Lana plana sacana na cama. Era só uma
sonequinha de uma hora. Lana engana. Já faz mais de três horas pregada naquela
beliche. A escada grudada de suor naquele dia de 50º. Lana coberta com lençol,
cobertor. Deve estar com febre pensei. Nada! Queria brincar de sauna.
Lana sobe no coqueiro e pega dois cocos para
nós! Nada! A essa hora já devia estar delirando de tanta desidratação. Fui eu
mesmo colocar uma escada no coqueiro. Não dou conta de trepar na coisa. Já
derrubei logo um cacho de cocos sem me preocupar se algum cairia na cabeça do
cachorro ou de algum calango.
Pronto! Lá estão uns três ou quatro cocos no
chão. Laninha vem cá beber uma água de coco! Nada da Lana! Fui eu lá levar um
coco com canudo de papel pra menina beber. Agorinha termina meu turno e é hora
dela ir pra frente da mercearia. Pronto! Deu duas da tarde! Saio eu, entra
Laninha, a fofinha.
Vem toda faceira pra conferir o dinheiro do
caixa. Tem uns poucos trocados da manhã. A grana mesmo já botei no cofre. Passa
Tia Luna e dá oi: Oi, Laninha! Laninha nem! Laninha dá um breve aceno. O
carteiro chega em ponto. Duas e cinco. Cinco minutos atrasado. Laninha deu os
parabéns pelo atraso. Nunca tinha conseguido atrasar tanto.
Foi ver se no meio das contas tinha uma carta.
Viu um monte de anuncio que o carteiro recolheu no caminho. Um monte de contas.
Meu Deus! Esse mês vamos ganhar o suficiente para pagá-las? Vamos ficar sem a
barraca na quermesse? Tudo se ajeita com o tempo... resignava-se ela.
Clientes pipocavam pelo balcão. Ninguém queria
pipoca nesse inicio da tarde. Pediam café com leite. Pão na chapa. Roscas. Suco
de laranja, de limão. Tapioca. Café da manhã essa hora? Não sabiam que já
estava de tarde? Será que acordaram agora ou é algum fetiche? Talvez os funcionários
do contraturno da usina. Trabalhavam das quatro às duas da tarde.
Mas os funcionários do contraturno não eram
tantos. Muitos aproveitavam a oportunidade pra ver a espevitada. E lá estava Lana
com seus parcos um e sessenta se esgueirando entre prateleiras, clientes e cobradores.
Cobradores só eram três. Cobravam uma dívida do dono anterior que escafedera de
lá. Já tinham perdido a esperança de receber, mas o café da mercearia era muito
bom. Um arábica plantado numa fazendo próxima colhido com o máximo cuidado.
Torrado ao relento e selecionado com o cuidado de quem faz café pra si mesmo.
Laninha ficava lá só das duas às seis, talvez
sete. Depois fechava a mercearia. Só contava o dinheiro e colocava os elásticos.
Não conferia. Ia pra academia pra manter a elasticidade pra contornar como agua
aquelas pedras no caminho. E também pra ter um bom sono. Pra ter bons sonhos
tomava um café com flor de laranjeira.
Isso é tudo! É o que me disse Lana. Lana
engana. Mas quem não quer ser enganado por Lana?