No livro
quarto, capítulo IX, 8 de A Política, o estagirita Aristóteles mostra um dos
maiores defeitos da democracia, que costumeiramente a transforma em uma
oligarquia, a desigualdade econômica. Obviamente, Aristóteles não conheceu um
problema maior que é a questão da representatividade numa democracia
representativa, que transforma a democracia em patrimonialismo, em conjunto com
o primeiro grave problema. Sobre o primeiro problema, o estagirita é sábio:
Portanto, a
própria desigualdade econômica deteriora o que Aristóteles denomina por
república, que é o regime voltado para cuidar do que é público e, portanto
serve a todos. Os argumentos da Aristóteles, mostrando que o predomínio de um
grupo sobre o outro rompe com o ideal de igualdade, primeiro princípio de
qualquer democracia. Se todos não são iguais para agir politicamente, não podem
ser considerados livres, pois quem não pode agir, obviamente não é livre.
“É evidente,
pois, que a comunidade civil mais perfeita é a que existe entre os cidadãos de
uma condição média, e que não pode haver Estados bem administrados fora
daqueles nos quais a classe média é numerosa e mais forte que todas as outras,
ou pelo menos mais forte que cada uma das delas; porque ela pode fazer pender a
balança em favor do partido ao qual se une, e, por esse meio, impedir que uma
ou outra obtenha superioridade sensível. Assim, é uma grande felicidade que os
cidadãos só possuam uma fortuna média, suficiente para as suas necessidades.
Porque, sempre que uns tenham imensas riquezas e outros nada possuam, resulta
disso a pior das democracias, ou uma oligarquia desenfreada, ou ainda uma
tirania insuportável, produto infalível dos excessos opostos. Com efeito, a
tirania nasce comumente da democracia mais desenfreada, ou da oligarquia. Ao
passo que entre cidadãos que vivem em uma condição média, ou muito vizinha da
mediana, esse perigo é muito menos de se temer”. (Aristóteles, 2009, p. 141 e
142).
Esse é um
grande problema, mas não é o pior, pois a democracia representativa, que por
sua própria estrutura alija as pessoas das decisões políticas, de agir
politicamente, pois são induzidas a limitarem suas manifestações à escolha de
seus representantes dentro de uma lista preestabelecida de candidatos que quase
nunca tem um perfil que represente as aspirações do eleitor só pra citar o
menor dos problemas. Na verdade, os problemas estão longe de ser “ideológicos”,
mas sim o do predomínio dos mesmos grupos eternamente no poder porque o
mecanismo da representação e da institucionalização em partidos ou comitês lhes
favorecem. Basta dominar um menor grupo para se tornar uma das raras
alternativas possíveis e ganhar se elegendo ou não. Perpetuando-se no poder.
Tendo este como seu patrimônio pessoal.
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