O que diria Queila? É sempre uma boa pergunta
que teria sempre uma resposta inesperada. Queila certamente diria algo que não
desejasse dizer. Não pra agradar ninguém. O que, aliás, não agradava. Tinha
sempre aquela resposta a uma pergunta não feita disfarçada de má compreensão da
pergunta feita. Era como se fosse um exercício de contorcer, torturar as
palavras, desfazer rimas e colocar farinha na areia.
Foi assessora da câmara municipal por muito
tempo. Sempre deixava todo mundo insatisfeito. Não comprometia os vereadores,
mas também não os defendia. Ah! Então ela se limitava aos fatos? Longe disso! Seu
discurso até tinha alguma veracidade, mas fato era o que menos tinha ali.
Tudo pra ela era um causo onde em nome de
ilustrar a história retirava todos os fatos, as narrativas centrais e amarrava
uma serie fuxicos marginais de modo a dar uma interpretação mais justa às
coisas. No meio da conversa deslocava uma ou duas rimas de lugar de modo a tirar
todo o ritmo da conversa.
Ninguém era mais atenta às seções pra que
nenhum fato saísse sem o seu floreio. Bom floreio é uma péssima palavra porque
se tivesse qualquer gramínea ali o que ela fazia era passar um dessecante.
Tornava tudo aquilo ali desinteressante para quem não tivesse paciência para
minerar as histórias. Transformar minutos de conversa em um ano de constatações
ao apurar todas as pistas deixadas.
Queila precisava ser compreendida. Quase
ninguém a compreendia. Sobretudo os vereadores e funcionários graduados da
casa. Se a compreendessem seria sumariamente demitida por vazar tantos indícios.
O grande problema é que ninguém tinha um on. Precisava cavoucar os indícios pra
achar os fatos denunciados. Quando perguntavam a um vereador não podiam dizer
de onde tiraram e muitas vezes estes se indignavam, diziam que é um absurdo e
retoricamente perguntavam de onde teriam tirado aquelas perguntas absurdas,
aquelas blasfêmias, injurias e difamações.
Certa vez, no meio da conversa, disse que os
funcionários de uns vereadores tinham uns meses que não recebia os salários integrais.
Uns dias depois que o partido de um tal vereador estava com muito dinheiro pra
campanha. Outra oportunidade que outro tinha comprado um barco enorme. Se
tivessem perguntado a ela se alguns vereadores estariam desviando dinheiro dos
funcionários ela diria que não poderia afirmar, não tinha como saber disso.
Ela só repassava as conversas da câmara. Nada além
disso. Sem nenhuma intenção por traz. Apesar de dizer que ninguém ali era ingênuo.
Ninguém. Sempre tinha desdobramentos. Toda fala. Ela mesmo não falava mal de
ninguém. So repassava o que essas pessoas maldosas falavam pras pessoas saberem
como são as coisas. Se tinha uma coisa que odiava era fofoca.
Essa é a Queila que só não era sincera porque
é perigoso. Se fosse sincera ninguém suportaria ela, segundo ela mesma não
cansava de dizer. Dizia que mentia, mas mentia só pra se defender porque as
verdades são muito agressivas. Fiquei com medo! Tchau! Hora de terminar esse relato...