Um fenômeno
importante tanto para Hannah Arendt, Jüngen Habermas, como para outros
filósofos preocupados com a política ou com a comunicação é a interação. Nem
Hannah Arendt, nem Jüngen Habermas poderiam conceber suas teorias mais
importantes sem considerar a interação. Esta, aliás, está no coração da teoria
deles. Sobre a interação, o Dicionário de Análise do Discurso, de Patrick
Charaudeau e Dominique Maingueneau conceitua:
Portanto a
interação, embora siga regras estritas que possibilitam a comunicação, não
segue um roteiro, ou seja, é construída pelo contato, pela pluralidade, porque
ninguém pensa igual (se pensássemos, seria identidade) e, portanto, não é
previsível, nem predizível. E de interação em interação, por acordos (ou
desacordos reacordados) são engendradas as teias da história num tecido incomum
e inconstante.
É de fato, o
que oferece o mais forte grau de interatividade; porque, se todos os discursos
implicam certas formas de interação entre emissor e receptor(es), isto se dá em
graus muito diferentes, sendo a comunicação “face a face” desse ponto de vista
a mais representativa dos mecanismos próprios de interação. Correlativamente,
essa abordagem colocou em evidência a importância do papel que exercem na
elaboração do discurso certos fenômenos completamente negligenciados até então
pela descrição gramatical (marcadores conversacionais em todos os gêneros,
repetições e reformulações, truncamento e retificações, hesitações e outros
procedimentos de “reparação”), bem como a importância das dimensões relacional
e afetiva no funcionamento das comunicações humanas, que estão longe de
reduzir-se a uma “pura” troca de informações. Mais genericamente, os discursos
são, nessa perspectiva, concebidos como construções coletivas, sendo que todos
os seus componentes podem prestar-se à negociação entre os interactantes: se é
verdade que preexistem às interações todos os tipos de regras (lexicais,
sintáticas, pragmáticas, conversacionais etc.) que subjazem a seu
funcionamento, elas são em sua maior parte suficientemente vagas para que seja
possível, e mesmo necessário, “compor” com elas quando se “compõe” uma
interação. Porque os sujeitos engajados em uma interação, nos diz Winkin, são
comparáveis aos interpretes de uma partitura musical: “Mas, nesta vasta
orquestra cultural, não há maestro nem partitura. Cada um toca de acordo com o
outro. Só um observador exterior, isto é, um pesquisador da comunicação, pode
progressivamente elaborar uma partitura escrita, que se revelará, talvez,
bastante complexa”.
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