Diz-se que da teoria dos signos pouco se revela. Guardem isto, dizia o velho mestre. Poucos guardavam. Um dia caminhando pela praia tropeçamos numa pedra e a densidade do viver caiu sobre nós inesperada e crua. Pouco se revelaria, porém muito seria instantaneamente assimilado como signos e símbolos. Mais tarde os significaríamos. É tudo o que preciso contar...
Linhas de um pseudofilósofo menor nas formas possíveis das coisas sem essência e concretitude. Os contos alfabéticos viraram livro em fevereiro de 2026. Vim do passado pra dizer.
Acompanham
domingo, 2 de março de 2025
Retalho 3
Conta-se, aliás, no mínimo as contagens populacionais se desdobravam, que no reino desencontrado da Alsácia-Lorena vivia um grande, enorme ignorante a sucumbir de pedra em pedra o seu caminho.
Aliás muito diziam. As bocas
sempre falam muito. Outros relatos praticamente excluem as pedras, senão as de
encontro com o mar, porque este, na verdade (verdade delas), vivia numa praia.
Em todo caso não se excluem os
peixes. Resta saber se eram de rio ou de mar segundo cada versão. Eu me
arriscaria a dizer que são de lago para desacreditar todas as cretinas versões.
Aliás, que historinha imberbe!
Melhor parar por aqui...
Retalho 2
Morrera sem saber, perdido na vida, de uma bala achada qualquer. Quer dizer, de uma bala que achava seu robusto corpo. Sabia que algo o abandonava. Algo bem mais importante que a vida ou aquele grosso liquido que jorrava vermelho. Sabia ser algo que não conseguia definir. Quiçá em outra vida...
Retalho 1
Na verdade, não era desta maneira que olhava no espelho interno de seu coração, mas naquele momento era uma moça bela e esplendorosa em seus parcos um metro e quarenta do cabelo até a cintura. Sua cabeça voava entre os enigmas da geometria descritiva dos átomos em uma possível quarta dimensão quântica onde as trocas de energia poderiam potencialmente ser visualizadas. Sentia-se um lixo por não ter compreendido isso antes...
sábado, 1 de março de 2025
A onipresença da política
A relação entre a onipresença da política e a morte da política na interpretação de Hannah Arendt é um assunto que envolve a crítica à modernidade, à totalização da esfera pública e à perda da liberdade política autêntica. Hannah Arendt alerta contra a tentação hegeliana de ver o Estado como o "fim da história". Fim no sentido teleológico de finalidade. Para ela, a política não é um sistema a ser completado, mas um espaço aberto que depende da ação contínua e da preservação de limites entre o público e o privado.
Na leitura de Arendt, a onipresença da política como previu Hegel significa sua morte porque:
1. Elimina a pluralidade: A política requer diferenças e debates, não uniformidade.
2. Transforma ação em administração: Quando tudo é político, nada é propriamente político.
3. Destrói a liberdade: A liberdade autêntica exige um espaço público delimitado, não a invasão total da vida.
Para Hegel, a política está intrinsecamente ligada ao ápice do Estado racional, o Estado Moderno, que inaugura a burocracia racional, uma máquina praticamente independente das subjetividades. É bom lembrar que viam de tiranismos e despotismos nada ilustrados. Este modelo de Estado é entendido como a culminação do Espírito Objetivo, onde a liberdade individual se reconcilia com a universalidade ética. Nesse sentido, o indivíduo é livre quando reconhece a racionalidade do Estado e age em conformidade com ele.
Arendt, por outro lado, define a política como o espaço da ação e do discurso entre seres livres e plurais. Para Arendt, a política só existe na esfera pública, onde os indivíduos agem e revelam quem são, criando um mundo comum. Portanto, a liberdade política é ação, não obediência. A liberdade é capacidade de começar algo novo e de participar ativamente na construção do mundo.
- Para Arendt, a modernidade confundiu política com administração social. Quando a política se transforma em economia política acaba se tornando uma gestão técnica. O Estado hegeliano, ao englobar tudo, reduz a política a um sistema burocrático, eliminando a espontaneidade e a pluralidade que a definem.
Arendt rejeita a teleologia hegeliana (a ideia de que a história tem um fim predeterminado). A onipresença da política, na visão hegeliana, culminaria em um Estado, onde a ação humana é substituída por processos históricos inevitáveis. Isso representaria a morte da política, pois não haveria mais espaço para o novo, o imprevisível ou o debate entre perspectivas plurais.
Para Arendt, a política só sobrevive se distinguir da economia (o privado, o social, o íntimo). Quando a política se torna onipresente:
- Perde-se a distinção entre liberdade e necessidade: A ação é substituída pela administração.
- A pluralidade é sufocada: Sem diferenças e conflitos legítimos, não há política, apenas dominação.
- O Estado se torna uma máquina sem abertura para a novidade ou a liberdade criativa.
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025
A volta de Aristóteles
Hannah Arendt,
Jurgen Habermas e Karl Jaspers foram majestosos leitores de Aristóteles e
conseguiram atualizá-lo muito proficuamente tornando-o muito inteligível e
importante para o resgate da política, praticamente massacrada pela modernidade
e o surgimento das ciências políticas. Os três filósofos retomam valores como
interação, multiplicidade e alteridade.
Aristóteles
tem diagnósticos interessantíssimos sobre a democracia. Vejamos o que o
estagirita diz no livro quarto, capítulo IV de A Política, esse interessante
livro sobre o Estado e a República (transcrevo literalmente):
A primeira
espécie de democracia é aquela que tem a igualdade por fundamento. Nos termos
da lei que regula essa democracia, a igualdade significa que os ricos e os
pobres não têm privilégios políticos, que tanto uns como outros não são
soberanos de um modo exclusivo, e sim que todos o são exatamente na mesma
proporção. Se é verdade, como muitos imaginam, que a liberdade e a igualdade
constituem essencialmente a democracia, elas, no entanto, só podem aí
encontrar-se em toda a sua pureza, enquanto gozarem os cidadãos da mais
perfeita igualdade política. Mas, como o povo constitui sempre a parte mais
numerosa do Estado, e é a opinião da maioria que faz a autoridade, é natural
que seja esse o característico essencial da democracia. Eis aí, pois, uma
primeira espécie de democracia.
A condição de
que as magistraturas sejam dadas segundo um censo determinado, contanto que
pequeno, constitui uma outra espécie; mas é preciso que aquele que chega ao
censo exigido tenha uma parte nas funções públicas, e delas seja excluído
quando cessar de possuir o censo. Uma terceira espécie admite às magistraturas
todos os cidadãos incorruptíveis; mas é a lei que manda. Em uma outra espécie,
todo habitante, contanto que seja cidadão, é declarado apto a gerir as
magistraturas, e a soberania é firmada na lei. Finalmente existe ainda uma
quinta, na qual as mesmas condições são mantidas, mas a soberania é
transportada da lei para a multidão.
Eis o que
acontece quando os decretos outorgam a autoridade absoluta à lei, coisa que
resulta no crédito dos demagogos. Porque, nos governos democráticos onde a lei
é senhora, não há demagogos: são os cidadãos mais dignos que têm precedência.
Mas uma vez perdida a soberania da lei, surge uma multidão de demagogos. Então
o povo se transforma numa espécie de monarca de mil cabeças: é soberano, não
individualmente, mas em corpo. Quando Homero diz que a dominação de muitos é um
mal, não se sabe se ele entende por isso a dominação de todo um povo, como nós
o fazemos aqui, ou a dominação de muitos chefes reunidos que não forme, por
assim dizer, mais que um chefe.
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025
Iluminismo, Contracultura e Hippies
O que eu vou escrever aqui pode ser pura besteira embora minhas argumentações sejam bastantes razoáveis e alguns contextos inquestionáveis. O Iluminismo foi responsável por uma cultura de devoção à razão. Esse culto à razão compreendia dos desdobramentos bastantes contraditórios:
- uma ideia de razão instrumental, uma razão que faz desenvolver o mundo, cujo o grande exponente é Hegel, um filosofo que nunca falou dela diretamente mas explicou o desenvolvimento da historia até a idade moderna, a derradeira e última pelo desenvolvimento da racionalidade, da razão aplicada ao mundo.
- a própria ideia da razão geral, muito bem explicada por Kant, o qual em sua apologia á razão acreditava que poderia significar até a paz perpetua, o fim das guerras.
Portanto, uma razão difusa, uma razão que domina, explica o mundo e uma razão individual que raciocina pondera a ação no mundo. Ou seja, uma que instrumentaliza, extrai e suga o melhor do mundo para o conforto da humanidade. Outra que pondera, busca uma justiça. A primeira justifica guerras por recursos naturais. A segunda abomina disputas injustificadas. Guerras causam mortes e a vida humana, o ser humano é o centro do iluminismo.
Deste modo é curioso como podemos acreditar que a contracultura desde os beatniks, passando pelo movimento por direitos até os hippies foi influenciada pelas ideias de Kant. A ideia individualista da maioridade moral como pensar por si mesmo, ou seja refletir, não aceitar verdades evidentes sem refletir permitiu que as pessoas saíssem da sociedade, questionassem seus valores.
Conto do Théo
A história de Théo seria uma teogonia? Se a questão se refere a um demiurgo, certamente não. Mas é uma história do todo-poderoso, oniscien...
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O cara que sabia que o caminho se faz caminhando Tinha certeza que quem não sabe pra onde ir pode dar uma bela volta ao mundo E que velhas á...