Jean Paul Sartre no livrinho Em defesa dos intelectuais sugere a definição mais democrática que conheço de intelectual. Uma acepção que possibilita que todos, independente de classe social, sexo ou idade sejam potencialmente intelectuais. Também mostra muito mais claramente duas ideias marxistas presentes tanto em Gramsci como na Escola de Frankfurt: o domínio do capital através da educação, da técnica e da ideologia e a própria ideia de Karl Marx sobre a ideologia como uma falsa noção que engana as pessoas.
Sartre mostra
que os intelectuais nascem dos técnicos, funcionários de mediação entre o
capital e os trabalhadores, formados nas universidades com o dinheiro do
capital para servi-lo. Estes nem são capitalistas, nem são proletários, nascem
das camadas médias e internalizam sua inadequação de não pertencer a nenhuma
classe, nem serem capitalistas, nem trabalhadores típicos. Ao internalizarem a
contradição de serem trabalhadores explorados como os típicos (os quais
deveriam defender por similitude), mas defendem os capitalistas e o pequeno
poder que receberam para intermediar a relação. Ao perceberem o conflito dentro
de si, utilizam sua formação burguesa para defenderem os explorados como eles.
Tornam-se intelectuais. Como exemplo dessa mudança Jean-Paul Sartre diz que:
“Caso se
queira um exemplo dessa concepção comum do intelectual, direi que não chamamos
de “intelectuais” os cientistas que trabalham na fissão do átomo para
aperfeiçoar os engenhos da guerra atômica: são cientistas, eis tudo. Mas, se
esses mesmos cientistas, assustados, reunirem-se e assinarem um manifesto para
advertir a opinião pública contra o uso da bomba atômica, transformam-se em
intelectuais” (Jean-Paul Sartre, 1994, p.15).
Estes enquanto
técnicos usam o pouco humanismo de sua educação eminentemente técnica para
justificar suas atitudes e se autojustificar com um universalismo teórico, que
não resiste a qualquer análise histórica convincente. Assim “quaisquer que
sejam os fins da classe dominante, o ato do técnico é, de início, prático, o
que ele tem por meta o útil. Não o que é útil a esse ou aquele grupo social,
mas o que é útil sem especificação nem limites” (Jean-Paul Sartre, 1994, p.26).
Apesar de saber que a criação de qualquer técnica ou produto imediatamente o
colocará dentro das restrições da sociedade de consumo. Pois estes serão
vendidos e, de acordo com o preço, somente os privilegiados que derem conta de pagar
os usarão. Assim dissolve-se toda a universalidade. O intelectual absorve mais
essa e tantas outras contradições também.
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