Nanda, Nandinha, digo Fernanda. Não a
Montenegro, nem a Torres, nem a Lima. Não era uma Meireles também. Não era
economista, nem milionária. Era tampouco uma Souza. Silva. Sim, Silva era seu
sobrenome. Fez muita cena quando criança pequena. Agora tentava economizar
algum. Não por nada. Tinha ficado adulta e como por maldição as contas
começaram a bater em sua porta e sem cerimonia invadir sua casa. Sim. Ainda
tinha uma. Não sabia por quanto tempo.
Nada de especial. Só a Serasa Experian
querendo fazer parte da sua vida. Sabe quando toca um tambor e você se empolga
com o ritmo... pois é... chegando a idade adulta você é obrigado a aprender a
rebolar. Quando você não tem gingado você sofre. Se a escola passar com o seu
enredo e você conseguir evoluir adequadamente no conjunto corre o risco de não
ser convidado na próxima.
Nandinha fazia seus bolos. E dava bolo em
todos os compromissos possíveis. Menos nos que podia vender seus bolos. Fazer
um dinheirinho pra poder cozinhar o próximo. Cozinhar os credores pra ver se
podem receber na semana que vem. Ver se os fornecedores podem colocar algo no
caderninho pro mês que vem.
Desajeitadamente evoluía pela pista se
desviando dos perigos. “Eu posso pagar com um bolo? Olha! Eu faço um bolo muito
bom!” tentava Nanda as vezes. “O aniversário da sua filha tá chegando, né.
Deixa que eu faço o bolo e os docinhos” propunha. Infelizmente, mais dava bolos
que vendia. Quem recebia os bolos não era agradecido.
Chegou a pedir pra um primo espalhar uns
papeis pela rua. Não literalmente jogar na rua. Distribuir pros pedestres e
motoristas. Mas o destino foi a rua mesmo. Teve que interromper a operação pra
não ficar com fama de porca além de caloteira. Tudo muito injusto! Se pudesse
pagar, pagaria tudo antecipado pra não ficarem lhe cobrando. Se não precisasse
de alguma divulgação não teria proposto propaganda.
Sua vida mesmo era dar e vender bolos. Mais
dar que vender. Uns dias da semana fazia faxina numas madames lá de um
condomínio. Chegava cedo e saia de tardezinha da casa da contratante. Não
recebia nenhum cafezinho. As patroas acham que intervalo na limpeza é improdutivo.
Saía umas quatro da tarde do cercado chique e ia comer uma quentinha no bar lá
perto e limpar a goela com um gole de caninha.
Entrava se esgueirando pela vida pra não
passar pelo mercado que tinha prometido pagar ontem, mas só pagaria amanhã se
vendesse um bolo hoje pra completar o dinheiro. Se vendesse, beleza! Ninguém
dava cano. Se dava era só por uns minutos, no máximo um dia.
Essa era sua vida agora. Que saudade de quando
era gari como Marianna na sua vila natal! Ganhava uma miséria. Sua rua era
fedida. Descontavam de seu salário já miserável. Mas tinha o que comer. “Que
inferno ter ouvido coach coachar, coisa de sapo, que devia empreender. Ano que
vem eu passo no concurso de merendeira e saio dessa!”, pensava ela. Com
esperanças, assim termina nossa história, não a de Nanda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário