engrenagem precedente, indefinidamente, mesmos essas engrenagens parecem se opor, ou funcionar de maneira discordante. O que faz máquina, falando propriamente, são as conexões, todas as conexões que conduzem a desmontagem. [DELEUZE, 2024. p.147 e 148]

domingo, 16 de março de 2025

Tem dia que é noite

 


Engels diz que "a história é o mundo das intenções inconscientes e dos fins não desejados" (CASTORIADIS, 1982, p.59). Essas afirmações colocam a história no escuro, ao sabor de um acaso não determinável. Mostra toda a herança hegeliana em Marx e Engels, praticamente ratificando o famoso Espírito da História, que dialeticamente "dá uma vida própria à história".

Portanto, "o hegelianismo como podemos em verdade ver, não está ultrapassado. Tudo o que é e tudo o que será real, é e será racional. Que Hegel pare esta realidade e esta racionalidade no momento em que aparece sua própria filosofia, enquanto que Marx as prolonga indefinidamente até e inclusive a humanidade comunista, não enfraquece o que dizemos, antes o reforça. O império da razão que, no primeiro caso, englobava (por um postulado especulativo necessário) o que já está dado, estende-se agora também a tudo o que poderá ser dado na história. O fato de que o que podemos dizer desde agora sobre o que será torna-se cada vez mais vago na medida em que nos afastamos do presente, provém de limitações contingentes do nosso conhecimento e sobretudo de que se trata de fazer; o que há por fazer; hoje e não de "dar receitas para as cozinhas socialistas do futuro". Mas esse futuro está desde já fixado em seu princípio: ele será liberdade, como o passado e o presente foram e são necessidade" (CASTORIADIS, 1982, p.56).

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Iluminismo, Contracultura e Hippies

    


 

   O que eu vou escrever aqui pode ser pura besteira embora minhas argumentações sejam bastantes razoáveis e alguns contextos inquestionáveis. O Iluminismo foi responsável por uma cultura de devoção à razão. Esse culto à razão compreendia dos desdobramentos bastantes contraditórios: 

- uma ideia de razão instrumental, uma razão que faz desenvolver o mundo, cujo o grande exponente é Hegel, um filosofo que nunca falou dela diretamente mas explicou o desenvolvimento da historia até a idade moderna, a derradeira e última pelo desenvolvimento da racionalidade, da razão aplicada ao mundo.

- a própria ideia da razão geral, muito bem explicada por Kant, o qual em sua apologia á razão acreditava que poderia significar até a paz perpetua, o fim das guerras.

    Portanto, uma razão difusa, uma razão que domina, explica o mundo e uma razão individual que raciocina pondera a ação no mundo. Ou seja, uma que instrumentaliza, extrai e suga o melhor do mundo para o conforto da humanidade. Outra que pondera, busca uma justiça. A primeira justifica guerras por recursos naturais. A segunda abomina disputas injustificadas. Guerras causam mortes e a vida humana, o ser  humano é o centro do iluminismo.

    Deste modo é curioso como podemos acreditar que a contracultura desde os beatniks, passando pelo movimento por direitos até os hippies foi influenciada pelas ideias de Kant. A ideia individualista da maioridade moral como pensar por si mesmo, ou seja refletir, não aceitar verdades evidentes sem refletir permitiu que as pessoas saíssem da sociedade, questionassem seus valores.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Duas histórias para dois filósofos

 







    As concepções de história para Hegel e Benjamin são sob vários ângulos diametralmente opostas. Enquanto Hegel como o espírito de sua época, a moderna, apresenta uma história que apresenta uma enorme fé no progresso. Benjamin apresenta o progresso da técnica como a perda de muitos valores, como a degradação da humanidade.

    A razão garante o progresso da liberdade cujo seu máximo manifestação se encontra no Estado para Hegel. Benjamin denuncia justamente a razão, a razão técnica como causa da regressão dos valores humanos. Justamente por se ancorar na razão, Hegel mostra uma história que é dos vencedores, das ideias vencedoras, ou seja, as ideias vencedoras são justificadas por serem mais racionais, pois a história é conduzida pela astúcia da razão.

    Benjamin acredita que restringir a história à história dos vencedores não é contar a história de todos, a história da humanidade. O frankfurtiano entende que as ideias perdedoras também fazem história e que qualquer escolha é arbitrária, fazendo com que a história dos perdedores tenha no mínimo a mesma importância que a dos vencedores, pois é um recorte da mesma maneira e ainda pode ser a história da maioria, pois numericamente há mais ideias perdedoras que vencedoras. A cada situação há uma ideia vencedora que vence várias outras não necessariamente racionalmente, pois a razão nem sempre é o fator mais importante numa escolha. A desigualdade de poder, por exemplo, tem forte influência numa disputa de ideias.

    Hegel, que não era, nem poderia ser um marxista[1], assim como a maioria dos marxistas na época de Benjamin tinham um componente profético em sua teoria: os marxistas afirmavam que o sucesso do capitalismo levaria a ampliação do conflito entre proletariado e capitalistas de modo que o comunismo era inevitável; do mesmo modo o espírito condutor da história em Hegel inevitavelmente levaria ao conhecimento do espirito de si mesmo. Entretanto Hegel não falava do futuro. Ele foi o primeiro a defender que a modernidade é a última era: onde o espírito encontra a si mesmo.

    Benjamin troca esse componente profético do marxismo por um componente messiânico: os socialistas, o proletariado, todos deveriam estar preparados e vigilantes para a boa nova: o retorno aos valores importantes esquecidos do passado não como um retorno, mas como lembrança e valorização. Assim, Benjamin incentiva a luta contra a técnica e o capitalismo em vez de esperar que naturalmente o socialismo venha como a interpretação profética do marxismo provoca. Não se pode esperar um messias que venha para resolver tudo, pois este é a própria humanidade. A luta contra a razão técnica do capitalismo não é um caminho que assegura o socialismo segundo Benjamin, mas é um trajeto que pelo menos evita a catástrofe iminente causada pela técnica.



[1] Boa parte da teoria de Marx é uma contestação a Hegel.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Em favor do mal estar na civilização

     


   A entrada da modernidade é caracterizada por três acontecimentos fundamentais: o surgimento de estados nacionais quase unificados por um despotismo (esclarecido ou não), da burguesia (que as cidades-estados modernas propiciaram) e pelo liberalismo como reação a essa centralização. O liberalismo tem como seu discurso fundamental a defesa do avanço da liberdade. Ninguém soube melhor explicar isso que Hegel esse movimento. Hegel dizia que a história é o avanço da liberdade e que na modernidade o espírito da história encontra a si mesmo. Ou seja, a luta pelo avanço da liberdade ou a dialética hegeliana.

     Hegel foi muito otimista na evolução da história: ele acreditava que o avanço da liberdade até sua fase definitiva, a modernidade, é concluída porque o mecanismo da história que é uma racionalidade encontra a si mesmo. Ou seja, se dá pelo conhecimento: um autoconhecimento, ainda mais. Esse conhecimento só é possível porque construímos uma Civilização. Pra construir uma civilização os liberais dizem que foi necessário um contrato social que dá o monopólio da coerção para o Estado. O que para Rousseau é uma desvirtuação. Para Hobbes é uma evolução.

    Entretanto essa coerção do Estado, seja juridicamente, normativamente ou policialmente não é suficiente para garantir a civilização. Por mais forte que seja ainda é muito permeável. Uma violência que garanta a civilização precisa ser internalizada para ser de certa forma onipresente. Freud a descreve em O mal estar da civilização. Somente quando os instintos e impulsos são cerceados, quando não amputados, quebrados, a sociedade coexiste.

    Quando Hegel descreve coerentemente com sua narrativa como o avanço da liberdade nos trouxe aqui ele deixa uma brecha para que pós-hegelianos pensassem no avanço da liberdade como uma trilha para a pós-modernidade. A necessidade de quebrar todos os consensos. Tornar o liberalismo evolucionista em revolucionário (o que ele já foi quando se viu no espelho).

    Essa ideia começou a questionar os próprios valores que possibilitaram a civilização. Que debilitaram o superego, a última instancia de controle dos desejos. Passaram a defender os seus desejos e impulsos de violentar os outros em contraponto á violência que a coletividade e eles próprios impõem a si mesmos. Essa luta cotidiana contra a civilização inevitavelmente nos levará a um Mad Max ou outro cenário apocalíptico. Quase ninguém quer isso. Mas o conforto momentâneo é tão mais importante que chega a ser primordial. 

    A sociedade contemporânea preferiu trocar a Democracia pela Idiocracia, regime dos idiotas. É bom lembrar que idiota, são os indivíduos regidos pelo Id. Id, segundo Freud é o que tem de mais primitivo (de original, básico, nascedouro) no ser humano: os instintos e desejos. No momento em que nossa sobrevivência se tornou a mais garantida, começamos a criar o império do prazer momentâneo. Esquecemos que ao dinamitar nossos fundamentos destruímos nosso mundo, nossa sociedade. Viveremos sem ela? Fora dela? 

domingo, 26 de janeiro de 2025

Dialética da certeza

     


     Hegel afirma em fenomenologia dos espíritos que o saber que nos interessa é o imediato e que a certeza sensível nos leva à certezas tidas como “o mais rico conhecimento”, embora sejam entretanto a “verdade mais abstrata e mais pobre”, pois ela exprime somente o que ela é. O Eu é um puro este e o Objeto um puro isto. Estabelecem uma relação na qual não levam a nenhum conhecimento, nenhum relacionamento, repete os termos como eles são sem acrescentar nenhum conhecimento, apenas repetindo que o objeto é o que é e que o objeto não é o que ele não é.

    Ao fazer uma simples experiência de guardar uma expressão que é verdadeira num momento para verifica-la em outro momento e descobri-la falsa, percebe que nem sujeito, nem objeto permanecem sempre verdadeiros, não são universais. Assim descobre que o universal está no singular, porque todo instante é singular e que a única verdade é a do movimento e que assim a essência não está nem no sujeito, nem no objeto, mas no movimento, na dialética da certeza sensível que afirma inicialmente o que é e consequentemente o que não é, mas percebo que já não é o mesmo e assim, que ele era foi suprassumido por um novo, mas esse também não é a sua verdade visto que esse também será superado conservando. Assim a verdade está no movimento e é este que deve interessar a filosofia, a experiência deve ser a própria filosofia.

O sabiá sabia assobiar

  Assim cantou o sabiá Como sempre Sabia assobiar Com a melodia assombrar E o ritmo encadear O sol sobe e a lua baixa As estrela...