Baruch Spinoza ou Bento de Espinosa, funda sua ética no ser humano e na sua ideia do Criador como ser imanente, “Deus, isto é, Natureza”, ou seja, desdiferenciando a divindade que tudo vê, tudo sabe, da natureza, do universo, de tudo o que existe. Obviamente, despersonalizando o Criador, por um princípio simples: se não havia nada senão Ele, tudo o que foi criado, objetiva-se a partir dele próprio. Por consequência, aos homens é dado o poder criador, pois eles são particularidades da única substância existente: o Criador.
Embora a
história recaia num fatalismo, pois o Criador está em todos os tempos e espaços
e, assim, já conhece o futuro. E se este já é conhecido, está fatalmente
determinado. O homem, substância finita (para Descartes) ou atributo (para
Spinoza), não conhece o futuro, para ele não está determinado, por essa razão
se torna se torna irremediavelmente artífice de seu futuro ainda desconhecido.
Com essa ideia, Spinoza geometrizando ideias de Descartes, retira a ideia de
que os homens estariam reféns de um Deus externo para a confecção de seu
futuro. Ideia predominante na Idade Média.
No entanto, um
aspecto que se destaca nos livros de Spinoza é a sua concepção de um amor
político para costurar a ética de fato. Também se destaca a crítica aos que
tentam negar a natureza humana em prol de uma concepção humana fictícia na qual
o amor é tratado com desdém, quando não com desprezo:
A maioria dos
filósofos concebe os afetos que em nós travam combate como vícios em que os
homens caem por sua culpa; por isso habituaram-se a rir deles, lamentá-los,
maltratá-los e (quando querem parecer mais santos do que todos) detestá-los.
Acreditam, assim, fazer coisas divinas e elevarem-se ao cume da sabedoria,
prodigalizando toda espécie de louvores a uma natureza humana que não existe em
parte nenhuma e ferindo com seus discursos aquela que realmente existe.
Concebem os homens não tais como são, mas como gostariam que fossem. Eis por
que, quase todos, em vez de uma ética, escreveram sátiras, e não tiveram sobre
política ideias que pudessem ser postas em uso, concebendo-a como quimera ou
utopia. [...] Por esse motivo, acredita-se que, de todas as ciências que têm um
uso, é na política que a teoria passa por mais discrepar da prática, não
havendo homens que se estimem menos idôneos para dirigir a República do que os
teóricos, isto é, os filósofos. (SPINOZA, In Tratado Político).
A própria
definição de amor de Spinoza, mostra o quão politico é o papel do amor, se
pensarmos a política como a arte de criar relações, de relacionar as pessoas
como concebera Aristóteles e, depois de Spinoza, Hannah Arendt e Jüngen
Habermas. Assim explicita, Baruch Spinoza:
Amor é fruição
de uma coisa e união com ela [...]. Do amor [diversamente da admiração e de
outras paixões] é próprio jamais nos esforçarmos para dele nos livrarmos, por impossível. E é necessário que não nos livremos dele.
Impossível, porque isso não depende de nós, e sim do que vemos de bom e útil no
objeto e, se não quiséssemos amá-lo agora, seria preciso que primeiro não o
conhecêssemos, mas isso não está em nossa liberdade ou não depende de nós: se
nada conhecêssemos, nada seríamos. Necessário, porque a fraqueza de nossa
natureza impediria que existíssemos se não fruirmos de algo que nos fortaleça e
a que nos unamos. (SPINOZA, in Breve Tratado).
Que ainda
adverte que “toda nossa felicidade ou infelicidade nisto reside: na qualidade
do objeto ao qual nos unimos por amor” Baruch Spinoza (in Tratado da emenda do
intelecto).
Nenhum comentário:
Postar um comentário