O ordoliberalismo ou o neoliberalismo que se
tornou dominante na principal potência do mundo globalizado e que está presente
em maior ou em menor proporção nos demais países do mundo. Num mundo, onde
algumas políticas, poucas delas, ainda podem ser nacionais, mas cuja a economia
é transnacional, integrada mundialmente, não importa se o país é comunista como
a China, capitalista como a Alemanha ou difícil de descrever como o Sudão do
Sul, a economia é a lógica que avalia cada um desses governos.
A política, tal como descreveu Aristóteles,
se tornou um mero acessório da economia de modo que a autonomia kantiana hoje,
por exemplo, nos parece um conto da carochinha. O que nos promete as condições
para ser livre nos coloca numa tal dependência que sem grandes dificuldades
conseguiríamos entender ser uma prisão. É como se disséssemos a um ser humano:
à partir de hoje vais experimentar a mais ampla liberdade. Podes fazer tudo o
que desejas. Não existirão mais limites. Desde que nunca saias desta gaiola de
10 m². Realizou-se o que Marcuse chamou de falta de liberdade confortável.
Podes tudo, te dou tudo, desde que me cedas tua liberdade.
Tudo é possível. Não há mais alienação, pois
todos somos donos de nosso próprio capital, desde que aceitemos que as regras
que devem governar o mundo sejam as de mercado. Não podem ser questionadas,
pois elas nos libertam. Parece muito com os totalitarismos, me refiro a tanto
os de esquerda quanto os de direita, onde qualquer mal deve ser negado em nome
de um suposto bem que ultrapassa a tudo. Aliás essa nova lógica, o
ordoliberalismo, acaba com qualquer diferenciação ideológica possível, pois
pouco importa a origem do governo, as regras que ele deve seguir são as mesmas:
as de mercado.
Não dá pra dizer que a coisa é
intrinsecamente boa ou má. Ainda é cedo pra julgar. Só o tempo mais distante
nos dará um horizonte para poder julgar o que acontece hoje. Mas pelo menos uma
coisa é certa: o sistema é um labirinto e a gente não sabe se tem saída. Nem se
queremos sair ou não. Muitas coisas nos incomodam, mas é tão confortável
dentro. Resta-nos a ansiedade de andar, andar e parecer não sair do lugar ao
mesmo tempo que o mistério nos aguça a curiosidade e assim nos ativa a tentar
decifrá-lo.
Bibliografia
AGAMBEN, Giorgio. O reino e a glória. São Paulo: Boitempo, 2011. 326p.
FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008. 474p.
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