Hannah Arendt sempre escreveu sobre a vida ativa, que abrange entre outros a política (vida pública) e a economia (vida particular), mas no seu último livro A vida do espírito discutiu a vida contemplativa. Nessa obra, aparece em um trecho o Sócrates de Hannah Arendt. Embora toda a sua obra sobre a vida ativa e a decadência da Política com p maiúsculo sejam de suma importância, no derradeiro livro ela através de um Sócrates nem platônico, nem aristotélico resolve escrever sobre o mais vital: a reflexão.
O Sócrates da autora judia alemã passeia pela rua recolhe e discute todas as opiniões. Por opiniões temos que entender por doxa: opiniões embasadas, relevantes. Não quaisquer fala. Sócrates diz passar dia na cidade (polis, do qual nasce política) apurando opiniões, lapidando as suas com as diversas. Mas Sócrates só é Sócrates quando chega em casa e conversa consigo mesmo. Expõe toda a suas convicções ao debate consigo mesmo: a reflexão.
Doxa para Platão, com todo o seu horror pela democracia que para ele matou seu mestre Sócrates, são opiniões ingênuas que devem ser superadas. No entanto também são verdades vigentes, ou seja, não são opiniões quaisquer, foram aceitas pela maioria. Quer dizer receberam algum refinamento. Podem ser mentiras absurdas, mas também podem ser verdade. No sentido de que a Doxa tem que ser superada para chegar a um conceito não há discordância. Dizer que o Sol resfria a Terra ou a Terra é plana não é opinião, é um engano, quando não uma mentira deslavada.
Só a reflexão constrói o conhecimento. Saber o que se discute no mundo. Conhecer as opiniões e aderir a uma delas sem refletir (acriticamente) não leva a nenhum conhecimento. Ler as notícias só leva a você conhecer o que os outros pensam. Só a reflexão pode descobrir o que você pensa. Mas nos tornamos papagaios.
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