Era feliz Felício? Fora feliz pelo menos no início?
Queria ser igual seu irmão Betinho, um Felizberto. Era chamado de felínio,
felino na escola. Era um ser que se incomodava de ser considerado um gato. Gato
Guerreiro talvez. Não gostava de ser comparado com um Pacato.
O felino era um tigre, uma onça, um guepardo?
Betinho era um nome mais legal! Pelo menos era mais usual, comum. Felício
pensava, pensava, pensava. Refletia demais. Isso gastava tanto seu tempo que
nem sabia se era feliz. Se eu fosse
chutar, diria que seria muito feliz quando parasse de pensar tanto nisso.
Felício não tinha barba, mas ostentava um ralo
bigode de tigre. Poucos, mas grossos pelos. Betinho não tinha pelos. Nenhum.
Nem cabelo desde bebê. Felino, opa, Felício dobrava as esquinas com rara
habilidade. Driblava os obstáculos e se pulava caia com majestosidade sobre as
duas patas, digo, os dois pés.
Conhecia aquelas ruas como ninguém. Comera
médias em praticamente todos aqueles bares. Conhecia dos hábitos matinais de
todos aqueles boêmios daquela região. Guiava-se com extrema destreza no pequeno
breu que antecede o nascer do sol naquela região de muitas luminárias queimadas
ou quebradas. Sabia de cor a localização de todos os postes, arvores e
samambaias pelo caminho.
Trabalhava desde muito cedo na pequena
mercearia/restaurante árabe da região. O dono da mercearia, Tufic, só conhecia
os clientes. Os conhecia muito bem. Mas muito pouco da região. Andava apenas do
deposito pra loja. Da loja pro deposito. Caminho decorado. Vasos, porcelanas,
aromas, sabores... O bastante para guiar o caminho com olhos vendados, ouvidos
moucos daqui pra lá e de lá pra cá na sua usual trilha da entrada ao fundo da
loja.
Cedo tinha que juntar moedas, trocar dinheiro,
fazer o troco pelas ruas visitando os comércios um a um. Cumprimentando um a um
pelas ruas e avenidas. Avaliando o trafego de transeuntes, o ritmo, as pausas.
Tentando prever o movimento do dia na mercearia, o gasto. Conseguia prever
quase com exatidão. Era puro instinto.
Era muito hábil. Contornava os obstáculos com
muita malevolência. Do mesmo modo driblava
os clientes para atendê-los com mais rapidez. Fluía por entre as pessoas para tornar
o ambiente confortável. E quando algum engraçadinho com excesso de cachaça se
tornava incomodo, com enorme agilidade Felício o imobilizava. Nenhum arranhão
sofria. Já o incauto azarado talvez fosse necessário tomar uma antitetânica. Felício
tinha unhas maravilhosas e bem cuidadas, um tanto longas.
Vambora porque já é cedinho e Felício vira uma
fera se não tomar seu pratinho de leite com cereais ou frutinhas. Eu que virei
a noite inteira escrevendo esse texto vou dormir. Boa Noite, gente! Boa Noite,
felino, quer dizer, Felício!
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