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sábado, 5 de abril de 2025

Os intelectuais segundo J.P. Sartre

 


Jean Paul Sartre no livrinho Em defesa dos intelectuais sugere a definição mais democrática que conheço de intelectual. Uma acepção que possibilita que todos, independente de classe social, sexo ou idade sejam potencialmente intelectuais. Também mostra muito mais claramente duas ideias marxistas presentes tanto em Gramsci como na Escola de Frankfurt: o domínio do capital através da educação, da técnica e da ideologia e a própria ideia de Karl Marx sobre a ideologia como uma falsa noção que engana as pessoas.

Sartre mostra que os intelectuais nascem dos técnicos, funcionários de mediação entre o capital e os trabalhadores, formados nas universidades com o dinheiro do capital para servi-lo. Estes nem são capitalistas, nem são proletários, nascem das camadas médias e internalizam sua inadequação de não pertencer a nenhuma classe, nem serem capitalistas, nem trabalhadores típicos. Ao internalizarem a contradição de serem trabalhadores explorados como os típicos (os quais deveriam defender por similitude), mas defendem os capitalistas e o pequeno poder que receberam para intermediar a relação. Ao perceberem o conflito dentro de si, utilizam sua formação burguesa para defenderem os explorados como eles. Tornam-se intelectuais. Como exemplo dessa mudança Jean-Paul Sartre diz que:

“Caso se queira um exemplo dessa concepção comum do intelectual, direi que não chamamos de “intelectuais” os cientistas que trabalham na fissão do átomo para aperfeiçoar os engenhos da guerra atômica: são cientistas, eis tudo. Mas, se esses mesmos cientistas, assustados, reunirem-se e assinarem um manifesto para advertir a opinião pública contra o uso da bomba atômica, transformam-se em intelectuais” (Jean-Paul Sartre, 1994, p.15).

Estes enquanto técnicos usam o pouco humanismo de sua educação eminentemente técnica para justificar suas atitudes e se autojustificar com um universalismo teórico, que não resiste a qualquer análise histórica convincente. Assim “quaisquer que sejam os fins da classe dominante, o ato do técnico é, de início, prático, o que ele tem por meta o útil. Não o que é útil a esse ou aquele grupo social, mas o que é útil sem especificação nem limites” (Jean-Paul Sartre, 1994, p.26). Apesar de saber que a criação de qualquer técnica ou produto imediatamente o colocará dentro das restrições da sociedade de consumo. Pois estes serão vendidos e, de acordo com o preço, somente os privilegiados que derem conta de pagar os usarão. Assim dissolve-se toda a universalidade. O intelectual absorve mais essa e tantas outras contradições também.

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