Como sempre,
vou preferir proferir minhas impressões que reproduzir o achômetro de outros,
mesmo que estes sejam mais conhecidos e tenham maior credibilidade. O que não
deixa de ser um critério técnico, o que em si mesmo é um grande problema. Se eu
cedesse a esse juízo estaria sendo incoerente, pois o retorno da política, que
defenderei, é justamente um contraponto ao domínio nefasto da economia através
da técnica e da tecnologia.
O grande
problema detectado por Hannah Arendt na modernidade foi o ocaso da política. A
própria inexistência da política, fez com que necessitasse voltar à Grécia
antiga para ter conceitos onde basear seu estudo que culminou na criação do
conceito de Totalitarismo para explicar regimes como o Nazismo e o Stalinismo,
que não poderiam ser considerados tiranias, pois tinham apoio da massa apesar
de opressores e nem foram frutos de golpes de estado.
Os integrantes
da Escola de Frankfurt, logo em seu início perceberam as influencias
devastadoras da técnica sobre a sociedade. Membros da primeira geração como
Adorno e Horkheimer demonstraram como na técnica ao explicar o mundo o
mitificou, transformou a própria razão “autônoma” em mito. Marcuse, uma
transição da primeira para a segunda geração, intensificou a crítica à técnica
e à tecnologia. No entanto nenhum deles (da Escola de
Frankfurt) conseguiu perceber antes que o grande problema não
era apenas o domínio da técnica, mas também o consequente ocaso da política.
Aristóteles,
bem como grande parte dos filósofos gregos após Sócrates perceberam que a política se fazia na
praça pública e era fruto de uma dialética, ainda uma dialética socrática.
Estava fundada a relação intrínseca entre política e
interação/comunicação/diálogo. Um conceito de política que não encontra nenhum
parâmetro na visão de política após a modernidade quando os cidadãos foram
substituídos pelos políticos como categoria técnica independente.
Assim com o
ocaso da política, esperamos e culpamos os representantes por não fazerem o que
nós deveríamos fazer. Perdemos o poder político, o delegamos institucionalmente
a outros, incapacitados como nós, o poder de decisão sobre o céu e a terra.
Vivemos comodamente um messianismo da técnica. A esperança, existente desde os
iluministas, de que a razão por si só leve o barco à frente, sem perceber que
nos desgastamos remando cada vez mais, quando até nossas brincadeiras são
direcionadas a mover o barco. Quando um imbecil italiano quer proclamar criativo
até o ócio, em vez de se indignar com esse absurdo. Criação é o que Hannah
Arendt chamaria de trabalho. As brincadeiras, creio que poderíamos chamar de
labor, porque, embora não diretamente, estão relacionadas com a sobrevivência,
pois impede que o barco estagne.
Portanto, no
momento em que a hegemonia da economia trocou a interação política pela
representatividade técnica, a civilização se autodestruiu, pois acabou com as
cidades. Como conceber uma cidade sem a integração política garantida pela
interação? Não podemos. Só podemos vislumbrar um mundo sem limites, mas não por
uma interação universal, mas por uma desintegração plena. Cada um em seu lugar,
não mais nem sujeito, pois o sujeito só existe na interação. A afirmação de
Aristóteles de que o homem é um animal político tornou-se uma utopia. Que bom
seria reconstruí-la em bases atuais, como detectou ser necessário Hannah
Arendt, e como tentou (sem resultados até hoje) Jurgen Habermas.