As pessoas tendem a entender a
política como a atividade dos políticos profissionais e participação como
sufrágio eleitoral como eleição. Nós preferimos delegar a representantes o
direito de escolher por nós os nossos próprios destinos e de nossas sociedades.
Quase sempre nos limitando a julgar se votamos bem ou mal e quase nunca
julgamos as discussões ou decisões em si.
A ideia da
política como ação, atuação dos homens presente em filósofos como Aristóteles e
resgatada por filósofos como Karl Marx ou Hannah Arendt, embora sejam críticos
do primeiro, parece uma ideia esquecida, presente apenas algumas vezes no
domínio da teoria. A ideia de que são os homens que fazem a história que domina
todas as ciências sociais atualmente e é amplamente aceita sem questionamento
até mesmo pela maior parte das correntes filosóficas atuais, até porque seria
um anacronismo negá-la, parece não ter nenhuma utilidade prática, pois os
homens se negam a agir.
Se pudermos
dividir a política em a Política com “P” maiúsculo como Aristóteles chama
aquela que se refere às ações na polis e política com “p” minúsculo aquela que
se refere à forma de governo, a maneira de governar, ao formalismo em si,
podemos dizer que desde a modernidade, ou talvez a idade média, a Política com
“P” maiúsculo perde a importância e sobra somente a política com “p” minúsculo,
as ciências políticas, um enorme rebuscamento tanto formal quanto jurídico para
dificultar o acesso e a participação das pessoas na política.
A própria
ideia da política representativa e seus mecanismos parecem determinados a fazer
com que o individuo se afaste da política. Segundo a filósofa contemporânea
Hannah Arendt, o começo do desinteresse por política iniciou na Idade Média ou
no Feudalismo quando o clero, ou melhor, a própria Igreja se “sacrificou pelos
irmãos” ao assumir a política para que cada um cuidasse de sua própria
subsistência, ou seja, da economia. Esse conceito atravessou a modernidade e
chegou a nós contemporâneos, mas não parece explicar a apatia política
existente. Até porque as próprias questões da sobrevivência só podem ser
resolvidas pela política ou garantidas por esta.
Quando a
política deixa de ser atividade dos cidadãos, por poucos que sejam, para ser
uma concessão de poder, o objetivo da política deixa de ser resolver os
problemas da cidade ou do mundo ou solucionar as demandas de seus cidadãos para
se tornar tão somente uma busca de poder. O que ocasiona um grave problema,
pois a resolução dos problemas se torna tão somente, quando acontece, como
mecanismo para ascender ao poder ou se manter lá, ou ainda como mecanismo para
anestesiar as massas.
Obviamente os
problemas do ocaso da Política não resolveriam simplesmente pela revalorização
da política, pois a revalorização da política simplesmente anestesiaria a
população dos males da falta da Política, mas a retomada das ações dos homens
poderia ser justamente um passo fundamental para essa mudança. É uma suposição
razoável, mas ainda resta o problema da apatia política, pois sem a resolução
desta não resolvemos nem o problema da política, nem o da Política.
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