Hannah Arendt,
e depois Jürgen Habermas, fizeram excelentes releituras de Aristóteles,
sobretudo de suas ideias políticas. Souberam com maestria atualizá-lo. Mas o
autor tem ideias interessantes que, creio eu, nem necessitariam de atualização
se pegas em seu "espírito". O início do capítulo dois do livro quarto
de A Política tem concepções interessantes que poderiam ser refletidas. Assim
transcrevo literalmente o começo desse interessante capítulo:
É bom lembrar
que República vem de Rés Pública, coisa pública, assim é o tipo de
Constituição, no sentido de constituir mesmo e não o nosso limitativo de Lei
Magna, que prima pelo público, cujo principal valor é cuidar da coisa pública.
Aristocracia, por definição, é o governo dos melhores. Realeza é o governo pelo
nobre. Nobre tem o sentido ainda hoje de virtuoso. Virtude é um dos grandes
temas, se não o maior de Aristóteles. No entanto, ele deixa claro que prefere a
República e suporta a Democracia, que é o governo de todos, sejam virtuosos ou
não, preocupando-se ou não com a rés pública.
1.
Distinguimos, em nosso primeiro estudo das constituições, três constituições
puras: a realeza, a aristocracia, a república, e três outras que são desvios
dessas: a tirania para a realeza, a oligarquia em relação à aristocracia, e a
democracia quanto à república. Já falamos da aristocracia e da realeza – porque
estudar a melhor forma de governo é justamente explicar a significação dessas
duas palavras, pois que a existência de cada uma dessas formas só se pode
basear na virtude, e em tudo que possa acompanha-la. Determinamos também as diferenças
existentes entre a aristocracia e a realeza, e os caracteres distintivos pelos
quais se pode reconhecer a realeza. Resta-nos tratar apenas, em primeiro lugar,
do governo designado pelo termo comum de república, e depois dos outros
governos, isto é, da oligarquia, da democracia e da tirania.
2. É fácil
compreender qual é o pior desses governos degenerados, e qual o que lhe segue;
porque o pior deve ser, forçosamente, aquele que é uma corrupção do primeiro e
do mais divino. É preciso que a realeza só exista no nome, ou que se funda na
incontestável superioridade daquele que reina; segue-se que a tirania que é o
pior dos governos, é também aquele que mais se afasta da república. Em segundo
lugar vem a oligarquia; porque a aristocracia difere bastante desta forma de
governo. Afinal a democracia é o mais tolerável desses governos degenerados.
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