Há pouco na páscoa comemoramos a data onde o Deus do puro amor, o Deus do Novo testamento, Jesus Cristo se fez homem. O mesmo Deus amoroso e misericordioso que resumiu as 10 leis mosaicas a apenas duas (duas leis de amor): “(...) Ame ao Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda sua alma, e com todo o seu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Ame ao seu próximo como a si mesmo. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos” (Mateus 22, 37-39). Ou seja, determinou que a autoridade de todos os demais mandamentos como dos demais ensinamentos cristãos baseiam-se nos mandamentos do amor, como são conhecidos os dois primeiros mandamentos.
O amor é
sentimento mais coligativo, agregador, mais político que existe (você sabe que
falo do que entendemos classicamente por política). No entanto, vemos hoje em
dia que as denominações religiosas promovem justamente o contrário disso,
sobretudo por evocarem a verdade para si, quando o próprio Deus que se fez
homem afirmou em João 14,6: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai
ao Pai senão por mim”, o que não deixa nenhuma dúvida possível de que a verdade
esteja no Nazareno e, que, portanto, não possa ser atributo de nenhuma religião
cristã em particular, pois seria um contrassenso, um desrespeito justamente a
quem lhes deu sentido.
Mas
infelizmente, o problema da tentativa de ligar a Deus o que já nasceu ligado e
que foi religado duplamente pelo sacrifício do filho, do cordeiro de Deus, e
por pentecostes, quando o Espírito Santo vem habitar o mundo, é muito mais
grave, pois provoca todos esses problemas já citados, e muitos outros, ao
tentar religar o que já está ligado.
As
religiosidades primitivas e até algumas do começo da história, na era
escravagista, não diferenciavam o religioso do profano. Não separavam um mundo
sagrado de um mundo mortal e chinfrim, quem fez isso foram as religiões
"ocidentais" como conhecemos: as cristãs, árabes, judaicas, espíritas
e espiritualistas também de certo modo ao se abastecer das outras. Inicialmente
ninguém pensava que necessitava parar sua vida para em instante separado
cultuar a uma deidade. Viver já era o ato em si. A religiosidade, os cultos, já
estava implícita nas regras cotidianas quando se admirava o céu ou as estrelas
ou o Mar Vermelho por exemplo.
O divino que
estava dentro dos homens não necessitava ser explicado como, por exemplo, pela
terceira pessoa da trindade: o Espírito Santo. Todos tinham plena consciência
de ter algo divino dentro de si, ainda que não fosse uma definição perfeita,
pois a maioria o tinha como algo separado como corpo e alma. Alguns povos,
sábios em sua simplicidade não faziam quaisquer diferenciações. Esses povos não
eram necessariamente o que os filósofos modernos chamariam de os mais
primitivos. Povos como os Bretões, embora cultuassem divindades que algumas
vezes viviam em mundos separados, algumas vezes só em reinos, não diferenciavam
sua condição divina da condição profana.
Creio que
eticamente, é muito ruim separar a crença do ato influenciado por ela. Na
verdade, se conseguíssemos nem diferenciar ato e crença seria melhor ainda.
Digo se a crença fosse também considerada um ato. A diferenciação entre a
teoria, a fé, o pensamento e a prática é a maior causa da hipocrisia e,
justamente por isto que muitos religiosos são profundamente hipócritas, embora
muitas vezes até sejam imersos pelas melhores intenções.
Se religião é
religar, não faz o menor sentido que as religiões, nascidas no oriente médio e,
predominantes no ocidente, se esforcem tanto para diferenciar e separar os
mundos da vida espiritual e material. Não existem dois mundos, o mundo é e
sempre foi um só, fomos nós que por efeitos metodológicos os separamos como se
alma vivesse sem corpo ou corpo sem alma. Corpo e alma, razão e emoção são uma
coisa só. Nós apenas insistimos em separar a clara da gema, como se não fosse
um ovo só. Seria injusto se eu não dissesse que os primeiros cristãos tinham
uma ideia de religiosidade imanente, embora Deus não estivesse num mesmo plano
que os homens, mas com a institucionalização das religiões cristãs tudo se
perdeu e o maniqueísmo simplificador se fortaleceu.
Todo o
maniqueísmo simplificador deveria ser negado pelos homens, os quais longe desse
grande problema viveriam a natural e intensa ligação com Deus e experimentariam
diretamente todo o seu amor. Sem a necessidade de religar, nunca precisaríamos
nos desligar do que há de mais precioso em nós: nossa ligação com o Divino.
Assim poderíamos ter muitas e sinceras Ligiões, embora eu acredite que no fim
das contas haveria uma só, pois haveria um único objetivo: curtir a graça de
sua ligação a Deus.
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