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sábado, 17 de maio de 2025

Urbis et Orbis

Ninguém quer andar nas ruas. Nem ocupar as praças. Mas todo mundo quer reclamar do declínio das cidades. Para que praças se existem shoppings e condomínios fechados? Se o beco é vazio e perigoso a culpa não é do não uso deles. É do beco não ser uma encruzilhada, um carrefour,,, Não é hipocrisia. É burrice mesmo!!!

Aqui perto de casa tem uma praça. Já morei de frente a ela. Hoje nem tanto. Duas coisas incomodavam moradores da quadra: traficantes usando a praça e moradores de rua dormindo em frente a igreja. Dois eventos facilmente evitados pelo uso da praça. A praça vazia propiciava as duas coisas: privacidade para entregar entorpecentes e receber dinheiro e silencio para os indesejados por muitos sem domicilio dormirem.

Em vez de ocuparem a praça, resolveram derrubar a vegetação para a praça ter mais visibilidade e dificultarem crimes. Destruir o campo de futebol para que meliantes não ocupem vestiários desocupados. Repito: desocupados. Será que se transformarmos as cidades em Malls as pessoas vão frequentar?

Desumanidade

Solapando a lógica

Cresce a racionalidade

Quando só queremos sentir

Intuímos o desejo

De ter razão sobre tudo

Não uma razão universal

Mas o direito de estar certo

De justificar nossos desejos

Querer é poder

Basta racionalizar

Chamar ânsia de necessidade

(A humanidade morre a cada expiração)

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Individualismo e Felicidade ilusória x Responsabilidade e Felicidade real

 


Embora nunca seja agradável pensar, sobretudo criticamente, creio que é oportuno propor uma discussão sobre o nosso isolamento real num mundo imaginário (não estou falando de internet ou tecnologias, pois elas são reais). Nós vivemos em um mundo lúdico, um mundo de interpretações pelo qual às vezes passamos secamente observando muito mal a paisagem. É desesperador o quanto refletimos pouco e observamos pouco nossos parceiros com o qual interagimos ou não.  Temos a velha comodidade de apreender sempre apenas ou que foi dito ou o que é mais comum ainda: o quisemos ouvir.

É claro que tentar compreender o outro exigiria uma maior complexidade de pensamento nossa e, sobretudo, do agir. É óbvio que seria necessário que entendêssemos um pouco da psique individual, sobretudo da nossa que é a mais difícil. É evidente que necessitaremos de um método que seja, senão claro, pelo menos evidente. O conhecimento das relações; talvez pelo método empírico da experiência mesmo não sendo possível agregar um método externo, uma ciência, para analisar o caso; é essencial para a nossa pretensiosa intenção. Aí, eu creio que paira um problema mais complicado, pois mesmo com toda boa intenção, entender o próximo é sempre mais complicado e exige muita habilidade e disponibilidade.

Sem dúvida seria um passo fenomenal entender o que as pessoas dizem e não o queremos ouvir, no entanto seria um passo ainda maior entender o que as pessoas querem dizer - é claro sem a nossa pretensão de distorcer as coisas de acordo com o nosso sentimento, por isso o método-. É isso que proponho tentar fazer, não sem levar em conta o desgaste e o empenho necessário para isso, no dia-a-dia ou no máximo de casos que conseguirmos.

Parece estarmos cada vez mais numa sociedade, e é muito claro isso até pela fase do capitalismo e do individualismo que estamos, que perdeu o senso de corresponsabilidade, onde cada um cuida de si, não se cuida mais do outro. Parece que se perdeu a ideia de sistema único, de ecologia, de geopolítica. É cada vez mais patente que apesar de estarmos num mundo profundamente interligado (pelo menos esse fato positivo!) nós agimos como se nossas ações fossem isoladas. Essa consciência ética que temos, meu amor, se não se tornar mais geral certamente nos afundará a todos em um poço de egoísmos.

Deixamos a responsabilidade social para nossos governantes fazerem caridade, quer dizer, humilhar ainda mais quem já está humilhado. Não conseguimos estabelecer parcerias uns com os outros. Reinamos um império de desconfiança. E sabemos que preço alto pagamos por confiar. Embora saibamos que não importa o preço, é sempre melhor para o todo estabelecer um sistema de confiança. E morremos senão da fome de alimentos, da fome de compreensão, da fome de carinho, sobretudo da fome de fraternidade se continuarmos a viver nesse império de desconfiança.

É claro que estaria provavelmente perdendo meu tempo falando isso se fosse com outra pessoa porque já não nos importa o outro, sobretudo se não o conhecemos. Já não temos mais laços. Já não temos o sentimento de/da humanidade, o que é muito natural porque não somos mais humanos, somos indivíduos. Fomos reduzidos a quase números.

Realmente se algumas ideias mais avançadas das ciências puxadas pela ecologia buscam valorizar o todo, e não as partes como queria Descartes, fico muito alegre com isso, pois, apesar de aumentar a nossa responsabilidade, valoriza o que há de mais humano em nós: a fraternidade. No dia em que cada ser humano decidir cuidar de si, dos próximos, do meio-ambiente circunvizinho, do seu continente e do mundo, cada um a sua vez e ao mesmo tempo, teremos tempos memoráveis.

Ah se todo ser humano pudesse ter tempo para analisar as suas atitudes, pudesse refletir suas ações, concebe-las em todo um raio de influência. Pudesse analisar o outro sem preconceitos ou com o mínimo deles já que não é possível analisar sem um conceito anterior. Pudesse mergulhar nas intenções suas e dos outros. Pudesse ser humilde o bastante para aprender com as situações. Mas já que como individuo, número, não pode, não desisto... mas até outra... continuemos a lutar...

 

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Amassa

 O mundo morre

Eu vivo

Autoprotegido

Sem meus próprios medos

Isolado de um mundo de pavores

 

Mas os horrores me horrorizam

Deixam-me atento

Pronto a na rua fugir da via

A qualquer momento

Qualquer sussurro

Um mero vento

 

Posso fugir de todos

Posso ser um em bilhões

Posso estar pleno na praça

Mas não posso ser único

Ser tão individual como qualquer um

O diferente que nos torna iguais

Todos tão igualmente alternativos

Música indie em plena moda

(Eis a massa!)

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Por uma "ligião"

 


Há pouco na páscoa comemoramos a data onde o Deus do puro amor, o Deus do Novo testamento, Jesus Cristo se fez homem. O mesmo Deus amoroso e misericordioso que resumiu as 10 leis mosaicas a apenas duas (duas leis de amor): “(...) Ame ao Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda sua alma, e com todo o seu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Ame ao seu próximo como a si mesmo. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos” (Mateus 22, 37-39). Ou seja, determinou que a autoridade de todos os demais mandamentos como dos demais ensinamentos cristãos baseiam-se nos mandamentos do amor, como são conhecidos os dois primeiros mandamentos.

O amor é sentimento mais coligativo, agregador, mais político que existe (você sabe que falo do que entendemos classicamente por política). No entanto, vemos hoje em dia que as denominações religiosas promovem justamente o contrário disso, sobretudo por evocarem a verdade para si, quando o próprio Deus que se fez homem afirmou em João 14,6: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”, o que não deixa nenhuma dúvida possível de que a verdade esteja no Nazareno e, que, portanto, não possa ser atributo de nenhuma religião cristã em particular, pois seria um contrassenso, um desrespeito justamente a quem lhes deu sentido.

Mas infelizmente, o problema da tentativa de ligar a Deus o que já nasceu ligado e que foi religado duplamente pelo sacrifício do filho, do cordeiro de Deus, e por pentecostes, quando o Espírito Santo vem habitar o mundo, é muito mais grave, pois provoca todos esses problemas já citados, e muitos outros, ao tentar religar o que já está ligado.

As religiosidades primitivas e até algumas do começo da história, na era escravagista, não diferenciavam o religioso do profano. Não separavam um mundo sagrado de um mundo mortal e chinfrim, quem fez isso foram as religiões "ocidentais" como conhecemos: as cristãs, árabes, judaicas, espíritas e espiritualistas também de certo modo ao se abastecer das outras. Inicialmente ninguém pensava que necessitava parar sua vida para em instante separado cultuar a uma deidade. Viver já era o ato em si. A religiosidade, os cultos, já estava implícita nas regras cotidianas quando se admirava o céu ou as estrelas ou o Mar Vermelho por exemplo.

O divino que estava dentro dos homens não necessitava ser explicado como, por exemplo, pela terceira pessoa da trindade: o Espírito Santo. Todos tinham plena consciência de ter algo divino dentro de si, ainda que não fosse uma definição perfeita, pois a maioria o tinha como algo separado como corpo e alma. Alguns povos, sábios em sua simplicidade não faziam quaisquer diferenciações. Esses povos não eram necessariamente o que os filósofos modernos chamariam de os mais primitivos. Povos como os Bretões, embora cultuassem divindades que algumas vezes viviam em mundos separados, algumas vezes só em reinos, não diferenciavam sua condição divina da condição profana.

Creio que eticamente, é muito ruim separar a crença do ato influenciado por ela. Na verdade, se conseguíssemos nem diferenciar ato e crença seria melhor ainda. Digo se a crença fosse também considerada um ato. A diferenciação entre a teoria, a fé, o pensamento e a prática é a maior causa da hipocrisia e, justamente por isto que muitos religiosos são profundamente hipócritas, embora muitas vezes até sejam imersos pelas melhores intenções.

Se religião é religar, não faz o menor sentido que as religiões, nascidas no oriente médio e, predominantes no ocidente, se esforcem tanto para diferenciar e separar os mundos da vida espiritual e material. Não existem dois mundos, o mundo é e sempre foi um só, fomos nós que por efeitos metodológicos os separamos como se alma vivesse sem corpo ou corpo sem alma. Corpo e alma, razão e emoção são uma coisa só. Nós apenas insistimos em separar a clara da gema, como se não fosse um ovo só. Seria injusto se eu não dissesse que os primeiros cristãos tinham uma ideia de religiosidade imanente, embora Deus não estivesse num mesmo plano que os homens, mas com a institucionalização das religiões cristãs tudo se perdeu e o maniqueísmo simplificador se fortaleceu.

Todo o maniqueísmo simplificador deveria ser negado pelos homens, os quais longe desse grande problema viveriam a natural e intensa ligação com Deus e experimentariam diretamente todo o seu amor. Sem a necessidade de religar, nunca precisaríamos nos desligar do que há de mais precioso em nós: nossa ligação com o Divino. Assim poderíamos ter muitas e sinceras Ligiões, embora eu acredite que no fim das contas haveria uma só, pois haveria um único objetivo: curtir a graça de sua ligação a Deus.

terça-feira, 13 de maio de 2025

Do existencialismo ao niilismo

Voar não é pavimentar o chão

É antes abstrair o caminho

Da materialidade à imaginação

É ver com outros olhos

O gosto da imersão

Num universo sem latitude

Trespassar a divisão

Dobrar o arame liso

Arrebentar o farpadão

Correr sem ter destino

Perecer na multidão

Ressuscitar sozinho

Saber-se um mero grão

Imiscuir-se na solução

(Tudo solucionado perdido está)

Uma vida torcida

Calças puídas de arquibancadas

Perdas punidas e vitórias despedaçadas

Assim vive o apaixonado

 

Recebendo punhaladas das esperanças

Agradáveis anseios

Esperas fatigadas

 

Mau tratado por suas paixões

Enterrado solenemente em

Inacabável esperança

 

Quanto menos recebe

Mais buques envia

Cava a própria cova

(Num belo caixão o torcedor)

Conto de Ulices

  Ulices não foi pra ilha de Creta. Nunca pretendeu tomar uma rainha. Quer dizer, uma vez no xadrez sim. Na Dama nunca chamou a dama de rain...