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segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

O sabiá sabia assobiar

 


Assim cantou o sabiá

Como sempre

Sabia assobiar

Com a melodia assombrar

E o ritmo encadear

O sol sobe e a lua baixa

As estrelas virão

Mas o maestro

De fraque espera

O momento da condução

Com um assovio

Conduz a orquestra em ascensão

domingo, 14 de dezembro de 2025

O muro

 


Murei o muro.

Impedi-lo de ir pra lá e pra cá

Fez-se atravessar a divisória

Poucos se equilibram

Caem os outros pra um lado e pro outro

O chão abraça

A grama afaga

A memória apaga

O rio segue

O barquinho vaga

Rumo ao inesperado

Sólido mesmo só o muro

domingo, 7 de dezembro de 2025

Romantismo

 


O rio cruza a mata

Em silêncio

Coaxa um sapo pra lá pra cá

A fênix persiste silenciosa

Escondida

Invisível

O saci perereca

Pra lá e pra cá

Na sombra do sol

A dama da noite

Cresce em direção a luz da lua

A lua e o sol dançam um tango

Mas a selva...

Na floresta é batidão

É pedra rolando...

Poesia concreta

Não romântica

sábado, 6 de dezembro de 2025

Real

 


Aspirou a ser grande

Mas nunca foi pequeno

Fez muita média

e...

ponto final

Nada a acrescentar

Ninguém nasceu

Nem morreu

Existe???

O rei enforcou o antigo rei

O príncipe sempre será

Nunca rei

Das tripas se faz coroas

A educação faz príncipes

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Truco

 


Breve mormaço antecede a chuva. Esvai-se a esperança. Glória!!! Cai a realidade do céu. Nenhuma estrela há de me salvar. Nem de mim mesmo. Nem do outro eu que retruca. Na mesa um par de ases. Outra carta. Tomara que seja um quatro. Um zap. Eu truco! Para acabar com o marasmo. O az era de espadas. Mas não era um quatro. Quase! Era um três. Só uma espadilha é pouco. O que terá meu parceiro? Passo instantes entre a euforia e a dor de barriga.

O destino há de definir o resultado...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Contra a desilusão

 


Queria voar ao chão

Abraçar o mar

Nadar nas nuvens

Colher estrelas sem parar

Chafurdar no mousse

De limão ou chocolate

Ah! Mas só me restam tamarindos

In natura pra apreciar

Tem mel com abelha

Africana no favo pra chupar

E se no campo eu quiser deitar

As urtigas vão me acariciar

Posso rezar pra São Mindinho

Mandar chuva me molhar

Mas o sol em labaredas

Não deixa a água me tocar

Dizem que sou pessimista

Que vivo a praguejar

Mas ninguém sabe da alegria

De não desmoronar

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Passatempo



Por toda parte ouve-se a mesma ladainha

Meditabundo repetem o mantra:

Não sou eu

O inferno são os outros

Sartre riria:

O inferno são os outros?

Que outros?  Você quer ser único

Os outros não te deixam ser?

Você quer ser raridade

Mas consome moda

Ou melhor, a moda te consome

Ou os outro te lembram quem és?

Será que o inferno é ser o que és?

Não há comunidade, só sociedade

Falida, insolvente

Com os sócios se canibalizando

Morreu a política com o príncipe

Sobrevive a economia

A mesma que escravizou

Os estrangeiros

Os negros

As mulheres

As crianças

E, por fim,

A mente em geral

Presa, mente pra você:

Isso é liberdade!

16, 18 horas sem parar

Para os algoritmos

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Eternidade

Subi a escada despretensiosamente. Desceu o céu sobre minha cabeça. Torci a camisa e virei o boné. Alguns dirão que fabriquei uma caixa d’água. Minha alma tremia. No minhas veias tocava um pancadão. Respirei como um quem está prestes a afogar. Mas tudo passou. Dormi ali na grama. Lua cheia, sonhando com seu hálito. Parou o tempo. Gravou-se a imagem. Fez-se eternidade.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Neo-existencialismo



Parado na curva

Não sei se desvio

Ou paro

Ou ligo

O acostamento me envolve

Pra todo lado há horizonte

Pra todo lado é verde ou mar

Um caminhão quer me ultrapassar

Ou tirar da pista

Ninguém observa

Ninguém aproveita

Todos querem chegar

Saí do carro

Ele seguiu

Vou viver o momento

Isto é, vou viver

A pressa passa

E chega em algum lugar

Eu já estou no meu

O meu lugar é onde estou

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Caligrafia

Gravaram um A no B

Desentendi o C

Deu maior dor de cabeça

E estávamos só começando

O Alfa e o Beta

Caligrafia nenhuma daria vazão

No caderno traços disformes

Se proclamavam letras

Mas não tinham licenciatura

Ou magistrado

O juiz não entendia as letras

Ou partituras de seu próprio caderno

domingo, 16 de novembro de 2025

Fortuna



Cada esquina tem sua história

Escolhas feitas

Direções marcadas

Decisões limitadoras

Todos os outros caminhos foram perdidos

Oportunidades abandonadas

Deixadas ao leu

Ao alcance da fortuna

sábado, 15 de novembro de 2025

A razão é uma prisão?

Percorri terras longínquas

Na minha imaginação

Prendi-me a cama

Com temor

Dos cenários perdidos

Das esquinas indobráveis

Mas como que decepado

Minha cabeça se desprendeu

Nem mesmo a túnica

O turbante

Os panos incessantemente amarrados

Prenderam minha mente

A cabeça tomou asas

Livrou-se das grades

Convulsionam as ideias

Mas hei de achar a razão

Para domá-las

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Racionalidade



Disseram que tinham razão

Mentiram pra si mesmos

O que tinham era a verdade

Uma verdade pessoal

Um relativismo

Útil pra quem tem razão

Não a verdade

Quem tem razão tem dúvidas

Não tem verdades próprias

Verdades são relativas e inseguras

Verossimilhanças são seguras e úteis

Sabem ser aproximações

Não dogmas

Mas quem tem razão?

Quem pondera

Não quem afirma

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Heráclito de Éfeso

Paixão é ativo

Impedimento é passivo

Contabilisticamente somar ativos ou passivos

Debitar dos ativos os passivos

Não tem lógica

Que paixão tem um impedimento peremptório?

Que impedimento não tem sua paixão?

A matemática cria artificialidades

Ao somar sementes de laranja com sementes de banana

E debitar as sementes de abacaxi ou morango

Eu e você somos dois

Mas podemos ser três ou quatro

Até tudo podemos ser

Ou nada

Tanto faz

Somos o que somos

Racionalidade nenhuma nos classifica

Somos também quem ainda não somos

Somos o que não queremos ser

Almejamos o que já somos

Não há como compreender

Certo estava Heráclito

A lógica de Parmênides não nos define

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Conjugar o verbo Helô



Helô, meu Amor

Ah se eu pudesse atravessar a fronteira

Entrelaçar nossos pensamentos

Comungar nossos corpos

Beber nossa alma desregradamente

Puir nosso espirito

Como carvão veste a lousa

Desbundar a existência

Em eterno mundo

Inabalável festa

Estaria eu no nirvana

Não naquele que não sente mais nada

Mas naquele que sente tudo

Meu tudo: Você.

Fronteira

É preciso reconhecer o que é fronteira

O que é fronteira? É tudo que interessa

Acima do muro é fronteira

Minha pele com a sua é

Tudo que arreda minha casa

Os limites do meu bairro

Minha cadeira no bar é

O gostoso é ultrapassar

Visitar com os sentidos sempre que convidado

Viver o abraço

Ter saudade do abraço

Sentir o abraço na voz

Dos queridos, amados, considerados

Beijo já é imersão

Invasão, espero que sempre consentida

Ou seja, viver é sempre estar na fronteira

Sobreviver é voltar pra casa

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Financeirismos

Contam os contos contadores

Tratando as tragédias

Como glórias

Dividas como investimentos

Mortes como tragédias

Fome como falta

Excesso como lucro

As barrigas?

Empurram pra amanhã

Os dramas de hoje

E quem se importa?

O que importa é o PIB

O que se exporta

É o balanço

Senta no balanço

E esquece o mundo

Ao ver o umbigo

domingo, 9 de novembro de 2025

Deturpando existencialismo é niilismo



Quisera ter tudo

Quisera ter nada

Desejava o mesmo

Tudo diferente do que estava

Era um sábio

Sabia que não ter nada

Não pertencer a nada

Significava não possuir

Pertencer.

Quem tem é responsável

Não desejava

Tinha o que lhe vinha

E se despedia alegremente

Do que nunca foi seu

Mas eu

Eu tenho

Tenho demais

Tenho muito medo

As coisas me têm

Enquanto não me livro delas

Existencialismo é niilismo

sábado, 8 de novembro de 2025

Libertarismo

Livre associação

Que merda de liberdade

Acabaram com os sindicatos

Liquidaram as associações

Restaram as limitadas

Ações individuais

Individualistas

Só há sujeitos

Sujeitos a tudo

Não há humanidade

Só o desumano

As pessoas se abrigam

Em clãs

Nas famílias nucleares

Em si mesmas

Ensimesmadas

Ao ver que tudo o que cerca

É farpa

Preferem não fazer mutirão

Ou tem preguiça

Pra derrubar as farpas

E fazer um mundo

Pra todos

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Boa Noite

O carro foi

Puxado por bois

Calcando o solo

Solidificando a terra úmida

Rangendo o grande arco

A amortecer o vai e vem do solo

Feito chão, feito céu

Como uma carruagem

No fogo a distribuir baldes

Pra salvar minha plantação de boa noite

O sabiá sabia assobiar

  Assim cantou o sabiá Como sempre Sabia assobiar Com a melodia assombrar E o ritmo encadear O sol sobe e a lua baixa As estrela...