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domingo, 23 de novembro de 2025

As briófitas e o surfista

 


Dizem que nascera por ali mesmo entre Cejana e Trajano. Talvez numa praia quase deserta. Não sei se Cejana e Trajano são vilas de pescadores de Alagoas ou Sergipe. Ou se seriam os progenitores dele. Ignoro se em Alagoas, Sergipe ou Pernambuco ainda existem praias inexploradas ou quase isso.

   O importante é que fora bem recebido por aqueles franceses radicados na foz do Rio Negro. Quase nunca frequentara uma praia. Uma vez foi a Salinas. Mas achou a agua muito salgada. A areia ele achou muito agradável. Entretanto aqueles filhotes brancos de urubus sempre vomitando de medo das pessoas lhe embrulhavam o estômago.

Desde cedo aprendeu a nadar contra e a favor da correnteza. A nadar como qualquer ribeirinho. Aprendeu a conhecer todas as briófitas. Conhecer os seus usos e o perigo deles. O casal que o adotou eram botânicos. Tinham as angiospermas e as gimnospermas, mas ele gostava mesmo dos fungos e seus parentes.

Quando tinha um dinheirinho ia passear em Manaus.  Era uma espécie de faz tudo. Era pescador, fabricante de canoas, pesquisador de briófitas, guia turístico para as raras visitas na região. Costumava ir a Manaus. Mas já tinha ido umas duas vezes a Belém. Uma vez guiou uma visita de um surfista ao encontro do Amazonas com o mar. O turista o desafiou a surfar a pororoca. Ele surfou como se fosse de sua natureza. Nunca tinha surfado e nunca mais surfou. Mas o fez tão bem que passou a ser conhecido como o surfista de pororocas.

Talvez por comedimento, talvez por se interessar mesmo por briófitas, por mais que insistissem nunca mais surfou, nem ondas, nem pororocas. O que o fez se tornar uma lenda. Quem viu, viu. Quem não viu, acredita ou duvida. O que só aumenta sua lenda.

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