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quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Conto do Théo


 

A história de Théo seria uma teogonia? Se a questão se refere a um demiurgo, certamente não. Mas é uma história do todo-poderoso, onisciente, sim seria uma teogonia. Quando Théo nasceu certamente o universo, o sistema solar e o planeta Terra já existiam. Então, de fato ele não criou nada disso. Embora algumas vezes insinue que sim.

Se ele não criou o mundo como o descrevemos. É evidente que ele criou um mundo ipso facto, pelo próprio fato: o mundo dele. Em seu mundo tinha o poder absoluto: só ele poderia conceder. E concedia abundantemente para demonstrar sua magnanimidade. Seu mundo era formado todo de súditos babões. Bastava conceder um sorriso de dois dentes para alegrar toda a sala ou quarto.

Conseguia controlar a todos mesmo com linguagens e gestos primitivos. Todos lhe atendiam. A mãe lhe cedia alimento do próprio corpo. O pai, a mãe, o irmão mais velho trocavam suas vestes clericais. Clericais? Clericais achava ele na sua modéstia. Aquele pano ou era clerical ou papal.

Não entendia porque tinha tanto sono. Mal dava tempo de brincar com objetos coloridos e barulhentos que colocavam a sua volta. Do mesmo modo que tinha tanto sono não entendia como dormia tão pouco. Dormia, acordava, dormia, era tão rápido as coisas que nem dormia, nem conseguia ver tudo a sua volta.

Tinha uma cisma de que trocavam as coisas a sua volta. Parece que dormia um pouquinho, trocavam tudo e fingiam que está tudo igual antes. Até a veste papal era colocada diferente. Parece que só mamãe entendia a etiqueta do cargo. Papai falou que etiqueta é pequena ética, algo como bons modos. Algo que o irmão do meio falou que eu não tenho. Mas eu já notei que ninguém se importa.

Minha vó que daqui a seis meses vou fazer um ano e vai ter um bolo de chocolate que mamãe falou que só eu não vou comer. Disse que só vou comer doce depois dos dois anos. Mas acho que dá pra fazer um esquema com minha vó e meu irmão do meio para comer antes disso. Se eu chorar com gosto, pelo menos uma dedada do recheio vovó me arranja.

Já tentei engatinhar a sala toda, mas quando estou quase conseguindo bate um sono ou uma fome. Parece que a vida é me distrair do que eu queria fazer. Outra coisa que eu percebi é que quase sempre que eu durmo me colocam no xilindró. Acordo cercado de grades. Ainda colocam uns trens barulhentos para me distrair e não olhar as grades.  Já tentei passar entre as grades. Não dá. Tentei subir, pular. É muito alto.

Queria dormir sempre no colo da mamãe. Lá é o lugar mais acolchoado do mundo. Mais acolchoado até que o carpete que vez por outra acho alguns petiscos. Mamãe tem horror, fica brava.  Manda passarem aspirador no carpete umas três vezes por dia. Mas eu sempre acho algum petisco se dá tempo e como escondido da mamãe pra ela não ficar triste.

A casa é grande. Não conheci nem um decimo dela, acho. Mas... como eu falei... nunca dá tempo. Já veio o sono de novo. Boa noite! Bom dia! Boa tarde! Seja lá o que for. É melhor terminar por aqui mesmo antes de desmaiar outra vez.

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