Acompanham

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Prosseguimento

Comprei com tempo a paz

Um odor de café me invadiu

O tempo é escasso e o café é caro

A paz?

A paz é um ideal kantiano

Pura fantasia

Só conheço a alienação

O desconhecimento

A negação plausível

Nenhum vivente pode ter paz

A paz prescinde o afastamento

Da vida

Do hoje

Do presente, do passado e do futuro

Necessita fingir demência

(E prosseguir)


terça-feira, 8 de julho de 2025

Trajeto

Correu contra a corrente

Venceu o vencimento

Progrediu para Alto Progresso

Amou Cida na cidade

Deu três beijos em Trindade

Teve ânsia em Goiânia

Esmoreceu

Foi ser mito na Lapônia

Dar feno às voadoras

Por fim voltou a terra natal

Comprou um disco do Noel

E foi ouvir a manhã silenciosa

segunda-feira, 7 de julho de 2025

No giro da multiplicidade: a ansiedade compulsória



Vivemos numa sociedade com um excesso de estímulos e que nos leva a realizar multitarefas pois somos estimulados a fazer várias coisas ao mesmo tempo. Ler enquanto ouvimos uma música no background para isolar os eventuais sons que dispersariam nossa atenção. Citei um exemplo onde se usa uma segunda tarefa para se concentrar na primeira. Numa época de menos estímulos o silêncio seria mais adequado.

Enquanto escrevi este texto toca uma música no YouTube dentro da televisão porque provavelmente eu acho que perderia meu tempo se não escrevesse esse texto e ouvisse música ao mesmo tempo. A música nem serve de background porque eu estou ouvindo mesmo. E de vez em quando olho pro televisor pra ver a coreografia ridícula de Never Gonna Give You Up.

Estamos modulados a usar todas as possibilidades de aproveitar nosso tempo na multiplicidade e não no foco. O foco nos provoca a fazer uma coisa bem feita (um monismo, talvez uma paranoia) e a culpa de não ter feito/aproveitado um monte de coisas. Talvez relacionado ao consumo de inúmeras coisas frágeis e limitadas em vez de coisas duradouras. Não importa criamos uma ansiedade constante que se retroalimenta.

Segundo o Deepseek há uma **forte correlação entre hiperestimulação e ansiedade**, embora a relação seja complexa e multifatorial. Ambos os conceitos estão interligados tanto fisiologicamente quanto psicologicamente. […]

[…]A hiperestimulação não só **desencadeia** ansiedade, como também é **amplificada** por ela. Reconhecer os sinais (ex.: fadiga constante, irritabilidade, dificuldade de "desligar") é o primeiro passo para intervir. Em casos persistentes, buscar apoio profissional (psicólogo ou psiquiatra) é crucial para evitar cronificação.

domingo, 6 de julho de 2025

Tempestuoso

Choveu na minha horta

A abobrinha melou

Veio o sol

O tomate murchou

A vaca lambeu meu cabelo

Tudo se acertou

Arei a horta e plantei um milho

Não sei de pamonha ou pipoca

Daqui uns meses descubro

Se a vaca comeu a gramínea

Ou se meu vizinho faz churrasco

(ou o milho é o que estou ajoelhado em cima?)

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Drama

Pularam o Corguinho

Eu me afaguei no rio

A fonte das lagrimas

Nossa tristeza

Cada reage de um jeito

Pulei no meio do problema

Você quis ignorar

Estava certa

Eu em processo

Foi prática

Eu meditativo

Costurastes os nervos

Decidi trilhá-los

Rendeu-se a calmantes, ansiolíticos

Estou preso num psicodrama

(Meu bem você venceu, mas eu curti e curto)

terça-feira, 1 de julho de 2025

Posto

Me perdi no meio do caminho

Sim, o trieiro me achou

Me deu um sentido

Não me deu direção

Tenho liberdade de sair da trilha

O caminho não

Sair não faz sentido

Mas me dá direção

A norma está no caminho

Dos que vem e que vão

Mas quem se recusa tem liberdade

De direção

O chão de quem está no caminho

É quase uniforme

Pra quem está fora dele

A vestimenta é quase maldição

Ela rasga, acumula espinhos

O indivíduo rasga o chão

Mas a estrada controla aqueles que vem e que vão

(Posso parar pra fazer um lanche?)

Alucinações



Narrativas. Tudo não passa de narrativas. Não porque não existam fatos.  Os fatos são incontestáveis. Mas fatos não importam. O que é vital é a interpretação.  Um carro e um pedestre podem colidir. O fato da colisão de dois objetos é incontestável. Muitos dirão que o carro atropelou o pedestre. Usarão a chave de proteger o mais frágil. Outros dirão que o pedestre atropelou o carro. Preferirão proteger o mais abastado. Raros investigarão o fato. Procurarão imagens. Entrevistarão as testemunhas e os atores, se possível. Neste causídico momento far-se-á pior cada dará sua opinião independente dos fatos, já que os fatos não importam, nunca importaram. Dirão que é evidentemente um evento sobrenatural ou ligado a extraterrestres ou talvez seja culpa do governo ou da oposição.

Veem como uma coisa é ligada a outra? E de tanto se ligar a outras coisas mais externas perdem seu fundamento ou radicalidade (raiz).  Infelizmente dizer que dois mais dois é quatro (o fato) não diz muita coisa. Se forem grãos de arroz ou gomos de laranja fazem alguma diferença. Muito mais se forem marmitas ou jacas.  È preciso considerar se estão verdes, maduras ou podres. O estado do objeto também faz diferença. Espero, mesmo tendo ido tão longe, ter conseguido explicitar como o fato em si depende complementos, ou seja, de ambientação, interpretação.  Uma guerra num deserto e numa zona densamente habitada não pode ser tratada do mesmo modo mesmo que mate rigorosamente o mesmo numero de pessoas. Entretanto quando as narrativas perdem a objetividade podem dizer que são iguais ou que a guerra no deserto é mais perigosa com base em ideologia tirada de não sei onde.

Há incontáveis narrativas com base em passado fictício, presente fictício ou futuro fictício que deturpam a realidade e criam realidades paralelas absurdas. Sem nenhum pé na realidade porque trocaram a objetividade por desejos mesquinhos (no sentido de pequenos e pessoais). Vendem-se sonhos e pesadelos que são muito mais palatáveis que a insossa realidade. E se multiplicam a tal velocidade que a inteligência alucina por não conseguir mais processar fatos, realidades.

O sabiá sabia assobiar

  Assim cantou o sabiá Como sempre Sabia assobiar Com a melodia assombrar E o ritmo encadear O sol sobe e a lua baixa As estrela...