A arte é
muito mais eficiente ao capturar (ou ser capturada) pelo Zeitgeist (o espírito
do tempo). Portanto contar a história
geral, humana, dita universal pela arte dos povos, grupos, nações parece ser
uma abordagem muito mais rica, plural e sujeita a mais interpretações e mais erros.
Quanto mais é possível errar, melhor é o método. Como assim seu idiota??? Você
diz que o método menos rigoroso é melhor??? Não!!! Que métodos abertos são melhores
que fechados.
Não é possível descobrir uma verdade quando se
sabe há pelo menos um séculoBa que as verdades são particulares. Que as ditas “verdades
universais” são verossimilhanças consensuadas, algo que nos dá chão pra pisar. Estar
próximo ou muito próximo da verdade é melhor que se prender a fantasias como se
fossem realidades. Então você quer dizer que dois mais dois igual a quatro não
é uma verdade? É sim. É uma verdade analítica, que é uma autoproclamação: só
garante a si mesma.
Não era o
propósito, mas estico: duas bananas mais duas laranjas são quatro frutas. Duas
mangas mais duas jaboticabas igualmente. Duas bananas e duas laranjas são
iguais a duas mangas e duas jaboticabas? As situações, os sujeitos, as
interações mudam a reação. Usei uma lógica física ou química. Nem sociologia,
nem filosofia, porque para essas é muito mais óbvio. Para qualquer hermenêutica,
tudo é muito susceptível.
Textos se
tornam eternos porque podem ser reinterpretados. Universais também porque a tradução
permite ultrapassar realidades dispares entre as línguas. Não há fidelidade
nenhuma nisso. Há a lealdade possível. Para isso há a verossimilhança de criar metáforas
e metonímias para mudando tudo mostrar os aspectos primordiais do texto que se
julga que deveriam ser preservados.
Somente a
arte consegue numa mesma obra se dizer e desdizer do modo de sua época. Mostrar
os conflitos não como discurso, as vezes nem como descrição, mas como
narrativa. A narrativa do conflito é muito mais complexa: mocinho não é
mocinho, nem bandido é bandido. Sem defender um ou outro, em muitas situações
fazem o inverso. Na maioria, não é muito claro quem é quem. Salvo os casos limítrofes,
as pessoas tendem a variar entre um ou outro, virtuoso e desvirtuado com frequência
e precisam de uma narrativa para se estabelecerem como mocinho ou bandido. As
melhores obras são as que não tem nem mocinho, nem bandido.
Quanto mais
uma obra é particular, tem as dores, os prazeres, o espírito de seu tempo, mais
ela é universal. A obra mais universal é a que explora a singularidade, as
dores do individuo em seu tempo porque por mais que seja subjetiva (e, portanto,
limitada) será lida por sujeitos que se identificarão. Quando se diz que o
sertão, a vila isolada é o mundo é uma verdade porque mostra os aspectos essenciais.
Embora as metrópoles mostrem muito mais o mundo que é intrinsecamente
interligado. Essa é uma visão geral, panorâmica que não alcança as
especificidades.
As narrativas
particulares (escritas, pintadas ou cantadas) mostram lugares, épocas, ambientes
que não vivemos, mas tem maior verossimilhança com nossa realidade do que
textos que tentam descrever ou dissertar sobre o real. Não há verdade, mas
verossimilhança graça por todo o lado. É muito mais completo descrever uma
goteira numa poesia que num relatório técnico. O ultimo tem a virtude ser
objetivo, mas deixa escapar quase tudo do que é uma goteira.
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