Acompanham

quinta-feira, 20 de março de 2025

Interação

 


Um fenômeno importante tanto para Hannah Arendt, Jüngen Habermas, como para outros filósofos preocupados com a política ou com a comunicação é a interação. Nem Hannah Arendt, nem Jüngen Habermas poderiam conceber suas teorias mais importantes sem considerar a interação. Esta, aliás, está no coração da teoria deles. Sobre a interação, o Dicionário de Análise do Discurso, de Patrick Charaudeau e Dominique Maingueneau conceitua:

Portanto a interação, embora siga regras estritas que possibilitam a comunicação, não segue um roteiro, ou seja, é construída pelo contato, pela pluralidade, porque ninguém pensa igual (se pensássemos, seria identidade) e, portanto, não é previsível, nem predizível. E de interação em interação, por acordos (ou desacordos reacordados) são engendradas as teias da história num tecido incomum e inconstante.

É de fato, o que oferece o mais forte grau de interatividade; porque, se todos os discursos implicam certas formas de interação entre emissor e receptor(es), isto se dá em graus muito diferentes, sendo a comunicação “face a face” desse ponto de vista a mais representativa dos mecanismos próprios de interação. Correlativamente, essa abordagem colocou em evidência a importância do papel que exercem na elaboração do discurso certos fenômenos completamente negligenciados até então pela descrição gramatical (marcadores conversacionais em todos os gêneros, repetições e reformulações, truncamento e retificações, hesitações e outros procedimentos de “reparação”), bem como a importância das dimensões relacional e afetiva no funcionamento das comunicações humanas, que estão longe de reduzir-se a uma “pura” troca de informações. Mais genericamente, os discursos são, nessa perspectiva, concebidos como construções coletivas, sendo que todos os seus componentes podem prestar-se à negociação entre os interactantes: se é verdade que preexistem às interações todos os tipos de regras (lexicais, sintáticas, pragmáticas, conversacionais etc.) que subjazem a seu funcionamento, elas são em sua maior parte suficientemente vagas para que seja possível, e mesmo necessário, “compor” com elas quando se “compõe” uma interação. Porque os sujeitos engajados em uma interação, nos diz Winkin, são comparáveis aos interpretes de uma partitura musical: “Mas, nesta vasta orquestra cultural, não há maestro nem partitura. Cada um toca de acordo com o outro. Só um observador exterior, isto é, um pesquisador da comunicação, pode progressivamente elaborar uma partitura escrita, que se revelará, talvez, bastante complexa”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O sabiá sabia assobiar

  Assim cantou o sabiá Como sempre Sabia assobiar Com a melodia assombrar E o ritmo encadear O sol sobe e a lua baixa As estrela...