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sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Conto de Jack

 


Jack é Jack. Ninguém é Jack e ele odeia Skank. “Tequila é a mãe!”, diria ele. A mãe de todos os meus males. Nascera incomodado com uma musica para Jackie e não para ele. Jack é dinamite prestes a explodir. Preferia ser um zé, um zé ninguém. Mas não podia era um Jack, um uísque. 12? 16? 18 anos?

Seu nome era uma esculhambação, pensava. Seu pai, um abstêmio, cognominá-lo de Jack Daniels? Só faltava morar no 51º bairro de João Pessoa. Felizmente a capital da Paraíba não era tão grande pra ter tantos bairros. Escapara do 51, mas de morar na 79ª rua da cidade não. Mas Pirassununga é coisa de paulista. E João Pessoa não é muito enfronhado com paulistas como sabem. O nego da bandeira da Paraíba é a posição de não apoio aos paulistas pela continuidade da república velha.

Essa posição era compartilhada por Jack. Negava todos os convites para beber até a ultima hora. Preferia beber em casa uma garapa velha envelhecida em barris de aroeira e cega-machado. Descia rasgando a goela e o ventre como um bisturi cirúrgico cego e enferrujado.

Todo domingo tinha que ir na taverna da Naninha comer buchada e encontrar os patrícios aflitos com tanta salsinha. Não cabia um coentro? Naninha não era bem da terra. Nascera lá, mas... vivera uma vida toda nas minas mais gerais do Brasil, região entre Minas, Bahia, Goiás e, agora, Tocantins. Mas tirando algum excesso de cominho o prato era delicioso.

Jack tá aí, perguntavam seus detratores. Não tinha muitos. A não ser na família. Já que tá aí, me traz um golinho da tua pinga. Já que tá aí, me diz qual é a boa. Um poço infindável de azucrinações. Tinha muitos Daniels em casa. 18, 21 anos. Mas só abria nas ocasiões especiais.

Preferia correr na praia. Não corria muito. Só nas meio-maratonas. Mas essas eram muito pouco frequentes. Treinava todos os dias de manhã e de tarde. À noite só queria dormir se desse conta. Mas essa não era sua especialidade. Tinha que acostumar a ler os anúncios da madrugada depois de ler dois ou três livros.

Acordava com o carro da pitanga ou o de suco de murici. Saía pra praia sem luz pra treinar. Tinha que cochilar até os primeiros fios de sol pelas quatro horas. Logo às cinco treinando era um pleno clarão de cegar os olhos. Esquecera novamente o incômodo óculos de sol. Na verdade, não sabia se era melhor levá-lo ou esquecê-lo.

Pronto! Jack lá pode começar o dia e eu posso me mandar. Fazer o quê? A vida é essa mesmo: correr na praia, beber agua de coco, comer buchada aos domingos. Uma baita dificuldade...

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Miragem

Utopia não é outra pia

Não é miopia

Nem astigmatismo

Talvez alguma presbiopia

Porque concentra a visão

Aumenta o desconhecido

Utopia é um alvo

Lá na frente

Imaginado

Não visto

Que leva ao poeta dizer

Que o caminho se faz caminhando

Porque o horizonte imaginado

Nunca é o mesmo

É o rio de Heráclito

Mas no qual não se banha

Se sonha banhar

É um alvo

Miragem

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Utopia

Se me fosse dada outra vida

Renunciaria

Se me dada esta

Recortaria

 

Não me compete ser quem não sou

Me cabe desejar ser

Mas ninguém é

Ser é autoilusão

 

Estou

Simplesmente um movimento

Eterna construção

Partida sem chegada

Utopia

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Democragia ou Hemocracia?

Turbas pelo mundo

Pedem mais direitos

Melhores serviços

Nada mais justo

Mais democracia pensaram

Mas democracia não é rapidez

É lentidão

É ouvir todos

Não decidir abruptamente

Melhores serviços não são os instantâneos

Mas os mais bem realizados

Confundiram administração com política

Defenestraram a democracia

Pois a democracia é ouvir todos

E desagradar a todos instantaneamente

Por um bem comum futuro

De fazer o possível

E o impossível às vezes

No período mais democrático do mundo

Colocaram em coma a mesma

Será que em soluços a tal reacorda?

Haverá reacordo?

Ou teremos que caçar nazistas novamente?

Sufocar stalinistas? Não. Esses morreram.

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Vinil

Se fosse, ficaria a dois palmos da chegada

Se ficasse, chegado cá estava

Se o caminho tem voltas

Elíptico ou cilíndrico

O centro é exógeno

O caminho varia

Infere constante mudança

Na vitrola agulha grita

Bailando de um lado a outro

De uma interminável trilha

Do externo pro interno

O jardim de notas

Mistura-se

Com alguma regularidade

O bufão bufa

Sopranos e baixos se intercalam

Floreando o ritmo das bufas

domingo, 19 de outubro de 2025

Alma

Uma pedra tropeçou em mim

A colori de vermelho

Tingiu-se de vergonha?

Ou serão coisas da vida?

Uma vida bruta, com certeza

Não a da pedra, a minha

A pedra não tem vida

O embrutecimento não a deixa viver

Está lá parada no mesmo lugar

Com as mesmas perspectivas

A mudarão se a chutarem de lá

Ganharia um impulso

Mas poucas mudanças

Lavei-me

Lavei a pedra

A água fluiu

A pedra já não está no mesmo lugar

Já não é mais a mesma

Moveu-se

Agora tem ânima ou alma

sábado, 18 de outubro de 2025

Samba do lixo

Subiu a ladeira descendo as escadas.

Quis ignorar tudo o que não sabia

Entregou-se a liberdade

Solto em plena segunda-feira de oficio

Captou o incapturável

Na sexta prendeu-se a uma mesa de bar

Bebeu o intragável

Respirou o enfado

Dançou a música portuguesa

Tropeçou no argumento

Se levantou vitorioso

Perdera a primeira

Mas a segunda dose estava lá

A primeira o santo bebera

A terceira ninguém bebeu

A quarta, o quarto tinha dono

A quinta foi pros quintos

A sexta estava lá disponível pra quem acertar

Todo o lixo na rua

Na segunda, basculante do lixo e samba pra limpar

Sábado dorme, domingo abençoa, batiza o lixo

Na segunda a cuica geme e o tamborim retruca

O agogô sofre e passo a passo desviando do lixo

A limpeza publica a recolher

Conto do Théo

  A história de Théo seria uma teogonia? Se a questão se refere a um demiurgo, certamente não. Mas é uma história do todo-poderoso, oniscien...