“Armei a
rede. Fiquei um tanto ressabiado de usar. Os peixes não ligaram pra isso. Nenhum
me disse nada”, gritava desesperadamente Amanda. Eu nem ouvi. Estava a duas
praias dali. Fiquei sabendo das más, aliás, péssimas línguas. Não confiei. Não porque
eram, provavelmente, fofocas. Mas porque não acredito em notícias. Tá bom, não
é que não acredito, mas que confio desconfiando.
Pulei dois córregos.
Tudo bem, dois regos, e cochichei: Amanda vem cá. Me conta do seu passeio.
Amanda começou: “tio, sabe aquela rede que deixa a gente quadriculado? Levei
pro passeio e um cara pegou emprestado pra usar na canoa”. Me senti muito enredado
pela narração/descrição.
Decidi sentar
no toco e puxar a criança: vem cá, Amanda. Me conta mais! O Dasenhor prefere a
descrição algébrica ou a geométrica? Menina, para de racionalismos. Me descreve
geograficamente as coisas. Se não se sentir à vontade, pode descrever
filologicamente. Ah, tio, para de sandices e me escuta... a praia era de uma
areia que esfolia a gente e você tem que andar quase sempre de costas pro mar.
O mar rumina
uma melodia bem compassada de três tons: baixa, alta e depois média. Parece um
ritmo hipnótico, mas muito mais sereno que tecno. Não é batidão. É mais uma
flauta em três tons. O oceano dá pra entrar de costas e é muito sereno, de ondas
muito pouco frequentes e baixas. Uma água muito morna e salgada.
À meia-noite
dizem que um peixe sai da água e canta uma ária muito própria em tons muito
altos. Sua cauda brilhante serve de holofote para destaca-lo num “palco”. Mas
isso tudo é mentira que eu criei na minha cabeça agora, disse-me Mariana. Tá
bem, Amanda. Fiquei encantado com tua história, Amanda Mariana. Boa Noite! Vai
dormir que amanhã tu vai me contar tudo de novo só que numa montanha.
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