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quinta-feira, 20 de março de 2025

Ação

 


A ação é fundamental na filosofia de Hannah Arendt. Apenas com ela, os seres humanos, a humanidade pode mudar o mundo e a si própria através do constante nascimento de pessoas, de ideias, de novos tempos. Hannah foi uma das primeiras a entender que tudo se renova a todo o momento através da interação e da pluralidade, peças fundamentais de seu entendimento de política fundado principalmente em Aristóteles. Mas Aristóteles não via o papel da ação como Arendt. Na verdade, embora a ação seja importante para o filósofo grego (a política nunca havia sido tão estudada e descrita), Aristóteles, como todos que frequentaram a escola de Platão, dá maior valor à contemplação. Hannah dedica apenas um último livro à contemplação: A vida do espírito.

Hannah Arendt apesar de ser muito influenciada pela compreensão geral de política em Aristóteles ou pela descrição que o aluno brilhante de Platão fez como ninguém da política grega e da coisa pública (res publica), compreende ao contrário deste que somente pela ação o ser humano pode alcançar a felicidade depois que o homem depositou a fé no engenho das próprias mãos. Assim a ação passou a ser o valor fundamental para entender a condição humana. Sobre esse termo fundamental para as ciências humanas, o Dicionário de Análise do Discurso, de Patrick Charaudeau e Dominique Maingueneau conceitua:

Em certas perspectivas psicológicas, a ação é definida em termos de sua finalidade (“metas”), o que a inscreve em um quadro de intencionalidade e a estrutura em “plano de ação”, e como fenômeno de regulação, que a inscreve em um quadro intersubjetivo a partir da existência de uma interatividade (ação-reação). Esse ponto de vista funda uma teoria psicológica da ação: “Falar, como já se afirmou, não consiste somente na colocação em funcionamento de um sistema linguístico, objeto da atenção dos linguistas, mas é, antes, uma forma de função social...” [...] Na perspectiva pragmática, Austin e Searle sugeriram que “uma teoria da linguagem é uma parte de uma teoria da ação”, e que ela se define em função de sua finalidade, representando um papel de regulação em um quadro intersubjetivo. [...] Na perspectiva sociofilosófica de Habermas, uma teoria da linguagem deve se inscrever em uma teoria da ação, teoria que ele denomina “o agir comunicacional”. [...] Ela se caracteriza pelo fato de que toda ação é: teleológica, na medida em que os atores sociais põem em ação estratégias eficazes, racionais, a fim de chegar a um consenso; regulada, no sentido de que os movimentos acionais dependem das normas que são estabelecidas pelo grupo de que esses atores fazem parte; intersubjetiva, na medida em que os atores sociais colocam-se em cena, oferecendo ao outro uma certa imagem de si, para produzir um certo efeito sobre ele. (CHARAUDEAU, 2004, p.25 e 26).

Interação

 


Um fenômeno importante tanto para Hannah Arendt, Jüngen Habermas, como para outros filósofos preocupados com a política ou com a comunicação é a interação. Nem Hannah Arendt, nem Jüngen Habermas poderiam conceber suas teorias mais importantes sem considerar a interação. Esta, aliás, está no coração da teoria deles. Sobre a interação, o Dicionário de Análise do Discurso, de Patrick Charaudeau e Dominique Maingueneau conceitua:

Portanto a interação, embora siga regras estritas que possibilitam a comunicação, não segue um roteiro, ou seja, é construída pelo contato, pela pluralidade, porque ninguém pensa igual (se pensássemos, seria identidade) e, portanto, não é previsível, nem predizível. E de interação em interação, por acordos (ou desacordos reacordados) são engendradas as teias da história num tecido incomum e inconstante.

É de fato, o que oferece o mais forte grau de interatividade; porque, se todos os discursos implicam certas formas de interação entre emissor e receptor(es), isto se dá em graus muito diferentes, sendo a comunicação “face a face” desse ponto de vista a mais representativa dos mecanismos próprios de interação. Correlativamente, essa abordagem colocou em evidência a importância do papel que exercem na elaboração do discurso certos fenômenos completamente negligenciados até então pela descrição gramatical (marcadores conversacionais em todos os gêneros, repetições e reformulações, truncamento e retificações, hesitações e outros procedimentos de “reparação”), bem como a importância das dimensões relacional e afetiva no funcionamento das comunicações humanas, que estão longe de reduzir-se a uma “pura” troca de informações. Mais genericamente, os discursos são, nessa perspectiva, concebidos como construções coletivas, sendo que todos os seus componentes podem prestar-se à negociação entre os interactantes: se é verdade que preexistem às interações todos os tipos de regras (lexicais, sintáticas, pragmáticas, conversacionais etc.) que subjazem a seu funcionamento, elas são em sua maior parte suficientemente vagas para que seja possível, e mesmo necessário, “compor” com elas quando se “compõe” uma interação. Porque os sujeitos engajados em uma interação, nos diz Winkin, são comparáveis aos interpretes de uma partitura musical: “Mas, nesta vasta orquestra cultural, não há maestro nem partitura. Cada um toca de acordo com o outro. Só um observador exterior, isto é, um pesquisador da comunicação, pode progressivamente elaborar uma partitura escrita, que se revelará, talvez, bastante complexa”.

O sabiá sabia assobiar

  Assim cantou o sabiá Como sempre Sabia assobiar Com a melodia assombrar E o ritmo encadear O sol sobe e a lua baixa As estrela...