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sexta-feira, 23 de maio de 2025

Pequena carta sobre a cautela e o medo

 


Seria a precaução tão somente um medo? Seria a previsão um princípio do planejamento? Seria o medo saudável? E planejar? Com essas perguntas todas em minha cabeça começo este texto. Confuso, inquieto como sempre. O futuro, uma incógnita para a maioria de nós, parece-nos amedrontador por não o conhecermos, nem podermos controlá-lo. Poderíamos fazer um paralelo com o que diz Adorno e Horkheimer em dialética do Esclarecimento, no qual diz que o homem precisa explicar/dominar tudo por causa do seu horror ao desconhecido.

Assim planejamos o futuro e esquecemos o presente. Acovardamo-nos, ao não tentar nada inovador, não nos arriscamos com medo do fracasso. Repetimos a mesma velha fórmula, bastante cômoda, para alcançar o mesmo mínimo e garantido sucesso (sucesso?) de sempre. Continuamos a fazer mais do mesmo, acreditando ter realizado algo novo de novo. A mesma balela de sempre a nos conduzir ao autoengano.

O planejamento, com certeza é muito importante, sem dúvida, mas somente quando temos uma visão crítica suficiente para não cair na tentação de ser guiado pela previdência. Não há nenhum mérito em realizar o fácil óbvio. Planejar com ousadia o novo. Este sim é a tarefa do planejamento: inovar. É preciso se libertar do medo de quebrar a cara e encarar o mundo de peito aberto. Como seria belo isto! Mas o medo parece nos emparedar nas redes da cautela e do temor. Bom... pensemos sobre essa curta reflexão...

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

O ocaso da política e a barbárie da civilização

 


Como sempre, vou preferir proferir minhas impressões que reproduzir o achômetro de outros, mesmo que estes sejam mais conhecidos e tenham maior credibilidade. O que não deixa de ser um critério técnico, o que em si mesmo é um grande problema. Se eu cedesse a esse juízo estaria sendo incoerente, pois o retorno da política, que defenderei, é justamente um contraponto ao domínio nefasto da economia através da técnica e da tecnologia.

O grande problema detectado por Hannah Arendt na modernidade foi o ocaso da política. A própria inexistência da política, fez com que necessitasse voltar à Grécia antiga para ter conceitos onde basear seu estudo que culminou na criação do conceito de Totalitarismo para explicar regimes como o Nazismo e o Stalinismo, que não poderiam ser considerados tiranias, pois tinham apoio da massa apesar de opressores e nem foram frutos de golpes de estado.

Os integrantes da Escola de Frankfurt, logo em seu início perceberam as influencias devastadoras da técnica sobre a sociedade. Membros da primeira geração como Adorno e Horkheimer demonstraram como na técnica ao explicar o mundo o mitificou, transformou a própria razão “autônoma” em mito. Marcuse, uma transição da primeira para a segunda geração, intensificou a crítica à técnica e à tecnologia. No entanto nenhum deles (da Escola de Frankfurt) conseguiu perceber antes que o grande problema não era apenas o domínio da técnica, mas também o consequente ocaso da política.

Aristóteles, bem como grande parte dos filósofos gregos após Sócrates perceberam que a política se fazia na praça pública e era fruto de uma dialética, ainda uma dialética socrática. Estava fundada a relação intrínseca entre política e interação/comunicação/diálogo. Um conceito de política que não encontra nenhum parâmetro na visão de política após a modernidade quando os cidadãos foram substituídos pelos políticos como categoria técnica independente.

Assim com o ocaso da política, esperamos e culpamos os representantes por não fazerem o que nós deveríamos fazer. Perdemos o poder político, o delegamos institucionalmente a outros, incapacitados como nós, o poder de decisão sobre o céu e a terra. Vivemos comodamente um messianismo da técnica. A esperança, existente desde os iluministas, de que a razão por si só leve o barco à frente, sem perceber que nos desgastamos remando cada vez mais, quando até nossas brincadeiras são direcionadas a mover o barco. Quando um imbecil italiano quer proclamar criativo até o ócio, em vez de se indignar com esse absurdo. Criação é o que Hannah Arendt chamaria de trabalho. As brincadeiras, creio que poderíamos chamar de labor, porque, embora não diretamente, estão relacionadas com a sobrevivência, pois impede que o barco estagne.

Portanto, no momento em que a hegemonia da economia trocou a interação política pela representatividade técnica, a civilização se autodestruiu, pois acabou com as cidades. Como conceber uma cidade sem a integração política garantida pela interação? Não podemos. Só podemos vislumbrar um mundo sem limites, mas não por uma interação universal, mas por uma desintegração plena. Cada um em seu lugar, não mais nem sujeito, pois o sujeito só existe na interação. A afirmação de Aristóteles de que o homem é um animal político tornou-se uma utopia. Que bom seria reconstruí-la em bases atuais, como detectou ser necessário Hannah Arendt, e como tentou (sem resultados até hoje) Jurgen Habermas.

O sabiá sabia assobiar

  Assim cantou o sabiá Como sempre Sabia assobiar Com a melodia assombrar E o ritmo encadear O sol sobe e a lua baixa As estrela...