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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Em favor do mal estar na civilização

     


   A entrada da modernidade é caracterizada por três acontecimentos fundamentais: o surgimento de estados nacionais quase unificados por um despotismo (esclarecido ou não), da burguesia (que as cidades-estados modernas propiciaram) e pelo liberalismo como reação a essa centralização. O liberalismo tem como seu discurso fundamental a defesa do avanço da liberdade. Ninguém soube melhor explicar isso que Hegel esse movimento. Hegel dizia que a história é o avanço da liberdade e que na modernidade o espírito da história encontra a si mesmo. Ou seja, a luta pelo avanço da liberdade ou a dialética hegeliana.

     Hegel foi muito otimista na evolução da história: ele acreditava que o avanço da liberdade até sua fase definitiva, a modernidade, é concluída porque o mecanismo da história que é uma racionalidade encontra a si mesmo. Ou seja, se dá pelo conhecimento: um autoconhecimento, ainda mais. Esse conhecimento só é possível porque construímos uma Civilização. Pra construir uma civilização os liberais dizem que foi necessário um contrato social que dá o monopólio da coerção para o Estado. O que para Rousseau é uma desvirtuação. Para Hobbes é uma evolução.

    Entretanto essa coerção do Estado, seja juridicamente, normativamente ou policialmente não é suficiente para garantir a civilização. Por mais forte que seja ainda é muito permeável. Uma violência que garanta a civilização precisa ser internalizada para ser de certa forma onipresente. Freud a descreve em O mal estar da civilização. Somente quando os instintos e impulsos são cerceados, quando não amputados, quebrados, a sociedade coexiste.

    Quando Hegel descreve coerentemente com sua narrativa como o avanço da liberdade nos trouxe aqui ele deixa uma brecha para que pós-hegelianos pensassem no avanço da liberdade como uma trilha para a pós-modernidade. A necessidade de quebrar todos os consensos. Tornar o liberalismo evolucionista em revolucionário (o que ele já foi quando se viu no espelho).

    Essa ideia começou a questionar os próprios valores que possibilitaram a civilização. Que debilitaram o superego, a última instancia de controle dos desejos. Passaram a defender os seus desejos e impulsos de violentar os outros em contraponto á violência que a coletividade e eles próprios impõem a si mesmos. Essa luta cotidiana contra a civilização inevitavelmente nos levará a um Mad Max ou outro cenário apocalíptico. Quase ninguém quer isso. Mas o conforto momentâneo é tão mais importante que chega a ser primordial. 

    A sociedade contemporânea preferiu trocar a Democracia pela Idiocracia, regime dos idiotas. É bom lembrar que idiota, são os indivíduos regidos pelo Id. Id, segundo Freud é o que tem de mais primitivo (de original, básico, nascedouro) no ser humano: os instintos e desejos. No momento em que nossa sobrevivência se tornou a mais garantida, começamos a criar o império do prazer momentâneo. Esquecemos que ao dinamitar nossos fundamentos destruímos nosso mundo, nossa sociedade. Viveremos sem ela? Fora dela? 

O sabiá sabia assobiar

  Assim cantou o sabiá Como sempre Sabia assobiar Com a melodia assombrar E o ritmo encadear O sol sobe e a lua baixa As estrela...