Acompanham

sábado, 15 de março de 2025

Pelo retorno da Política

 

A política como interação desde o alge da idade média perdeu sua força. Na idade moderna, com a criação dos Estados Nacionais, a política até teve um soluço de poder, mas com o progressivo andar da modernidade foi progressivamente perdendo sua hegemonia e, inclusive, sua autonomia. A economia tomou seu lugar racionalizando o mundo através da técnica que relega a todos uma particular função.

A casa, o domicílio toma uma dimensão vultuosa: a própria sociedade. A própria política se torna um trabalho como outra qualquer atividade econômica. Portanto deixa de ser política onde a pluralidade interage para alcançar um consenso. Creio que se quisermos recuperar a política e, consequentemente a ética, pois ética e política nesse modelo não se separam, é preciso acabar com a figura do político profissional. É necessário trocar seus altos salários por ajudas de custo e as inúteis reuniões diárias por reuniões pontuais para ações efetivas para deliberar sobre as cidades.

É preciso que os cidadãos se autossustentem com seus próprios ofícios e deliberem politicamente por vontade própria e não por necessidade (do salário). Assim, os candidatos serão eleitos pelo desejo dos eleitores e não por seus próprios desejos. Não seriam os candidatos que se apresentariam aos eleitores buscando desfrutar das benesses do poder em favor de si próprios, mas seriam os eleitores que escolheriam alguns para carregarem a responsabilidade de legislar e executar as decisões em prol da sociedade.

quinta-feira, 13 de março de 2025

Problema técnico

 


Renê Descartes definiu que ao homem é possível conhecer tudo até o seu limite, pois o homem é um ser limitado em um universo ilimitado e por isso teria acesso a verdades contingentes, restritas. Toda uma tradição do conhecimento humano como limitado perdurou por muito tempo até o estabelecimento da ciência moderna e da técnica como hegemônica no mundo, quando ao homem cabe potencialmente conhecer também o ilimitado. No entanto por ignorar a ética, como consequência disso, vários deslizes éticos aconteceram. Assim poderíamos refletir sobre o que afirmou Aristóteles em Ética à Nicômacos:

Escolhemos o que é indubitavelmente reconhecido como bom, mas opinamos sobre coisas que não sabemos de forma alguma se são boas, e não são as mesmas pessoas que consideramos capazes de fazer a melhor escolha e de ter as melhores opiniões; com efeito, algumas pessoas são tidas como aptas a opinar muito bem, mas por deficiência moral elas podem escolher o que não devem. (ARISTÓTELES, 1992, p.53 e 54).

quarta-feira, 12 de março de 2025

Na contramão da modernidade: outra lição de Aristóteles

 


Num momento em que, apesar de ciências como a ecologia que põe em evidência a visão sistemática do todo, ainda é muito forte a exigência de especialização imposta pela técnica seria muito bom que os pensadores voltassem a ler a Metafisica de Aristóteles. Sobretudo porque expõe argumentos muito interessantes para sua belíssima e inusitada tese que deveríamos considerar. O trecho onde destaca que é preferível o conhecimento geral ao conhecimento específico está logo nas primeiras páginas de sua obra. O trecho que transcrevo está no livro 1 de a Metafísica e está demarcada em seus trechos com as marcas 982a1 e 982b1. Assim versa este:

Tais são em gênero e numero as opiniões sustentadas quanto à sabedoria e ao sábio. Das qualidades descritas, o conhecimento de todas as coisas tem, necessariamente, que pertencer àquele que, no mais elevado grau, possui conhecimento do universal, porque ele conhece, num certo sentido, todos os particulares contidos no universal. Estas coisas, quais sejam, as mais universais, são talvez as de mais difícil apreensão para o ser humano, porque são as mais distanciadas dos sentidos. Que se acresça que as ciências mais exatas são as que mais concernem aos primeiros princípios, pois as que são baseadas em poucos princípios são mais exatas do que aquelas que incluem princípios adicionais; por exemplo, a aritmética é mais exata do que a geometria. Além disso, a ciência que investiga causas é mais instrutiva do que a ciência que não o faz, pois são os que nos informam acerca das causas de qualquer coisa particular que nos instruem. Ademais, o entendimento e o conhecimento que são desejáveis por si mesmos são mais atingíveis no conhecimento daquilo que é mais cognoscível, uma vez que aquele que deseja o conhecimento por si mesmo desejará maximamente o mais perfeito conhecimento, e este é o conhecimento do mais cognoscível, e as coisas que são as mais cognoscíveis são primeiros princípios e causas, pois é através destes e a partir destes que outras coisas passam a ser conhecidas, e não estes através dos particulares que neles se enquadram. E será a ciência máxima e superior às subordinadas a que detiver o conhecimento da finalidade de cada ação a ser concretizada, isto é, o bem em cada caso particular e, no geral, o bem supremo no conjunto da natureza.

O trecho além de demonstrar porque o conhecimento do todo é superior ao conhecimento das partes, pois de certa forma as abrange. Assim quem domina a teoria ao encarar a prática pode aos poucos não apenas compreender um caso particular, uma aplicação da ciência conhecida, não com a mesma facilidade de um especialista naquela subárea, mas pode compreender todas as outras especificamente que seu conhecimento abrange com muito mais facilidade que um especialista. Outro ponto fundamental que compensa a leitura é a destinação do conhecimento. Podemos dizer que Aristóteles é um dos maiores fundamentadores da técnica e da ciência, mas o fim da técnica para o filosofo estagirita é o bem, que poderíamos traduzir modernamente em uma de suas acepções como fazer o melhor. Assim trocaríamos o fim atual (eficiência e produtividade), na qual o foco está apenas no fim, pelo fazer o melhor, para o qual vale todo o processo, pois fazer o melhor inclui também fazer melhor.

terça-feira, 11 de março de 2025

Causa ou Efeito?

 

Tostines é Sempre Fresquinha porque Vende Mais ou Vende Mais porque é Sempre Fresquinha? Assim temos a complexidade da vida onde causa e efeito nem sempre são tão categoricamente diferenciados. Muitas causa e efeitos são auto dependentes e criam um fluxo cíclico interminável de autodependência nos quais um é causa necessária do outro e por conseguinte sua inexorável consequência.

Isso por certo desacredita essas duas importantes figuras: causa e consequência, pois não podem ser isolados como puros e simples. É preciso reconhecer uma maior complexidade a essas figuras: uma organização dialética que suporte sínteses parciais que tenham validade temporária até que a história modifique o equilíbrio e uma nova síntese seja necessária.

Bom... mas isso pouco interessa à bolacha.

segunda-feira, 10 de março de 2025

Pluralidade novamente

 


Quem expôs mais completamente a relação entre pluralidade, ação e política foi Hannah Arendt, que atualizou sob um contexto extremamente ímpar, o nazismo, as ideias políticas gregas sobre a política. Além do mais, Arendt surge após a modernidade e a hegemonia dos valores ativos sobre os contemplativos. Numa época em que o trabalho torna-se talvez o fator mais forte a influenciar a subjetividade. Aliás, a própria subjetividade Kantiana é um diferencial fundamental dos modernos para os gregos. Mas para se entender bem um conceito é de muito auxílio buscar as origens dele. Sobre a pluralidade, nada melhor para entendê-la que um trecho da crítica de Aristóteles à República de Platão, o qual propõe uma comunidade de tudo assegurada por uma casta dirigente em um regime forte e fechado:

A comunidade política funda-se na colaboração de uma pluralidade de indivíduos diversos por capacidade e recursos, os quais, exatamente por estas diversidades interagem na troca recíproca de bens e serviços; é precisamente esta troca entre diversos que permite à comunidade política um nível de “autossuficiência” superior ao da família e ao do indivíduo. A synphonia política não pode ser transformada em homophonia. O projeto platônico, que pode parecer à primeira vista “belo, mas impossível”, na realidade não é sequer desejável, porque nega a essência pluralística da cidade; mesmo que fosse possível, não deveria ser realizado. “É, portanto, evidente que por natureza não pode haver uma cidade tão unida como alguém defende, e que aquilo que é apresentado como o máximo bem nas cidades é exatamente aquilo que as destrói”. (VEGETI, 2010 p.36 e 37).

Synphonia é a atuação de todos, todos podem discursar ao "mesmo tempo", como uma orquestra. Quer dizer cada qual de maneira diferente constrói um o mesmo objetivo, há sincronia, estão afinados, embora cada um toque um instrumento diferente. Homophonia é como se todos pensassem a mesma coisa, todos iguais, todos tocando um mesmo instrumento.

domingo, 9 de março de 2025

Um dia otimista

 O estranho caminho

que cursamos do florescer

ao raiar da noite eterna

é a vida

 

É a vida, minha irmã

É a vida, meu irmão

Essa imanência

Essa injustificável vontade

de seguir mais um

Mais um pouquinho

Mais um porquinho

Mais um tiquinho

Mais um toquinho

Mais um troquinho

 

(tudo pra guardar debaixo da terra)

 

 

A vida é um ajuntar de ilusões

Por isso perigosa

Mortal como a cobra naja

Que finge o bote

Mas mata no intervalo

Entre a crença e a morte

Na vida só se ilude

Quem vive

 

(Melhor morrer)

 

 

Quem não vai a guerra

se salva

Merda!

Não é que se salva?

Quem quer ser salvo?

Merda!

 

(Seguir a vida, infame vida!)

sexta-feira, 7 de março de 2025

Educação das crianças

 


A educação das crianças é um assunto importantíssimo, porque todas as sociedades que deram grandes saltos nos últimos tempos aperfeiçoaram a educação básica, modernizaram-na e combateram a evasão escolar, principalmente tornando-a mais atrativa e interativa. A educação básica é interesse de muitas áreas, sobretudo para a pedagogia, as ciências sociais e a filosofia. Platão mesmo já se interessava pela educação das crianças, que segundo ele deveria começar pela educação do corpo.

Teorias muito posteriores, póstumas a até o filósofo o qual citarei literalmente: Michel Eyquem de Montaigne, considerarão essas primeiras fases da tenra infância como fases em que o saber concreto é muito melhor aprendido que o abstrato. Isso se torna praticamente um consenso após o construtivismo/estruturalismo e a ideia do desenvolvimento.

A educação das crianças era preconizada mesmo antes de Platão. Pitágoras mesmo afirmava: “Educai as crianças e não será preciso punir os homens”. Mas como vimos logo no começo a educação não visa apenas ensinar regras de convivência às crianças. Se fosse apenas isso, seria pobre e inútil. Bastaria ter uma sociedade vigilante e “castradora”, algo que efetivamente temos, mas não excesso necessário, para conseguir isso. Mas a educação, sobretudo após Vygotsky foca o desenvolvimento de habilidades e aptidões nessa fase inicial, pelo menos teoricamente sobre o que dizem fazer. Sobre a educação das crianças, Michel de Montaigne afirma em um de seus Ensaios que:

Entendo que a maior e mais importante dificuldade da ciência humana parece residir no que concerne à instrução e à educação da criança. O mesmo acontece na agricultura: o que precede à semeadura é certo e fácil; e também plantar. Mas depois de brotar o que se plantou, difíceis e variadas são as maneiras de trata-lo. Assim os homens: pouco custa semeá-los, mas depois de nascidos, educa-los e instruí-los é tarefa complexa, trabalhosa e temível. [...] Não cessam de nos gritar aos ouvidos, como se por meio de um funil, o que nos querem ensinar, e o nosso trabalho consiste em repetir. Gostaria que ele corrigisse esse erro, e desde logo, segundo a inteligência da criança, começasse a indicar-lhe o caminho, fazendo-lhe provar as coisas, e a escolher e discernir por si próprio, indicando-lhe muitas vezes o caminho certo ou lho permitindo escolher. Não quero que fale sozinho e sim que deixe também o discípulo falar por seu turno. [...] Na maior parte das vezes a autoridade que nos ensinam é nociva aos que desejam aprender. [...] Tudo se submeterá ao exame da criança e nada se lhe enfiará na cabeça por simples autoridade ou crédito. Que nenhum princípio, de Aristóteles, dos estoicos ou dos epicuristas, seja seu princípio. Apresentem-se-lhe todos em sua diversidade e que ele escolha se puder. E se não o mpuder fique na dúvida, pois só os loucos tem certeza absoluta em sua opinião. [...] Quem segue outrem não segue coisa nenhuma; nem nada encontra, mesmo porque não procura. [...] Não se trata de aprender os preceitos desses filósofos, e sim de lhes entender o espírito. Que os esqueça à vontade, mas que os saiba assimilar. A verdade e a razão são comuns a todos e não pertencem mais a quem as diz primeiro do que ao que as diz depois. [...] Que evite essas atitudes indelicadas de dono do mundo, e a ambição pueril de querer parecer mais fino por ser diferente; e não procure (o que não oferece dificuldade) mostrar seu valor pelas suas críticas e originalidades. [...] ensinar-lhe-ão a somente discorrer e discutir quando encontrar alguém capaz de responder, e ainda assim a não empregar todos os meios que disponha mas apenas os mais apropriados ao seu assunto. Que a tornem exigente na escolha e peneiramento de suas razões, amigo da exatidão e, portanto, da brevidade. Que lhes ensinem sobretudo a ceder e sustar a discussão ante a verdade, logo que a enxergue, surja ela dos argumentos do adversário ou da sua própria reflexão, pois não lhe cabe desempenhar um papel prescrito e falar na cátedra; e se defende uma causa é porque a aprova; e não fará como aqueles que vendem em moeda sonante a liberdade de poder refletir e reconhecer o erro. [...] É o que diz Epicuro no início de sua carta a Meniceus: Por mais moço que seja, que ninguém se recuse a praticar a filosofia, e que os velhos não se cansem dela. (MONTAIGNE, 1989, p. 143, 144,145, 146, 147 e 151)

A vida segue

  Atravessei dois ou três prédios pela rua Inspirou-me confiança Acenei efusivamente para o nada Recolhi todos ou louros da ação Esc...