Estamos na era
do medo. Tomamos remédios porque não suportamos a infelicidade. Não me refiro
aos deprimidos, porque depressão é uma doença séria e perigosíssima e sempre
leva à perda da vida (ou de parte dela) quase sempre sem levar à morte física. Mas muitos além destes
diariamente se automedicam tomando suas pílulas da felicidade. Não suportamos a
dor mais. Creio que teremos muito menos poetas, menos pintores. Não precisamos
mais das artes para alienar, aliviar a dor. Temos pílulas milagrosas. Nada
contra elas. São um bem para a humanidade. Mas não deveríamos fugir de sermos
humanos, mesmo que o humanismo em si tenha terminado no século XIX.
O
ser humano para o ser (dasein) em sua completitude necessita ser completo.
Existir de fato no mundo e sentir o que está a nossa volta. Ninguém pode te
ensinar que as rosas machucam se exibir as rosas de floricultura com os acúleos
cortados. É preciso levar os alunos ao jardim. Ser peripatético, andar pelo
mundo, mesmo que entre aspas, para sentir o ambiente.
Ninguém
pode sentir um alívio sem uma apreensão, dor anterior. Ninguém pode estará
exultante por livrar seu dedo mínimo se ele não estiver antes debaixo de uma
pedra ou prensa. É notável a metáfora da ostra e da pérola que diz que é
preciso a dor, o incomodo para a ostra produzir a pérola. Traduz todo o
processo de criação seja poética, seja filosófica, seja ação (Política) no
sentido de Hannah Arendt ou Aristóteles.
Incomoda-me
essa ideia de viver sem dores, ou seja, não viver. Porque tocar o chão
descalço, sem anteparo é ser ferido pelas rochas, pelo piso, pela invasão da
areia... Sem a dor, o incômodo, não somos nada!
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