Muitos
filósofos orgânicos como Montaigne e Voltaire (há quem não o considere) já
incluíram o amor em seus ensaios ou em seus dicionários. Eu, que sou um mero
mortal, venho jogar umas ideias que pretendem costurar uma concepção minha que
tem bases volúveis em vários pensadores. Acredito ter costurado as bases com
uma boa dose de necessário senso comum. Cabe-me propor o caráter estritamente
político do amor, concepção que talvez cause algum incômodo (ou não) a algumas
pessoas.
O amor é uma
atividade política por excelência. Só se define e se traduz pela ação, pelo
planejamento da ação e principalmente pelo sentimento da ação. O amor é um
sentimento político porque sempre se refere a algo externo, mesmo se tratando
do amor narcísico, porque esse se trata do amor à própria imagem, que é,
portanto, um objeto externo (Quanto aos outros amores, não paira nenhuma dúvida
de que universo, pessoas, deuses, humanidade sejam objetos externos). Outra
faceta que demonstra o caráter político do amor é a sua interdependência com a
ação, pois o amor só se expressa pelo desejo de alguma ação (ou pela ação),
qual seja afagar a amada, fazer amor ou simplesmente estar próximo ou pensar
nela ou em sua ideologia. Lembre-se que Hannah Arendt afirma que o planejamento
da ação também é uma ação. Ainda outro fator demonstra o caráter político do
amor, pois é ele (todos os tipos dele) que agrega as pessoas. É um sentimento
eminentemente unitário.
Assim como a
política, então, o amor só é factível entre mais de um objeto; palavra que aqui
toma a desinência de pessoa, coisa, sentimento, percepção, devaneio ou imagem,
um sentido amplo como é tomado em diversas ciências como a filosofia e a
psicologia; só existe enquanto relacionada à ação, inexiste fora deste
contexto; e a ação política é o que agrega as pessoas, pois as pessoas se unem
no agir, no pensar do agir e no sentimento do agir tal qual no amor. É bom
lembrar que em Hannah Arendt, bem como em outros, a interação é característica
fundamental da política.