Quem expôs
mais completamente a relação entre pluralidade, ação e política foi Hannah
Arendt, que atualizou sob um contexto extremamente ímpar, o nazismo, as ideias políticas
gregas sobre a política. Além do mais, Arendt surge após a modernidade e a
hegemonia dos valores ativos sobre os contemplativos. Numa época em que o
trabalho torna-se talvez o fator mais forte a influenciar a subjetividade.
Aliás, a própria subjetividade Kantiana é um diferencial fundamental dos
modernos para os gregos. Mas para se entender bem um conceito é de muito
auxílio buscar as origens dele. Sobre a pluralidade, nada melhor para
entendê-la que um trecho da crítica de Aristóteles à República de Platão, o
qual propõe uma comunidade de tudo assegurada por uma casta dirigente em um
regime forte e fechado:
A comunidade
política funda-se na colaboração de uma pluralidade de indivíduos diversos por
capacidade e recursos, os quais, exatamente por estas diversidades interagem na
troca recíproca de bens e serviços; é precisamente esta troca entre diversos
que permite à comunidade política um nível de “autossuficiência” superior ao da
família e ao do indivíduo. A synphonia política não pode ser transformada em
homophonia. O projeto platônico, que pode parecer à primeira vista “belo, mas
impossível”, na realidade não é sequer desejável, porque nega a essência
pluralística da cidade; mesmo que fosse possível, não deveria ser realizado.
“É, portanto, evidente que por natureza não pode haver uma cidade tão unida
como alguém defende, e que aquilo que é apresentado como o máximo bem nas
cidades é exatamente aquilo que as destrói”. (VEGETI, 2010 p.36 e 37).
Synphonia é a
atuação de todos, todos podem discursar ao "mesmo tempo", como uma
orquestra. Quer dizer cada qual de maneira diferente constrói um o mesmo
objetivo, há sincronia, estão afinados, embora cada um toque um instrumento
diferente. Homophonia é como se todos pensassem a mesma coisa, todos iguais,
todos tocando um mesmo instrumento.