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sábado, 22 de novembro de 2025

Da praia à montanha

“Armei a rede. Fiquei um tanto ressabiado de usar. Os peixes não ligaram pra isso. Nenhum me disse nada”, gritava desesperadamente Amanda. Eu nem ouvi. Estava a duas praias dali. Fiquei sabendo das más, aliás, péssimas línguas. Não confiei. Não porque eram, provavelmente, fofocas. Mas porque não acredito em notícias. Tá bom, não é que não acredito, mas que confio desconfiando.

Pulei dois córregos. Tudo bem, dois regos, e cochichei: Amanda vem cá. Me conta do seu passeio. Amanda começou: “tio, sabe aquela rede que deixa a gente quadriculado? Levei pro passeio e um cara pegou emprestado pra usar na canoa”. Me senti muito enredado pela narração/descrição.

Decidi sentar no toco e puxar a criança: vem cá, Amanda. Me conta mais! O Dasenhor prefere a descrição algébrica ou a geométrica? Menina, para de racionalismos. Me descreve geograficamente as coisas. Se não se sentir à vontade, pode descrever filologicamente. Ah, tio, para de sandices e me escuta... a praia era de uma areia que esfolia a gente e você tem que andar quase sempre de costas pro mar.

O mar rumina uma melodia bem compassada de três tons: baixa, alta e depois média. Parece um ritmo hipnótico, mas muito mais sereno que tecno. Não é batidão. É mais uma flauta em três tons. O oceano dá pra entrar de costas e é muito sereno, de ondas muito pouco frequentes e baixas. Uma água muito morna e salgada.

À meia-noite dizem que um peixe sai da água e canta uma ária muito própria em tons muito altos. Sua cauda brilhante serve de holofote para destaca-lo num “palco”. Mas isso tudo é mentira que eu criei na minha cabeça agora, disse-me Mariana. Tá bem, Amanda. Fiquei encantado com tua história, Amanda Mariana. Boa Noite! Vai dormir que amanhã tu vai me contar tudo de novo só que numa montanha.

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