A educação das
crianças é um assunto importantíssimo, porque todas as sociedades que deram
grandes saltos nos últimos tempos aperfeiçoaram a educação básica,
modernizaram-na e combateram a evasão escolar, principalmente tornando-a mais
atrativa e interativa. A educação básica é interesse de muitas áreas, sobretudo
para a pedagogia, as ciências sociais e a filosofia. Platão mesmo já se
interessava pela educação das crianças, que segundo ele deveria começar pela
educação do corpo.
Teorias muito
posteriores, póstumas a até o filósofo o qual citarei literalmente: Michel
Eyquem de Montaigne, considerarão essas primeiras fases da tenra infância como
fases em que o saber concreto é muito melhor aprendido que o abstrato. Isso se
torna praticamente um consenso após o construtivismo/estruturalismo e a ideia
do desenvolvimento.
A educação das
crianças era preconizada mesmo antes de Platão. Pitágoras mesmo afirmava:
“Educai as crianças e não será preciso punir os homens”. Mas como vimos logo no
começo a educação não visa apenas ensinar regras de convivência às crianças. Se
fosse apenas isso, seria pobre e inútil. Bastaria ter uma sociedade vigilante e
“castradora”, algo que efetivamente temos, mas não excesso necessário, para
conseguir isso. Mas a educação, sobretudo após Vygotsky foca o desenvolvimento
de habilidades e aptidões nessa fase inicial, pelo menos teoricamente sobre o
que dizem fazer. Sobre a educação das crianças, Michel de Montaigne afirma em
um de seus Ensaios que:
Entendo que a
maior e mais importante dificuldade da ciência humana parece residir no que
concerne à instrução e à educação da criança. O mesmo acontece na agricultura:
o que precede à semeadura é certo e fácil; e também plantar. Mas depois de
brotar o que se plantou, difíceis e variadas são as maneiras de trata-lo. Assim
os homens: pouco custa semeá-los, mas depois de nascidos, educa-los e
instruí-los é tarefa complexa, trabalhosa e temível. [...] Não cessam de nos
gritar aos ouvidos, como se por meio de um funil, o que nos querem ensinar, e o
nosso trabalho consiste em repetir. Gostaria que ele corrigisse esse erro, e
desde logo, segundo a inteligência da criança, começasse a indicar-lhe o
caminho, fazendo-lhe provar as coisas, e a escolher e discernir por si próprio,
indicando-lhe muitas vezes o caminho certo ou lho permitindo escolher. Não
quero que fale sozinho e sim que deixe também o discípulo falar por seu turno.
[...] Na maior parte das vezes a autoridade que nos ensinam é nociva aos que
desejam aprender. [...] Tudo se submeterá ao exame da criança e nada se lhe
enfiará na cabeça por simples autoridade ou crédito. Que nenhum princípio, de
Aristóteles, dos estoicos ou dos epicuristas, seja seu princípio.
Apresentem-se-lhe todos em sua diversidade e que ele escolha se puder. E se não
o mpuder fique na dúvida, pois só os loucos tem certeza absoluta em sua
opinião. [...] Quem segue outrem não segue coisa nenhuma; nem nada encontra,
mesmo porque não procura. [...] Não se trata de aprender os preceitos desses
filósofos, e sim de lhes entender o espírito. Que os esqueça à vontade, mas que
os saiba assimilar. A verdade e a razão são comuns a todos e não pertencem mais
a quem as diz primeiro do que ao que as diz depois. [...] Que evite essas
atitudes indelicadas de dono do mundo, e a ambição pueril de querer parecer
mais fino por ser diferente; e não procure (o que não oferece dificuldade)
mostrar seu valor pelas suas críticas e originalidades. [...] ensinar-lhe-ão a
somente discorrer e discutir quando encontrar alguém capaz de responder, e
ainda assim a não empregar todos os meios que disponha mas apenas os mais
apropriados ao seu assunto. Que a tornem exigente na escolha e peneiramento de
suas razões, amigo da exatidão e, portanto, da brevidade. Que lhes ensinem
sobretudo a ceder e sustar a discussão ante a verdade, logo que a enxergue,
surja ela dos argumentos do adversário ou da sua própria reflexão, pois não lhe
cabe desempenhar um papel prescrito e falar na cátedra; e se defende uma causa
é porque a aprova; e não fará como aqueles que vendem em moeda sonante a
liberdade de poder refletir e reconhecer o erro. [...] É o que diz Epicuro no
início de sua carta a Meniceus: Por mais moço que seja, que ninguém se recuse a
praticar a filosofia, e que os velhos não se cansem dela. (MONTAIGNE, 1989, p.
143, 144,145, 146, 147 e 151)