Acompanham

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Amassa

 O mundo morre

Eu vivo

Autoprotegido

Sem meus próprios medos

Isolado de um mundo de pavores

 

Mas os horrores me horrorizam

Deixam-me atento

Pronto a na rua fugir da via

A qualquer momento

Qualquer sussurro

Um mero vento

 

Posso fugir de todos

Posso ser um em bilhões

Posso estar pleno na praça

Mas não posso ser único

Ser tão individual como qualquer um

O diferente que nos torna iguais

Todos tão igualmente alternativos

Música indie em plena moda

(Eis a massa!)

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Por uma "ligião"

 


Há pouco na páscoa comemoramos a data onde o Deus do puro amor, o Deus do Novo testamento, Jesus Cristo se fez homem. O mesmo Deus amoroso e misericordioso que resumiu as 10 leis mosaicas a apenas duas (duas leis de amor): “(...) Ame ao Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda sua alma, e com todo o seu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Ame ao seu próximo como a si mesmo. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos” (Mateus 22, 37-39). Ou seja, determinou que a autoridade de todos os demais mandamentos como dos demais ensinamentos cristãos baseiam-se nos mandamentos do amor, como são conhecidos os dois primeiros mandamentos.

O amor é sentimento mais coligativo, agregador, mais político que existe (você sabe que falo do que entendemos classicamente por política). No entanto, vemos hoje em dia que as denominações religiosas promovem justamente o contrário disso, sobretudo por evocarem a verdade para si, quando o próprio Deus que se fez homem afirmou em João 14,6: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”, o que não deixa nenhuma dúvida possível de que a verdade esteja no Nazareno e, que, portanto, não possa ser atributo de nenhuma religião cristã em particular, pois seria um contrassenso, um desrespeito justamente a quem lhes deu sentido.

Mas infelizmente, o problema da tentativa de ligar a Deus o que já nasceu ligado e que foi religado duplamente pelo sacrifício do filho, do cordeiro de Deus, e por pentecostes, quando o Espírito Santo vem habitar o mundo, é muito mais grave, pois provoca todos esses problemas já citados, e muitos outros, ao tentar religar o que já está ligado.

As religiosidades primitivas e até algumas do começo da história, na era escravagista, não diferenciavam o religioso do profano. Não separavam um mundo sagrado de um mundo mortal e chinfrim, quem fez isso foram as religiões "ocidentais" como conhecemos: as cristãs, árabes, judaicas, espíritas e espiritualistas também de certo modo ao se abastecer das outras. Inicialmente ninguém pensava que necessitava parar sua vida para em instante separado cultuar a uma deidade. Viver já era o ato em si. A religiosidade, os cultos, já estava implícita nas regras cotidianas quando se admirava o céu ou as estrelas ou o Mar Vermelho por exemplo.

O divino que estava dentro dos homens não necessitava ser explicado como, por exemplo, pela terceira pessoa da trindade: o Espírito Santo. Todos tinham plena consciência de ter algo divino dentro de si, ainda que não fosse uma definição perfeita, pois a maioria o tinha como algo separado como corpo e alma. Alguns povos, sábios em sua simplicidade não faziam quaisquer diferenciações. Esses povos não eram necessariamente o que os filósofos modernos chamariam de os mais primitivos. Povos como os Bretões, embora cultuassem divindades que algumas vezes viviam em mundos separados, algumas vezes só em reinos, não diferenciavam sua condição divina da condição profana.

Creio que eticamente, é muito ruim separar a crença do ato influenciado por ela. Na verdade, se conseguíssemos nem diferenciar ato e crença seria melhor ainda. Digo se a crença fosse também considerada um ato. A diferenciação entre a teoria, a fé, o pensamento e a prática é a maior causa da hipocrisia e, justamente por isto que muitos religiosos são profundamente hipócritas, embora muitas vezes até sejam imersos pelas melhores intenções.

Se religião é religar, não faz o menor sentido que as religiões, nascidas no oriente médio e, predominantes no ocidente, se esforcem tanto para diferenciar e separar os mundos da vida espiritual e material. Não existem dois mundos, o mundo é e sempre foi um só, fomos nós que por efeitos metodológicos os separamos como se alma vivesse sem corpo ou corpo sem alma. Corpo e alma, razão e emoção são uma coisa só. Nós apenas insistimos em separar a clara da gema, como se não fosse um ovo só. Seria injusto se eu não dissesse que os primeiros cristãos tinham uma ideia de religiosidade imanente, embora Deus não estivesse num mesmo plano que os homens, mas com a institucionalização das religiões cristãs tudo se perdeu e o maniqueísmo simplificador se fortaleceu.

Todo o maniqueísmo simplificador deveria ser negado pelos homens, os quais longe desse grande problema viveriam a natural e intensa ligação com Deus e experimentariam diretamente todo o seu amor. Sem a necessidade de religar, nunca precisaríamos nos desligar do que há de mais precioso em nós: nossa ligação com o Divino. Assim poderíamos ter muitas e sinceras Ligiões, embora eu acredite que no fim das contas haveria uma só, pois haveria um único objetivo: curtir a graça de sua ligação a Deus.

terça-feira, 13 de maio de 2025

Do existencialismo ao niilismo

Voar não é pavimentar o chão

É antes abstrair o caminho

Da materialidade à imaginação

É ver com outros olhos

O gosto da imersão

Num universo sem latitude

Trespassar a divisão

Dobrar o arame liso

Arrebentar o farpadão

Correr sem ter destino

Perecer na multidão

Ressuscitar sozinho

Saber-se um mero grão

Imiscuir-se na solução

(Tudo solucionado perdido está)

Uma vida torcida

Calças puídas de arquibancadas

Perdas punidas e vitórias despedaçadas

Assim vive o apaixonado

 

Recebendo punhaladas das esperanças

Agradáveis anseios

Esperas fatigadas

 

Mau tratado por suas paixões

Enterrado solenemente em

Inacabável esperança

 

Quanto menos recebe

Mais buques envia

Cava a própria cova

(Num belo caixão o torcedor)

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Caridade e Orgulho. Fraternidade?

 


A literatura muitas vezes explica melhor uma série de coisas que a própria filosofia. Então decidi recortar dois textos aparentemente dispares ou não. Quem dará significação ao texto é você. Um é o verbete do literato e filósofo, François Marie Arouet, vulgo Voltaire. O outro é o início do livro Angústia de Graciliano Ramos, que talvez devesse ser reconhecido como um cientista social pela profundidade de seus textos e pesquisas, por mais que seu objetivo final fosse à literatura. Os dois textos, entendo eu, falam de miséria e mendigagem de formas contrárias não sendo a maior diferença objetiva, mas subjetiva, de consideração...

1º O começo do verbete Amor-próprio do Dicionário filosófico de Voltaire:

Um mendigo dos arredores de Madrid esmolava nobremente. Um transeunte disse-lhe: “- Você não tem vergonha de se dedicar a este oficio infame, quando pode trabalhar?” “- Senhor – responde o pedinte - pedi-vos dinheiro, não conselhos”; e voltou-lhe as costas com toda a dignidade castelhana. Era um mendigo tão orgulhoso como qualquer senhor. Um nada lhe feria a vaidade. Pedia esmola por amor de si, e por amor de si não suportava reprimendas.

Já que se tocou nesse assunto, coloco Oscar Wilde pra falar também retirando um trecho de Os grandes escritos anarquistas:

Pode-se até admitir que os pobres tenham virtudes, mas elas devem ser lamentadas. Muitas vezes ouvimos que os pobres são gratos à caridade. Alguns o são, sem dúvida, mas os melhores entre eles jamais o serão. São ingratos, descontentes, desobedientes e rebeldes – e têm razão. Consideram que a caridade é uma forma inadequada e ridícula de restituição parcial, uma esmola sentimental, geralmente acompanhada de uma tentativa impertinente, por parte do doador, de tiranizar a vida de quem a recebe. Por que deveriam sentir gratidão pelas migalhas que caem da mesa dos ricos? Eles deveriam estar sentados nela.

Nos dois trechos temos dois tópicos diferentes que reforçam a necessidade da dignidade para todos independente de raça, cor, nacionalidade ou condição social. Agora no próximo trecho creio que o narrador tem uma perspectiva que embora não tão explícita fica clara no desenvolver do trecho. O trecho são as primeiras frases do romance Angústia do grandioso Graciliano Ramos:

Levantei-me há cerca de trinta dias, mas julgo que ainda não me restabeleci completamente. Das visões que me perseguiam naquelas noites compridas umas sombras permanecem, sombras que se misturam à realidade e me produzem calafrios.

Há criaturas que não suporto. Os vagabundos, por exemplo. Parece-me que eles cresceram muito, e, aproximando-se de mim, não vão gemer peditórios: vão gritar, exigir, tomar-me qualquer coisa. Certos lugares que me davam prazer tornaram-se odiosos. Passo diante de uma livraria, olho com desgosto as vitrinas, tenho impressão de que se acham ali pessoas, exibindo títulos e preços nos rostos, vendendo-se. É uma espécie de prostituição. Um sujeito chega, atenta, encolhendo os ombros ou estirando o beiço, naqueles desconhecidos que se amontoam por detrás do vidro. Outro larga uma opinião à toa. Basbaques escutam, saem. E os autores, resignados, mostram as letras e os algarismos, oferecendo-se como as mulheres da Rua da Lama.

Bom... com pequenas discordâncias, mas com ângulos diferentes é possível concatenar tudo, mas se eu não pretendo concatenar segundo minha ótica pois eu desconheço a verdade em âmbito humano. Portanto prefiro que fique com a sua. Por favor, tire as suas próprias conclusões, já que não prestarei o desserviço de emitir minha síntese...

domingo, 11 de maio de 2025

Ignorancia minha

Todo dia é dia das mães

Todo o dia é

Um pokémon visita toda a casa

Onde não tem cerca a mãe está

 

O pequeno ser impressiona

Pela agilidade

Pela simpatia

Com que disfarça suas traquinagens

 

Lá está a adulta

A cultuar sua grande obra

A ser sufocada pela empatia

(se descobre mãe)

sábado, 10 de maio de 2025

Por um paradigma não científico

 


Todos sabemos que o pensamento de cada época foi norteado por seu respectivo paradigma. Pelo menos assim nos parece após o livro Estrutura das Revoluções Científicas, do físico Thomas Kuhn. Os paradigmas são teorias fundamentais que foram baseadas cada qual em um tipo específico e diferenciado de ciência. Primeiro, na fase pré-científica, numa não ciência: a mitologia. Depois numa ciência pura: a matemática. Depois nas ciências aplicadas: uma física predominante sobre a biologia principalmente. Com o advento da psiquiatria, uma acentuação para o lado da biologia. Depois uma desconstrução de teorias universalistas e uma série de teorias específicas com pretensões paradigmáticas: baseadas no cinema, na antropologia cultural, na economia, ressurgimento das teorias mitológicas, teorias nucleares. Finalmente uma tentativa ainda em ação de uma síntese dessas diferentes teorias num paradigma tão abrangente como a ecologia como ciência.

Na verdade eu escrevi tudo isso só pra propor minha visão nesse assunto ( a qual posso mudar após discutirmos, mas creio ser razoável): creio que deveríamos esquecer a construção de um novo paradigma, como tal científico, e em vez disso aceitarmos a política (não a ciência política) como pensamento fundamental. Digo, a política na sua concepção mais clássica, que teve seu significado recuperado por filósofos como Hannah Arendt e Jürgen Habermas, como um domínio do diálogo e da criação de acordos, cuja a coerência não cabe a nenhum outro saber.

Nós sabemos que todos os paradigmas como científicos tentaram descredenciar suas falhas como o ganso verde que não pode ser ganso porque todos gansos são brancos então vira um fanso pra não estragar a teoria. Algo que viesse da política não teria essa falta de flexibilidade e não necessitaria descredenciar nenhum argumento assim tão facilmente.

Conto do Théo

  A história de Théo seria uma teogonia? Se a questão se refere a um demiurgo, certamente não. Mas é uma história do todo-poderoso, oniscien...