Dizem que nascera
por ali mesmo entre Cejana e Trajano. Talvez numa praia quase deserta. Não sei
se Cejana e Trajano são vilas de pescadores de Alagoas ou Sergipe. Ou se seriam
os progenitores dele. Ignoro se em Alagoas, Sergipe ou Pernambuco ainda existem
praias inexploradas ou quase isso.
O importante é que fora bem recebido por
aqueles franceses radicados na foz do Rio Negro. Quase nunca frequentara uma praia.
Uma vez foi a Salinas. Mas achou a agua muito salgada. A areia ele achou muito
agradável. Entretanto aqueles filhotes brancos de urubus sempre vomitando de
medo das pessoas lhe embrulhavam o estômago.
Desde cedo
aprendeu a nadar contra e a favor da correnteza. A nadar como qualquer
ribeirinho. Aprendeu a conhecer todas as briófitas. Conhecer os seus usos e o
perigo deles. O casal que o adotou eram botânicos. Tinham as angiospermas e as gimnospermas,
mas ele gostava mesmo dos fungos e seus parentes.
Quando tinha
um dinheirinho ia passear em Manaus. Era
uma espécie de faz tudo. Era pescador, fabricante de canoas, pesquisador de briófitas,
guia turístico para as raras visitas na região. Costumava ir a Manaus. Mas já
tinha ido umas duas vezes a Belém. Uma vez guiou uma visita de um surfista ao encontro
do Amazonas com o mar. O turista o desafiou a surfar a pororoca. Ele surfou como
se fosse de sua natureza. Nunca tinha surfado e nunca mais surfou. Mas o fez
tão bem que passou a ser conhecido como o surfista de pororocas.
Talvez por
comedimento, talvez por se interessar mesmo por briófitas, por mais que
insistissem nunca mais surfou, nem ondas, nem pororocas. O que o fez se tornar
uma lenda. Quem viu, viu. Quem não viu, acredita ou duvida. O que só aumenta
sua lenda.
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