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sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Conto de Kaique

 


Quem era Kaique? Sei lá? Me mandaram contar a história. Tinha ele um caiaque? Seria o Kaique do Caiaque? Não sei. Só sei que me deram essa ingrata tarefa. Se brincar é um desses vereadores eleitos pela balsa do Espirito Santo. Um funcionário do Pedro Iram (PIPES) ou um dos vendedores das bordas.

Bom... tem duas chances maiores: Palmas ou Tocantinópolis. Ou sei lá, era de Lajeado mesmo. Não importa. Com esse nome duvido que fosse apenas um vereador. Deve ter sido deputado estadual ou até federal. Senador ainda não. Não duvido no futuro ter um Leozinho do Jet-ski, mas hoje ainda não cabe.

Não me informaram nada desse Kaique. Será que tem sigilo nessa investigação? Vou procurar um promotor pra ver se abre pra mim as informações. Se não der certo, vou ter que procurar um juiz. Mas se o diabo do Kaique for o procurador ou juiz? Ah! É melhor eu inventar a história. Depois o editor transforma a história na que ele quiser.

O nosso tão famoso e benquisto Kaique nasceu em uma cidade da região norte. É a maior e a menos povoada do país. Provavelmente no Tocantins ou em algum estado que faz divisa com o Tocantins. Se for assim tem mais chance de ser do Nordeste ou do Centroeste. Da região norte só o Pará faz divisa com o Tocantins. Do Nordeste, Bahia, Piauí e Maranhão. Do Centroeste, Goiás e Mato Grosso.

Como eu sou o narrador e me interessa coloca-lo como natural de Porto Alegre do Tocantins, cidade onde fica o projeto de irrigação Manoel Alves, vai ficar assim. Vai ter que comer muito abacaxi, melancia e manga na infância. Laranja, limão e mixirica também. Sorte dele! Hoje se fosse lá só iria comer ração de porco, digo soja e gramíneas como o milho. Teria sorte se chupasse uma cana restante em alguma plantação. As frutas? Essas desapareceram.

Certamente muito cedo migrou para Natividade, Porto Nacional ou Palmas. Ou para Porto Nacional e de lá pra Palmas. Com vias futuras de migrar para o outro lado do rio, quer dizer, novamente Porto Nacional se a região não se emancipar. Por sua afinidade com a agua certamente deve trabalhar numa náutica ou na marinha. Ou seja, ou regula a ocupação das margens do lago do Lajeado ou vende motos náuticas, jet skis, caiaques e lanchas.

Talvez até plante coqueiros nas margens do rio para lembrar da feliz infância no Manoel Alves. Se plantar coqueiros, podia me arranjar uns cocos. Ficaria feliz de terminar essa história bebendo uma água de coco. Mas sei que não vai dar então tchau! Fim. Caba logo, sô!

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Depositei o voto na urna

Era uma vez

Era outra vez

A mesma

Com sinal trocado


A mesma epifania

Os mesmos personagens

Conto de fadas

Historinha pra dormir


Inventaram mitos

Tiraram todo heroísmo de si

Botaram num João-bobo de posto

Posto assim sem nenhum remendo


E a política que cada um devia fazer

Ficou na cozinha cozinhando o galo

Na espera por milagre sem fazer sua parte

Depositei o voto na urna

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Presente

Virei a esquina

Olhos à frente

Vejo novos cenários

Mas a rua antiga...

Está na minha mente

As boas lembranças...

As más esqueci

À frente bancas de revista

Restaurantes, bares

Lembro da velha mercearia

Piso em rua asfaltada

Mas meus pés não se esquecem

Da melada lama que os abrangia

Da grama que os acariciava

Dobrei a esquina

Mas não me dobrei

Memória no passado

Aspirações no futuro

Vida no presente

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Hegeliano

Nada desapareceu

Está tudo lá

Mas não importa

Se está tudo

Nada está fora

Nada se destaca

Não escolha

pra quem escolheu tudo

Cadê meu café?

Não, não quero café e chá misturados.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

6 x 1

Segunda-feira, segundas intenções

Descer a ladeia de segunda marcha

Comprar o veículo de segunda mão

Seguir a vida de segunda

Tecer terços pra segundar

A responsabilidade pra alguém

Seguir segundo lhe mandam

Pra securitizar a vida

Ou a não-vida

Tudo conforme a ordem

Pra na quarta-feira

Ou no quinto dos infernos

Esquecer de tudo isso

Se alienar

Não é minha culpa hoje ser segunda

Pra no sábado sabático

Sonhar com o feriado do próximo mês

domingo, 26 de outubro de 2025

Hoje é domingo, Seu Domingos

É domingo, Seu Domingos

Sábado já foi

A feijoada desceu

Só a breja ficou

Nada que uns dez ou vinte polichinelos

Se a tontura passar

O desequilíbrio

Não convém andar no muro

Ou melhor sobre o muro

O muro é boa bengala

Mas ninguém monta nela impunemente

Hoje é dia do rosário

A capelinha lá no monte

O bar na encosta da descida

Pra ouvir bom samba

Sobe na cantoria de Nossa Senhora das Graças

Desce no batuque da nossa senhoria do boteco

Desce um rasga-ventre?

Um torresminho?

Segunda é bater biela na ferrovia

Mas hoje é domingo, seu Domingos.

sábado, 25 de outubro de 2025

Desgosto

Acode o turno o trabalhador

Acorde o povo seja onde for

A pátria pare demasiado lento

Amamenta seu povo

O ventre da pátria rasgado

Costura-se com o que se tem

Um ponto pra cá outro pra lá

Um zigue-zague de caminhões, de trens

Cheira diesel no ar

O pouco trem é elétrico

Aviões de carga cruzam o país

O povo cá em baixo reza

Pra ter seu quinhão

Pra ganhar no bolão

Pra sobrar gorjeta do milhão

Pra salvar seu ofício da extinção

Pra tirar dos restos da mesa seu quinhão

Pra ter alguma rosa no esporão

Assim anda o povo

Sem transporte

Sem ofício

Sem perspectiva

Sem trilho a caminhar

E quem para é atropelado

Pelo trem, pelo caminhão, pelo avião

Pela vida

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Conto de Jack

 


Jack é Jack. Ninguém é Jack e ele odeia Skank. “Tequila é a mãe!”, diria ele. A mãe de todos os meus males. Nascera incomodado com uma musica para Jackie e não para ele. Jack é dinamite prestes a explodir. Preferia ser um zé, um zé ninguém. Mas não podia era um Jack, um uísque. 12? 16? 18 anos?

Seu nome era uma esculhambação, pensava. Seu pai, um abstêmio, cognominá-lo de Jack Daniels? Só faltava morar no 51º bairro de João Pessoa. Felizmente a capital da Paraíba não era tão grande pra ter tantos bairros. Escapara do 51, mas de morar na 79ª rua da cidade não. Mas Pirassununga é coisa de paulista. E João Pessoa não é muito enfronhado com paulistas como sabem. O nego da bandeira da Paraíba é a posição de não apoio aos paulistas pela continuidade da república velha.

Essa posição era compartilhada por Jack. Negava todos os convites para beber até a ultima hora. Preferia beber em casa uma garapa velha envelhecida em barris de aroeira e cega-machado. Descia rasgando a goela e o ventre como um bisturi cirúrgico cego e enferrujado.

Todo domingo tinha que ir na taverna da Naninha comer buchada e encontrar os patrícios aflitos com tanta salsinha. Não cabia um coentro? Naninha não era bem da terra. Nascera lá, mas... vivera uma vida toda nas minas mais gerais do Brasil, região entre Minas, Bahia, Goiás e, agora, Tocantins. Mas tirando algum excesso de cominho o prato era delicioso.

Jack tá aí, perguntavam seus detratores. Não tinha muitos. A não ser na família. Já que tá aí, me traz um golinho da tua pinga. Já que tá aí, me diz qual é a boa. Um poço infindável de azucrinações. Tinha muitos Daniels em casa. 18, 21 anos. Mas só abria nas ocasiões especiais.

Preferia correr na praia. Não corria muito. Só nas meio-maratonas. Mas essas eram muito pouco frequentes. Treinava todos os dias de manhã e de tarde. À noite só queria dormir se desse conta. Mas essa não era sua especialidade. Tinha que acostumar a ler os anúncios da madrugada depois de ler dois ou três livros.

Acordava com o carro da pitanga ou o de suco de murici. Saía pra praia sem luz pra treinar. Tinha que cochilar até os primeiros fios de sol pelas quatro horas. Logo às cinco treinando era um pleno clarão de cegar os olhos. Esquecera novamente o incômodo óculos de sol. Na verdade, não sabia se era melhor levá-lo ou esquecê-lo.

Pronto! Jack lá pode começar o dia e eu posso me mandar. Fazer o quê? A vida é essa mesmo: correr na praia, beber agua de coco, comer buchada aos domingos. Uma baita dificuldade...

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Miragem

Utopia não é outra pia

Não é miopia

Nem astigmatismo

Talvez alguma presbiopia

Porque concentra a visão

Aumenta o desconhecido

Utopia é um alvo

Lá na frente

Imaginado

Não visto

Que leva ao poeta dizer

Que o caminho se faz caminhando

Porque o horizonte imaginado

Nunca é o mesmo

É o rio de Heráclito

Mas no qual não se banha

Se sonha banhar

É um alvo

Miragem

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Utopia

Se me fosse dada outra vida

Renunciaria

Se me dada esta

Recortaria

 

Não me compete ser quem não sou

Me cabe desejar ser

Mas ninguém é

Ser é autoilusão

 

Estou

Simplesmente um movimento

Eterna construção

Partida sem chegada

Utopia

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Democragia ou Hemocracia?

Turbas pelo mundo

Pedem mais direitos

Melhores serviços

Nada mais justo

Mais democracia pensaram

Mas democracia não é rapidez

É lentidão

É ouvir todos

Não decidir abruptamente

Melhores serviços não são os instantâneos

Mas os mais bem realizados

Confundiram administração com política

Defenestraram a democracia

Pois a democracia é ouvir todos

E desagradar a todos instantaneamente

Por um bem comum futuro

De fazer o possível

E o impossível às vezes

No período mais democrático do mundo

Colocaram em coma a mesma

Será que em soluços a tal reacorda?

Haverá reacordo?

Ou teremos que caçar nazistas novamente?

Sufocar stalinistas? Não. Esses morreram.

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Vinil

Se fosse, ficaria a dois palmos da chegada

Se ficasse, chegado cá estava

Se o caminho tem voltas

Elíptico ou cilíndrico

O centro é exógeno

O caminho varia

Infere constante mudança

Na vitrola agulha grita

Bailando de um lado a outro

De uma interminável trilha

Do externo pro interno

O jardim de notas

Mistura-se

Com alguma regularidade

O bufão bufa

Sopranos e baixos se intercalam

Floreando o ritmo das bufas

domingo, 19 de outubro de 2025

Alma

Uma pedra tropeçou em mim

A colori de vermelho

Tingiu-se de vergonha?

Ou serão coisas da vida?

Uma vida bruta, com certeza

Não a da pedra, a minha

A pedra não tem vida

O embrutecimento não a deixa viver

Está lá parada no mesmo lugar

Com as mesmas perspectivas

A mudarão se a chutarem de lá

Ganharia um impulso

Mas poucas mudanças

Lavei-me

Lavei a pedra

A água fluiu

A pedra já não está no mesmo lugar

Já não é mais a mesma

Moveu-se

Agora tem ânima ou alma

sábado, 18 de outubro de 2025

Samba do lixo

Subiu a ladeira descendo as escadas.

Quis ignorar tudo o que não sabia

Entregou-se a liberdade

Solto em plena segunda-feira de oficio

Captou o incapturável

Na sexta prendeu-se a uma mesa de bar

Bebeu o intragável

Respirou o enfado

Dançou a música portuguesa

Tropeçou no argumento

Se levantou vitorioso

Perdera a primeira

Mas a segunda dose estava lá

A primeira o santo bebera

A terceira ninguém bebeu

A quarta, o quarto tinha dono

A quinta foi pros quintos

A sexta estava lá disponível pra quem acertar

Todo o lixo na rua

Na segunda, basculante do lixo e samba pra limpar

Sábado dorme, domingo abençoa, batiza o lixo

Na segunda a cuica geme e o tamborim retruca

O agogô sofre e passo a passo desviando do lixo

A limpeza publica a recolher

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Conto da Isadora

 


Isadora namora, namora ninguém. Isadora adora, adora um amém. Essas eram algumas das frases dirigidas a Isadora. Fervorosa defensora dos animais, não se incomodava com as indevidas comparações com Francisco de Assis, o santo italiano. Mas lhe incomodava a santidade. Aturdia a sanidade.

Dorinha com suas centenas de cães baldios e seus 1,80m pelejava para se adequar aos lugares. A frestas eram sempre muito curtas. Os lugares muito apertados para seus súditos vira-latas. Era um incômodo pra vila. Intensas brigas com a administração local.

Acusavam-na de trazer cachorros da cidade para a Vila. Atazanavam-na pelo aumento de cachorros, mas a principal defensora da esterilização dos cães era ela. Os vilões vilipendiados achavam um absurdo gastar tanto dinheiro. Vilão é habitante de vila. Preferem que gaste com a limpeza pública pra limpar os dejetos dos animais.

A vilaneza da vila era uma característica intrínseca. Não demorou a ser criado um esquadrão da morte. O departamento até tornou a caça de cães legal. A subprefeitura chegou a pagar R$ 0,15 por corpo de animal morto. O departamento de cremação chegou a não conseguir mais cremar corpos. Corpos de humanos, digo. Os jazigos nos cemitérios começaram ser ocupados com mais velocidade pela impossibilidade de se cremar.

Na falta de cemitério público os particulares passaram a cobrar mais com base na lei da demanda e da oferta. Os hospitais tiveram mais demanda, sobretudo os prontos-socorros com uma coleção de balas achadas pra tirar. As perdidas ficavam pela rua e, de vez enquanto, um incauto achava.

Por muito pouco não matavam Dorinha. De bala ou de coração. Ou de fome. Isadora passava os dias caminhando pela Vila. Não dormia. Não comia, não bebia água senão a de um dia de chuva. Quase morreu várias vezes. Escapou de tiros mortais mais de uma vez. Mais por destino que por pretensão.

Os habitantes sabiam também que se a matassem tornariam-na um mártir. A padroeira dos cachorros na Vila. E, detalhe, a vila tinha muito mais cães que gente. Ficariam em minoria. Logo se estabeleceria uma romaria da cidade pra vila pra cultuar Santa Isabela dos cachorros do vilarejo. Isabela mesmo. Não Isadora. Mudariam o nome da santa pra esquecer o nome da outra.  

Escapou da exaustão final por vários tiros. Quando era socorrida, uma ampola de soro salvava-a da inanição. Sua vida estava em contraponto a vilaneza. O que os vilões e vilãs necessitavam eram o oposto de seus desejos. Estavam em pleno contraponto, mesmo quando algum cão salvava uma criança de ser atropelada. O condutor reclamava dos danos em seu veículo. Ninguém jogava um biscoito canino pro herói. Até porque era proibido vendê-los na vila.

Cansei... santa ou diaba essa é a história de Isadora, a Dorinha dos cachorros.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

O eterno e o tempo

Quanta coisa não foi?

Não foi?

Acabou ficando

No meio da rua

Por sobre a calçada

O beijo bandido

De despedida

Pra nunca mais

O gosto doce na boca

O amargo da perda

O idílico do sonho

A dor da separação

Fez-se uma eternidade

Irrepetível

O eterno estará lá

Fora do tempo

A falta, a saudade...

Hão de consumi-lo

O tempo

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Caos gaseificado

A razão sai-me da cabeça

Para dominar o mundo

O universo se rebela

Não quer ser contido

Especificado

De que espécie é o universo, Lineu?

Tudo tem que estar numa caixinha

Bem organizado

Né, Marie Kondo?

Mas eu devaneio

Junto os reinos

Coloco as espécies nas expressividades

Junto formigas e besouros de olhos azuis

E o carvão ao olho do carcará

Sonho com salada de borboletas

Regadas a mel

Pulgas tomando banho

No meu vira-lata

O vira-lata sou eu

Ele é o lorde em sua mansão

Eu tomo a rua como minha vida

E respiro o caos

Ordem? Pra quê? Pra quem?

Socorro! Quebrei o meio-fio

Quebrei o meu fio

Alguém tem um novo violão

A música tem que parar

A poesia incomoda

Resiste, persiste

Eu? Eu vou embora.

Poesia não tem eu.

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Eternidade e Infinidade

Se dois mais dois fosse quatro

Vamos supor que seja

Meu desejo colaria no teu ensejo

Meu queixo no teu beijo

Meu viver num breve alento

Teu pescoço no meu relento

O tempo não seria tão veloz

A saudade tão cruel

Teu magnetismo não...

Suor não teria sal

Soro sem açúcar

Seria um banho de mar

O eterno seria interminável

Nosso eterno amor

Morre e renasce a cada instante

Maldito tempo!

Sim... vai embora...

Agorinha nos vemos

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Paixão repentina

 Apostei tudo

Perdi o tempo

Ganhei a vida

Foi uma tacada certeira

Acertei o beijo

Colhi o abraço

Restou a saudade

Dura separação

De ser eu

E não ela

Joguei os dados

Comprei os resultados

Fiz aliança

De papel de bala

O que será do futuro?

Amanhã é outro dia

Reencontraremos?

Eu já estou perdido.

domingo, 12 de outubro de 2025

Por um ensino mais significativo

 


Inicialmente já quero deixar claro que não sou físico, nem matemático. Já comecei engenharia civil, mas cursei mesmo foi comunicação social e filosofia. Primeiro fiz comunicação, depois filosofia. Fui um estudante razoável tanto de física quanto de matemática. Melhor de matemática que de física.

Vou me valer da minha qualidade de bom generalista. O que tanto comunicação quanto filosofia potencialmente podem criar em seus estudantes. Comunicação, na minha (deveria sublinhar infinitamente o particular minha) opinião, faz muito mal e com fundamentos equivocados. E a filosofia pode fazer muito bem com variados fundamentos coerentes ou propositalmente incoerente.

Então com a autoridade de quem estudou uma formação útil (a comunicação), baseada em teorias sem pé nem cabeça, e uma formação inútil (muito felizmente), solidamente embasada, venho discutir o ensino de física no ensino médio. Nem bem isso, venho propor uma utopia. Algo que devia estar na cabeça de todos os professores de física e matemática.

A física deveria ser estudada mais como fundamento, teoria, explicação do que como solução pronta. Nós todos adoramos respostas prontas e ao repassar as formulas descobertas por Newton as pessoas aprendem a resolver coisas que cada instante passam a saber menos o que é. Digo: Velocidade, velocidade é distancia pelo tempo. Aceleração é velocidade pelo tempo. Se perguntarem velocidade e aceleração basta aplicar a formula não importa o contexto. Pra efeitos práticos não importa mesmo. Mas pra entender o que aconteceu... a física... não importa.

Se for mudança de velocidade basta subtrair da velocidade maior a menor. Pra cada velocidade eu sei que é o deslocamento dividido pelo tempo. Da mudança de velocidade posso tirar a aceleração. Basta conhecer as velocidades inicial e final e saber o tempo. Se eu consigo traduzir tudo isso em álgebra, posso até pensar numa equação que com os espaços e tempos respectivos posso deduzir a aceleração. Mas se me dessem uma formula já resolveria logo isso. Nem precisava entender o que aconteceu.

Estou falando de coisas incrivelmente básicas com o intuito mesmo de me acharem idiota. É justo. Mas os que me acharam idiota, podem ser até inteligentes, mas não entendem de física, digo de dinâmica. Ou pelo menos não querem entender o movimento. Sim, podemos produzir gênios que conseguem aplicar a física magistralmente nas suas áreas: fazem pontes maravilhosas, redes de distribuição de energia magistrais, mas que não tem a menor ideia do que estão fazendo porque aprenderam aplicar a álgebra, mas não tem a menor ideia do que é física ou álgebra.

O ensino médio é um manual de como resolver o mundo usando por exemplo a física, mas que não foca no aprendizado de física. Não deixa evidente que a físico-química é o ensino dos cálculos necessários para fazer reações, otimizá-las. Falta contexto em tudo quando é dado a formula para resolver o problema momentâneo que infelizmente impossibilitará que se compreenda o que deveria e, portanto todos os demais problemas não tenham nem caminho para serem resolvidos porque ninguém teve a pratica. A experiencia de ao compreender o problema procurar resolvê-lo.

Que bom seria se ensinássemos as matérias, no caso física, e fosse aberto que as pessoas usassem o seu conhecimento para tentar resolve-las sem uma formula dada e as avaliações fossem da compreensão do problema e da elaboração da solução. Não a se acertou ou errou inicialmente. Se o ensino médio passar a ter quatro anos para dentro de outras coisas o ensino dos fundamentos do cálculo infinitesimal, poderíamos também adiar por algum tempo o ensino das formulas. Ou seja, deixar mais para o fim de um quadrimestre, semestre ou ano a adição de formulas. Mas é uma utopia, obviamente


sábado, 11 de outubro de 2025

Impassível

Atravessei o rio

Fruto da imaginação

Engasguei os sonhos

Regurgitei esperanças

Molhado

Percebo

Não é um lago

É a poça d’água

As minhas lagrimas

Renderam

Mas não passo pano

Nem bato palmas

Quem quiser abrir a porta

Ou a janela

Que abra

Não sairei

Tranquilo estou

Impassível

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Conto de Hector

 


Hector, o belo, mais belo que marmelo, vivia em seu imenso mundo. Nem tão limpo, nem tão imundo. Sabia dizer as coisas, ser prolixo, mas não profundo. Andava com alguma dificuldade. Nada que os muros não ajudassem. Paredes que nunca travessou, digo, nunca pulou. As pontes sim, nunca pulava. Atravessava todas as pontes possíveis.

Era um demagogo da melhor qualidade. Não, nunca pretendeu ser candidato a nada. Mas era o grande político da cidade. Estava em todas as rodinhas. Embora não entendesse quase nenhuma, conhecia todas as tendencias, correntes, inclusive os disse-me-disses. Sabia dizer algo razoável em cada rodinha. Dar sua opinião mais sincera sem se comprometer.

Era o cara dos cosméticos. Dava opiniões que não construíam nada, mas agregavam todos os aspectos da roda. Sabia que oferecer um café ou um bolo ou realçar o canto do sabiá ou canário do reino era muito mais útil que uma convicção. Não torcia por nenhum time, mas pela vitória da competitividade e a compaixão pelos derrotados. Ia a todas as disputas, mas não comparecia a estádios ou ginásios por mais que cinco ou dez minutos.

Era capaz de arrastar multidões, sobretudo nos dias de Reis e Cosme e Damião. Adultos e crianças. Não arrastava sozinho, é verdade. Mas era uma espécie de líder das frivolidades. Obviamente não são datas frívolas, nem suas comemorações. Mas ele era. Só sendo um mestre nas frivolidades conseguiria ser tão agradável.

Andava pelas ruas sem se desviar de ninguém. Não precisava. Para tudo tinha uma fala tão inútil que poderia passar desapercebida a não ser agradável notícia para as pessoas de que elas eram notadas. Podia ser um idiota. Suas palavras não levavam nada pra frente, nada acrescentavam, mas era a cola da cidade. A ponte entre todas as diferenças.

Poderia ser um carteiro como o Hermes, o mensageiro dos deuses que tinha asas nas sandálias. Hermes que era padroeiro dos diplomatas por interligar reinos e pessoas. E dos ladrões, por ser muito furtivo. Essa ultima característica não tinha. Era muito honesto com outros. Não consigo. Tinha dias que preferiria se enfiar pelado num barril como Diógenes, o maior dos cínicos. Cínico em grego era cachorro. Talvez cachorro fosse uma boa definição da agradabilidade de nosso personagem.

Talvez fosse tratado como um cachorro mesmo. Recebia tanta simpatia quanto desimportância. Quanto mais era ignorado, mais era adorado. Uma baita cachorrada! Me revoltei! Não tenho a paciência, malemolência de Hector. Termino por aqui.

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Sobrevivência

Cobriram o sol

Tomaram toda a luz pra si

Me deram a escuridão

Escondi minhas coisas dentro

Eles brilharam

Eu anoiteci

Estrelei

Abrangi o resto

Submergi

Não me viram

Mas estava ali

E aqui também

Abrangi tudo

Para que não fosse

Queimado pela luz

Me fiz insonso, inodoro, inaudível, invisível

Sobrevivi

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Guarda

O mar lava a alma

Leva a secura

Pra longe do mundo

Eu, cacto, cá estou

Armazeno água

Como se não houvesse ontem

Resisto amanhã

Hoje é solar

Hei de florescer

De frutificar

Mas o mar há de levar

Tudo de longe

Para o remoto

Finco meus pés

Sólidos na areia

Não entro na onda

Não me importa a moda

Hei de beber água

Hei de guarda-la

terça-feira, 7 de outubro de 2025

Relação

Se voar faz parte,

Cadê minhas asas?

Cortaste devidamente

Não cabe no inferno

Ser um anjo

Ou cabe?

O que cabe ou não cabe

Não me interessa

Fostes insipida

Inodoro eu fui

Trocamos

Não cabe ter asas no covil

Cabe ter chifre?

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Aventura

Derrapei no caminho

Perdi o sol

Rolei na lama

Faltou água

Me enxuguei no vento

Formou crosta

Me quebrei no cipó

Sujou o açude

Passei sabão

A roupa era branca

De marrom virou cinzas

O fogo apagou

Voltei pra casa

domingo, 5 de outubro de 2025

Domingos

Eu cá no domingo

O povo lá no Domingos

Não me animo

Nem me desespero

A cachaça é boa

Mas a calma é ébria

O samba é bom

Mas o silêncio...

Domingos é lá na esquina

Minha mente vai mais longe

Chegará o dia de Domingos

Por hora cá estou

sábado, 4 de outubro de 2025

Nada

 

No meio do caminho há fins

No final só desilusão

No início não havia nada

 

No meio do meio-fio há fios

No final mera combustão

No início uma subestação

 

No meio da noite insônia e desilusão

No final alguma conclusão

No início breja e torresmo

 

No meio, no final e no início não havia

Havia tudo

Nada que não pudesse ser feito

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Conto do Guilherme

 


Guilherme Tell, ou Guilherme de Tell, foi um arqueiro famoso cantado em prosas e verbos pelo mundo ocidental todo. Mas nunca foi nem a sombra de seu bisneto Guilherme de Tal, que não precisava de frutas tão vistosas como uma maçã para acertar a poucos quilômetros de distância.  Coisa de amador! Gostava de cortar longitudinalmente fios de cabelo arremessando do arco pequenas agulhas para infligirem módicos furos em fios de cabelos em sequência.

Com tamanha precisão não podia trabalhar num castelo, nem mesmo num teatro. Precisava se exibir num circo de pulgas. Era preciso uma micro atenção, uma visão microscópica para sua arte. Só mesmo com a ampliação de milhões de vezes numa tela era possível se maravilhar com tamanha destreza. Era muito complicado! Confundiam arte milimétrica com minimalismo.

Tinham que ampliar milhões de vezes num telão para as pessoas verem. Tanta destreza e eficácia dificultava tudo. Não era uma habilidade que lhe sustentaria por muito tempo. Virou chefe de cozinha molecular. Assim podia fazer seus malabarismos e se exibir em pratos exóticos acuradamente calculados. Reações vistosas e belas.

Adorava fazer luzes, controlar luzes. Ver as mudanças de cores, odores, sabores. Mudar texturas. Transformar a culinária em laboratório para fazer malabarismos. Lançar temperos aos pratos com precisão milimétrica. Virar omeletes, tortas, tortilhas, panquecas...  Arremessar pratos às mesas.

Chegava todo dia de madrugada na cozinha pra treinar os seus novos truques, testar composições. Se divertir com cores, odores e sabores. Depois ia a feira quase no amanhecer pra fazer malabarismos com frutas e verduras. De volta a cozinha picava os ingredientes em diferentes formas e texturas. Tirava um cochilo num quartinho ao fundo da cozinha. O restaurante só abria uma hora da tarde.

Quem quisesse provar só tinha das 13h ás 17h pra aproveitar. O restaurante ficava aberto até às 22h mas o artífice era outro. Guilherme era irredutível com o horário de trabalho: das 3h ás 9h, das 12h às 17h. Dia sim, dia não. Nos dias não treinava em casa a tarde inteira os arremessos de pratos com o arco.

Era uma espécie de teste de qualidade dos pratos. Era o maior descobridor dos lotes com defeitos. As louças eram testadas com muita delicadeza. Pois ele sabia fazer os pratos aterrizarem com maior cuidado que se fossem colocados com a mão na mesa. Também testava os forros de mesa pra descobrir se eram lisos o suficiente para serem retirados sem mover o que estava acima deles.

Uma rotina muito regular que não permite o descanso de Guilherme que aliás já me confidenciou que é o momento. Boa noite, Guilherme! Bom dia leitor. Eu sigo minha insônia por aqui, mas não nesse texto. Descansem!

O sabiá sabia assobiar

  Assim cantou o sabiá Como sempre Sabia assobiar Com a melodia assombrar E o ritmo encadear O sol sobe e a lua baixa As estrela...