Nós não nos constituímos sem o outro. Não há como o homem se tornar humano sem o juízo do outro. Nós somos maus críticos de nós mesmos. Não conseguimos nos ver com a mesma clareza com que espelhos, mesmo disformes nos veem. Assim a cada passo, mesmo que o outro seja outro eu, o eu-mesmo, a consciência, estamos necessitados do julgamento, do amparo da opinião do outro. Assim o filósofo Umberto Eco, no livro Os cinco escritos morais, dentro do capítulo Quando o outro entra em cena, nos diz que:
Nós (assim
como não conseguimos viver sem comer ou sem dormir) não conseguimos compreender
quem somos sem o olhar e a resposta do outro. Mesmo quem mata, estupra, rouba,
espanca, o faz em momentos excepcionais, mas pelo resto da vida está lá a
mendigar aprovação, amor, respeito, elogios a seus semelhantes. E mesmo àqueles
a quem humilha ele pede o reconhecimento do medo e da submissão. Na falta desse
reconhecimento, o recém-nascido abandonado na floresta não se humaniza (ou,
como Tarzan, busca o outro a qualquer custo no rosto de uma macaca), e
poderíamos morrer ou enlouquecer se vivêssemos em uma comunidade na qual,
sistematicamente, todos tivessem decidido não nos olhar jamais ou comportar-se
como se não existíssemos.
Como então
houve ou há culturas que aprovam o massacre, o canibalismo, a humilhação do
corpo de outrem? Simplesmente porque essas culturas restringem o conceito de
“outros” à comunidade tribal (ou à etnia) e consideram os “bárbaros” como seres
desumanos. (ECO, 1998, p. 95 e 96)
Assim vemos a
importância do outro para nós e também como transformamos tanto o outro em
bárbaro comumente, no dia-a-dia, desumanizando-o. Transformando um parâmetro em
algo nulo, inexistente. É o que fazemos a cada um que ignoramos. Decompomos o
ator mais importante em nossa formação em pó, cinzas. Assim o ser coletivo,
formado por suas relações se torna individualista, pseudo-autônomo ao tentar
anular os outros em nome de sua singularidade, de que seja notada suas
particularidades. O homem político que age em busca do acordo para o bem do
grupo desaparece depois de se alimentar dos outros, que não pretende retribuir.
Assim caminhamos nós a humanidade, ou melhor, a desumanidade
Nenhum comentário:
Postar um comentário