Assim cantou o sabiá
Como sempre
Sabia assobiar
Com a melodia assombrar
E o ritmo encadear
O sol sobe e a lua baixa
As estrelas virão
Mas o maestro
De fraque espera
O momento da condução
Com um assovio
Conduz a orquestra em ascensão
Linhas de um pseudofilósofo menor nas formas possíveis das coisas sem essência e concretitude. Os contos alfabéticos viraram livro em fevereiro de 2026. Vim do passado pra dizer.
Assim cantou o sabiá
Como sempre
Sabia assobiar
Com a melodia assombrar
E o ritmo encadear
O sol sobe e a lua baixa
As estrelas virão
Mas o maestro
De fraque espera
O momento da condução
Com um assovio
Conduz a orquestra em ascensão
Murei o muro.
Impedi-lo de ir pra lá e pra cá
Fez-se atravessar a divisória
Poucos se equilibram
Caem os outros pra um lado e pro
outro
O chão abraça
A grama afaga
A memória apaga
O rio segue
O barquinho vaga
Rumo ao inesperado
Sólido mesmo só o muro
O rio cruza a mata
Em silêncio
Coaxa um sapo pra lá pra cá
A fênix persiste silenciosa
Escondida
Invisível
O saci perereca
Pra lá e pra cá
Na sombra do sol
A dama da noite
Cresce em direção a luz da lua
A lua e o sol dançam um tango
Mas a selva...
Na floresta é batidão
É pedra rolando...
Poesia concreta
Não romântica
Aspirou a ser grande
Mas nunca foi pequeno
Fez muita média
e...
ponto final
Nada a acrescentar
Ninguém nasceu
Nem morreu
Existe???
O rei enforcou o antigo rei
O príncipe sempre será
Nunca rei
Das tripas se faz coroas
A educação faz príncipes
Breve mormaço
antecede a chuva. Esvai-se a esperança. Glória!!! Cai a realidade do céu. Nenhuma
estrela há de me salvar. Nem de mim mesmo. Nem do outro eu que retruca. Na mesa
um par de ases. Outra carta. Tomara que seja um quatro. Um zap. Eu truco! Para acabar
com o marasmo. O az era de espadas. Mas não era um quatro. Quase! Era um três.
Só uma espadilha é pouco. O que terá meu parceiro? Passo instantes entre a euforia
e a dor de barriga.
O destino há
de definir o resultado...
Queria voar ao chão
Abraçar o mar
Nadar nas nuvens
Colher estrelas sem parar
Chafurdar no mousse
De limão ou chocolate
Ah! Mas só me restam tamarindos
In natura pra apreciar
Tem mel com abelha
Africana no favo pra chupar
E se no campo eu quiser deitar
As urtigas vão me acariciar
Posso rezar pra São Mindinho
Mandar chuva me molhar
Mas o sol em labaredas
Não deixa a água me tocar
Dizem que sou pessimista
Que vivo a praguejar
Mas ninguém sabe da alegria
De não desmoronar
Por toda parte ouve-se a mesma ladainha
Meditabundo repetem o mantra:
Não sou eu
O inferno são os outros
Sartre riria:
O inferno são os outros?
Que outros? Você quer
ser único
Os outros não te deixam ser?
Você quer ser raridade
Mas consome moda
Ou melhor, a moda te consome
Ou os outro te lembram quem és?
Será que o inferno é ser o que és?
Não há comunidade, só sociedade
Falida, insolvente
Com os sócios se canibalizando
Morreu a política com o príncipe
Sobrevive a economia
A mesma que escravizou
Os estrangeiros
Os negros
As mulheres
As crianças
E, por fim,
A mente em geral
Presa, mente pra você:
Isso é liberdade!
16, 18 horas sem parar
Para os algoritmos
Subi a escada despretensiosamente. Desceu o céu sobre minha cabeça. Torci a camisa e virei o boné. Alguns dirão que fabriquei uma caixa d’água. Minha alma tremia. No minhas veias tocava um pancadão. Respirei como um quem está prestes a afogar. Mas tudo passou. Dormi ali na grama. Lua cheia, sonhando com seu hálito. Parou o tempo. Gravou-se a imagem. Fez-se eternidade.
Parado na curva
Não sei se desvio
Ou paro
Ou ligo
O acostamento me envolve
Pra todo lado há horizonte
Pra todo lado é verde ou mar
Um caminhão quer me ultrapassar
Ou tirar da pista
Ninguém observa
Ninguém aproveita
Todos querem chegar
Saí do carro
Ele seguiu
Vou viver o momento
Isto é, vou viver
A pressa passa
E chega em algum lugar
Eu já estou no meu
O meu lugar é onde estou
Gravaram um A no B
Desentendi o C
Deu maior dor de cabeça
E estávamos só começando
O Alfa e o Beta
Caligrafia nenhuma daria vazão
No caderno traços disformes
Se proclamavam letras
Mas não tinham licenciatura
Ou magistrado
O juiz não entendia as letras
Ou partituras de seu próprio caderno
Cada esquina tem sua história
Escolhas feitas
Direções marcadas
Decisões limitadoras
Todos os outros caminhos foram perdidos
Oportunidades abandonadas
Deixadas ao leu
Ao alcance da fortuna
Percorri terras longínquas
Na minha imaginação
Prendi-me a cama
Com temor
Dos cenários perdidos
Das esquinas indobráveis
Mas como que decepado
Minha cabeça se desprendeu
Nem mesmo a túnica
O turbante
Os panos incessantemente amarrados
Prenderam minha mente
A cabeça tomou asas
Livrou-se das grades
Convulsionam as ideias
Mas hei de achar a razão
Para domá-las
Disseram que tinham razão
Mentiram pra si mesmos
O que tinham era a verdade
Uma verdade pessoal
Um relativismo
Útil pra quem tem razão
Não a verdade
Quem tem razão tem dúvidas
Não tem verdades próprias
Verdades são relativas e inseguras
Verossimilhanças são seguras e úteis
Sabem ser aproximações
Não dogmas
Mas quem tem razão?
Quem pondera
Não quem afirma
Paixão é ativo
Impedimento é passivo
Contabilisticamente somar ativos ou passivos
Debitar dos ativos os passivos
Não tem lógica
Que paixão tem um impedimento peremptório?
Que impedimento não tem sua paixão?
A matemática cria artificialidades
Ao somar sementes de laranja com sementes de banana
E debitar as sementes de abacaxi ou morango
Eu e você somos dois
Mas podemos ser três ou quatro
Até tudo podemos ser
Ou nada
Tanto faz
Somos o que somos
Racionalidade nenhuma nos classifica
Somos também quem ainda não somos
Somos o que não queremos ser
Almejamos o que já somos
Não há como compreender
Certo estava Heráclito
Helô, meu Amor
Ah se eu pudesse atravessar a fronteira
Entrelaçar nossos pensamentos
Comungar nossos corpos
Beber nossa alma desregradamente
Puir nosso espirito
Como carvão veste a lousa
Desbundar a existência
Em eterno mundo
Inabalável festa
Estaria eu no nirvana
Não naquele que não sente mais nada
Mas naquele que sente tudo
Meu tudo: Você.
É preciso reconhecer o que é fronteira
O que é fronteira? É tudo que interessa
Acima do muro é fronteira
Minha pele com a sua é
Tudo que arreda minha casa
Os limites do meu bairro
Minha cadeira no bar é
O gostoso é ultrapassar
Visitar com os sentidos sempre que convidado
Viver o abraço
Ter saudade do abraço
Sentir o abraço na voz
Dos queridos, amados, considerados
Beijo já é imersão
Invasão, espero que sempre consentida
Ou seja, viver é sempre estar na fronteira
Sobreviver é voltar pra casa
Contam os contos contadores
Tratando as tragédias
Como glórias
Dividas como investimentos
Mortes como tragédias
Fome como falta
Excesso como lucro
As barrigas?
Empurram pra amanhã
Os dramas de hoje
E quem se importa?
O que importa é o PIB
O que se exporta
É o balanço
Senta no balanço
E esquece o mundo
Ao ver o umbigo
Quisera ter tudo
Quisera ter nada
Desejava o mesmo
Tudo diferente do que estava
Era um sábio
Sabia que não ter nada
Não pertencer a nada
Significava não possuir
Pertencer.
Quem tem é responsável
Não desejava
Tinha o que lhe vinha
E se despedia alegremente
Do que nunca foi seu
Mas eu
Eu tenho
Tenho demais
Tenho muito medo
As coisas me têm
Enquanto não me livro delas
Existencialismo é niilismo
Livre associação
Que merda de liberdade
Acabaram com os sindicatos
Liquidaram as associações
Restaram as limitadas
Ações individuais
Individualistas
Só há sujeitos
Sujeitos a tudo
Não há humanidade
Só o desumano
As pessoas se abrigam
Em clãs
Nas famílias nucleares
Em si mesmas
Ensimesmadas
Ao ver que tudo o que cerca
É farpa
Preferem não fazer mutirão
Ou tem preguiça
Pra derrubar as farpas
E fazer um mundo
Pra todos
O carro foi
Puxado por bois
Calcando o solo
Solidificando a terra úmida
Rangendo o grande arco
A amortecer o vai e vem do solo
Feito chão, feito céu
Como uma carruagem
No fogo a distribuir baldes
Pra salvar minha plantação de boa
noite
Assim cantou o sabiá Como sempre Sabia assobiar Com a melodia assombrar E o ritmo encadear O sol sobe e a lua baixa As estrela...