A ação é
fundamental na filosofia de Hannah Arendt. Apenas com ela, os seres humanos, a
humanidade pode mudar o mundo e a si própria através do constante nascimento de
pessoas, de ideias, de novos tempos. Hannah foi uma das primeiras a entender
que tudo se renova a todo o momento através da interação e da pluralidade,
peças fundamentais de seu entendimento de política fundado principalmente em
Aristóteles. Mas Aristóteles não via o papel da ação como Arendt. Na verdade,
embora a ação seja importante para o filósofo grego (a política nunca havia
sido tão estudada e descrita), Aristóteles, como todos que frequentaram a
escola de Platão, dá maior valor à contemplação. Hannah dedica apenas um último
livro à contemplação: A vida do espírito.
Hannah Arendt
apesar de ser muito influenciada pela compreensão geral de política em
Aristóteles ou pela descrição que o aluno brilhante de Platão fez como ninguém
da política grega e da coisa pública (res publica), compreende ao contrário
deste que somente pela ação o ser humano pode alcançar a felicidade depois que
o homem depositou a fé no engenho das próprias mãos. Assim a ação passou a ser
o valor fundamental para entender a condição humana. Sobre esse termo
fundamental para as ciências humanas, o Dicionário de Análise do Discurso, de
Patrick Charaudeau e Dominique Maingueneau conceitua:
Em certas
perspectivas psicológicas, a ação é definida em termos de sua finalidade
(“metas”), o que a inscreve em um quadro de intencionalidade e a estrutura em
“plano de ação”, e como fenômeno de regulação, que a inscreve em um quadro
intersubjetivo a partir da existência de uma interatividade (ação-reação). Esse
ponto de vista funda uma teoria psicológica da ação: “Falar, como já se
afirmou, não consiste somente na colocação em funcionamento de um sistema
linguístico, objeto da atenção dos linguistas, mas é, antes, uma forma de
função social...” [...] Na perspectiva pragmática, Austin e Searle sugeriram
que “uma teoria da linguagem é uma parte de uma teoria da ação”, e que ela se
define em função de sua finalidade, representando um papel de regulação em um
quadro intersubjetivo. [...] Na perspectiva sociofilosófica de Habermas, uma
teoria da linguagem deve se inscrever em uma teoria da ação, teoria que ele
denomina “o agir comunicacional”. [...] Ela se caracteriza pelo fato de que
toda ação é: teleológica, na medida em que os atores sociais põem em ação
estratégias eficazes, racionais, a fim de chegar a um consenso; regulada, no
sentido de que os movimentos acionais dependem das normas que são estabelecidas
pelo grupo de que esses atores fazem parte; intersubjetiva, na medida em que os
atores sociais colocam-se em cena, oferecendo ao outro uma certa imagem de si,
para produzir um certo efeito sobre ele. (CHARAUDEAU, 2004, p.25 e 26).