Isadora namora, namora ninguém. Isadora adora,
adora um amém. Essas eram algumas das frases dirigidas a Isadora. Fervorosa
defensora dos animais, não se incomodava com as indevidas comparações com Francisco
de Assis, o santo italiano. Mas lhe incomodava a santidade. Aturdia a sanidade.
Dorinha com suas centenas de cães baldios e
seus 1,80m pelejava para se adequar aos lugares. A frestas eram sempre muito
curtas. Os lugares muito apertados para seus súditos vira-latas. Era um incômodo
pra vila. Intensas brigas com a administração local.
Acusavam-na de trazer cachorros da cidade para
a Vila. Atazanavam-na pelo aumento de cachorros, mas a principal defensora da esterilização
dos cães era ela. Os vilões vilipendiados achavam um absurdo gastar tanto dinheiro.
Vilão é habitante de vila. Preferem que gaste com a limpeza pública pra limpar
os dejetos dos animais.
A vilaneza da vila era uma característica intrínseca.
Não demorou a ser criado um esquadrão da morte. O departamento até tornou a
caça de cães legal. A subprefeitura chegou a pagar R$ 0,15 por corpo de animal
morto. O departamento de cremação chegou a não conseguir mais cremar corpos. Corpos
de humanos, digo. Os jazigos nos cemitérios começaram ser ocupados com mais
velocidade pela impossibilidade de se cremar.
Na falta de cemitério público os particulares
passaram a cobrar mais com base na lei da demanda e da oferta. Os hospitais
tiveram mais demanda, sobretudo os prontos-socorros com uma coleção de balas
achadas pra tirar. As perdidas ficavam pela rua e, de vez enquanto, um incauto
achava.
Por muito pouco não matavam Dorinha. De bala
ou de coração. Ou de fome. Isadora passava os dias caminhando pela Vila. Não dormia.
Não comia, não bebia água senão a de um dia de chuva. Quase morreu várias vezes.
Escapou de tiros mortais mais de uma vez. Mais por destino que por pretensão.
Os habitantes sabiam também que se a matassem
tornariam-na um mártir. A padroeira dos cachorros na Vila. E, detalhe, a vila tinha
muito mais cães que gente. Ficariam em minoria. Logo se estabeleceria uma romaria
da cidade pra vila pra cultuar Santa Isabela dos cachorros do vilarejo. Isabela mesmo. Não Isadora. Mudariam o nome da santa pra esquecer o nome da outra.
Escapou da exaustão final por vários tiros. Quando
era socorrida, uma ampola de soro salvava-a da inanição. Sua vida estava em
contraponto a vilaneza. O que os vilões e vilãs necessitavam eram o oposto de seus
desejos. Estavam em pleno contraponto, mesmo quando algum cão salvava uma
criança de ser atropelada. O condutor reclamava dos danos em seu veículo.
Ninguém jogava um biscoito canino pro herói. Até porque era proibido vendê-los na
vila.
Cansei... santa ou diaba essa é a história de Isadora,
a Dorinha dos cachorros.
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