Hoje pensei em expor-lhe uma das contradições que acho mais interessante nas ciências sociais que norteiam nossas ciências humanas e boa parte da filosofia atualmente. O problema torna-se maior no momento em que os problemas afetam a compreensão da história. Todas as ciências hoje, mesmo as naturais e principalmente as humanas, são consideradas históricas, ou seja, ligadas a seu tempo e as contingencias do momento.
Tu bem sabes que
Emile Durkheim, um funcionalista, um dos mais eminentes deles, pois fundou a
sociologia cientifica moderna, acreditava que a sociedade era um sistema em
equilíbrio. Também não ignoras que Hegel acreditava que a história apesar da
dialética, do conflito de movimentos opostos, tinha um caráter progressista e
positivo, tinha um espírito, um rumo certo. E que o próprio Karl Marx era
fatalista quanto a historia. Claro... Inspirou-se em Hegel (leu ao contrário a
dialética, mas se inspirou). Acreditava que o fim natural do capitalismo como
regime que se autodestrói seria o comunismo.
As visões
dominantes da história se consideram esta mesma fruto da ação humana, nada mais
natural, também tem uma visão determinística ou fatalista em sua base. Espinosa
em sua religiosidade mundana também impunha um certo fatalismo, mas desta vez
solidamente construído, pois está imerso ao próprio mundo. O que aprendemos,
estudamos ou cremos sobre a história é exatamente o contrário: a história é
feita pelos homens desde a Grécia Antiga, onde havia a intervenção dos deuses,
mas a história era humana ainda. Vale destacar que nós humanistas, que
acreditamos no livre arbítrio, no trabalho como construção do mundo, embasamos
nossas teorias em paradigmas que são conservadores (o funcionalismo) ou
fatalistas (dialética positiva de Hegel ou negativa de Marx).
Portanto se o
materialismo histórico ainda fundamenta as principais teorias históricas,
sociológicas, antropológico-culturais e por mais que o marxismo original tenha
crescido ou se modificado com Antônio Gramsci ou com os Frankfurtianos, ainda
sobra certo fatalismo de Marx. Como sobra certo conservadorismo de Durkheim em
quem melhor juntou as teorias sociológicas modernas e as disciplinou
coerentemente: Max Weber.
Quer dizer,
sem dúvida somos todos induzidos a acreditar coerentemente na única tese
aprazível ou possível que é a de que nós fazemos a história a cada momento de
nossa vida, mas toda a base das teorias que fundamentam nossa ciência crê num
destino... Curioso isso. Não?