Quando impera o
individualismo e a técnica transforma o tempo criado em dinheiro só há pressa,
pouca disposição de sentar e conversar. Isso atinge diretamente as ideias de
Arendt e de Habermas. Hannah, como dissemos, vê a política como interação.
Habermas, provavelmente a partir das constatações de Arendt, tocada pelo ocaso,
crepúsculo, desaparecimento da política encontra a solução para o domínio da
técnica na comunicação, interação tão pedida por Hannah Arendt.
Arendt vê na perda de
importância da política e sua mudança de razão, não mais o bem público
construído pela interação (direta ou indiretamente) de todos os cidadãos,
passando a servir de pretexto para motivos individuais, o que leva ao
totalitarismo como última consequência. Temos como exemplo os desmandos de muitos
de nossos governantes visando vantagens individuais ou para seus grupos.
Fruto do declínio da
política, ninguém mais se interessa por participar dos governos ou das decisões
que influenciam a vida das pessoas. Nós sempre estamos interessados por nossas
inquietações particulares. Habermas chegou a pensar em pôr no centro das
decisões o diálogo com a teoria da ação comunicativa, mas as pessoas preferem
delegar às outras especializadas em determinados assuntos à autoridade de
decidir para decidir por elas. É só mais um aspecto do comodismo e da cultura
da técnica. Assim, à grosso modo, "quem tem que fazer é quem sabe". Isso acontece até com nossa política, na qual
os cidadãos foram substituídos por políticos profissionais, técnicos da
politica, portanto.
Assuntos incentivados por
nós, mas levantados por eles, como, por exemplo: - eu acho que minha casa
deveria ser azul. Eu ficaria muito feliz, confortável se fosse azul, mas vem um
arquiteto e diz que tem que ser verde por mil razões técnicas. Eu descontente
acato a decisão dele porque ele é um perito no assunto. Afinal quem sou eu? Um
pobre coitado com senso estético pra discutir com um urbanista?
Do mesmo modo na
política. São os técnicos que decidem. Não a comunidade. Mesmo nos orçamentos
participativos (uma grande evolução) dá dó ver como os técnicos ignoram a
população e como manipulam as falas. Até porque:
O
meio da cultura do amoralismo é o treinamento de técnicos que supõem que os
fins são dados (ou que não importam), de modo que suas preocupações são
simplesmente com os meios, com as táticas, com as técnicas. Se às crianças não
é dada a oportunidade de pesar e discutir tanto os fins quanto os meios e suas
inter-relações , elas provavelmente tornar-se-ão céticas a respeito de tudo,
exceto seu próprio bem-estar. (LIPMAN, 1990. p. 31)
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