Acompanham

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Conto de Kaique

 


Quem era Kaique? Sei lá? Me mandaram contar a história. Tinha ele um caiaque? Seria o Kaique do Caiaque? Não sei. Só sei que me deram essa ingrata tarefa. Se brincar é um desses vereadores eleitos pela balsa do Espirito Santo. Um funcionário do Pedro Iram (PIPES) ou um dos vendedores das bordas.

Bom... tem duas chances maiores: Palmas ou Tocantinópolis. Ou sei lá, era de Lajeado mesmo. Não importa. Com esse nome duvido que fosse apenas um vereador. Deve ter sido deputado estadual ou até federal. Senador ainda não. Não duvido no futuro ter um Leozinho do Jet-ski, mas hoje ainda não cabe.

Não me informaram nada desse Kaique. Será que tem sigilo nessa investigação? Vou procurar um promotor pra ver se abre pra mim as informações. Se não der certo, vou ter que procurar um juiz. Mas se o diabo do Kaique for o procurador ou juiz? Ah! É melhor eu inventar a história. Depois o editor transforma a história na que ele quiser.

O nosso tão famoso e benquisto Kaique nasceu em uma cidade da região norte. É a maior e a menos povoada do país. Provavelmente no Tocantins ou em algum estado que faz divisa com o Tocantins. Se for assim tem mais chance de ser do Nordeste ou do Centroeste. Da região norte só o Pará faz divisa com o Tocantins. Do Nordeste, Bahia, Piauí e Maranhão. Do Centroeste, Goiás e Mato Grosso.

Como eu sou o narrador e me interessa coloca-lo como natural de Porto Alegre do Tocantins, cidade onde fica o projeto de irrigação Manoel Alves, vai ficar assim. Vai ter que comer muito abacaxi, melancia e manga na infância. Laranja, limão e mixirica também. Sorte dele! Hoje se fosse lá só iria comer ração de porco, digo soja e gramíneas como o milho. Teria sorte se chupasse uma cana restante em alguma plantação. As frutas? Essas desapareceram.

Certamente muito cedo migrou para Natividade, Porto Nacional ou Palmas. Ou para Porto Nacional e de lá pra Palmas. Com vias futuras de migrar para o outro lado do rio, quer dizer, novamente Porto Nacional se a região não se emancipar. Por sua afinidade com a agua certamente deve trabalhar numa náutica ou na marinha. Ou seja, ou regula a ocupação das margens do lago do Lajeado ou vende motos náuticas, jet skis, caiaques e lanchas.

Talvez até plante coqueiros nas margens do rio para lembrar da feliz infância no Manoel Alves. Se plantar coqueiros, podia me arranjar uns cocos. Ficaria feliz de terminar essa história bebendo uma água de coco. Mas sei que não vai dar então tchau! Fim. Caba logo, sô!

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Depositei o voto na urna

Era uma vez

Era outra vez

A mesma

Com sinal trocado


A mesma epifania

Os mesmos personagens

Conto de fadas

Historinha pra dormir


Inventaram mitos

Tiraram todo heroísmo de si

Botaram num João-bobo de posto

Posto assim sem nenhum remendo


E a política que cada um devia fazer

Ficou na cozinha cozinhando o galo

Na espera por milagre sem fazer sua parte

Depositei o voto na urna

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Presente

Virei a esquina

Olhos à frente

Vejo novos cenários

Mas a rua antiga...

Está na minha mente

As boas lembranças...

As más esqueci

À frente bancas de revista

Restaurantes, bares

Lembro da velha mercearia

Piso em rua asfaltada

Mas meus pés não se esquecem

Da melada lama que os abrangia

Da grama que os acariciava

Dobrei a esquina

Mas não me dobrei

Memória no passado

Aspirações no futuro

Vida no presente

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Hegeliano

Nada desapareceu

Está tudo lá

Mas não importa

Se está tudo

Nada está fora

Nada se destaca

Não escolha

pra quem escolheu tudo

Cadê meu café?

Não, não quero café e chá misturados.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

6 x 1

Segunda-feira, segundas intenções

Descer a ladeia de segunda marcha

Comprar o veículo de segunda mão

Seguir a vida de segunda

Tecer terços pra segundar

A responsabilidade pra alguém

Seguir segundo lhe mandam

Pra securitizar a vida

Ou a não-vida

Tudo conforme a ordem

Pra na quarta-feira

Ou no quinto dos infernos

Esquecer de tudo isso

Se alienar

Não é minha culpa hoje ser segunda

Pra no sábado sabático

Sonhar com o feriado do próximo mês

domingo, 26 de outubro de 2025

Hoje é domingo, Seu Domingos

É domingo, Seu Domingos

Sábado já foi

A feijoada desceu

Só a breja ficou

Nada que uns dez ou vinte polichinelos

Se a tontura passar

O desequilíbrio

Não convém andar no muro

Ou melhor sobre o muro

O muro é boa bengala

Mas ninguém monta nela impunemente

Hoje é dia do rosário

A capelinha lá no monte

O bar na encosta da descida

Pra ouvir bom samba

Sobe na cantoria de Nossa Senhora das Graças

Desce no batuque da nossa senhoria do boteco

Desce um rasga-ventre?

Um torresminho?

Segunda é bater biela na ferrovia

Mas hoje é domingo, seu Domingos.

sábado, 25 de outubro de 2025

Desgosto

Acode o turno o trabalhador

Acorde o povo seja onde for

A pátria pare demasiado lento

Amamenta seu povo

O ventre da pátria rasgado

Costura-se com o que se tem

Um ponto pra cá outro pra lá

Um zigue-zague de caminhões, de trens

Cheira diesel no ar

O pouco trem é elétrico

Aviões de carga cruzam o país

O povo cá em baixo reza

Pra ter seu quinhão

Pra ganhar no bolão

Pra sobrar gorjeta do milhão

Pra salvar seu ofício da extinção

Pra tirar dos restos da mesa seu quinhão

Pra ter alguma rosa no esporão

Assim anda o povo

Sem transporte

Sem ofício

Sem perspectiva

Sem trilho a caminhar

E quem para é atropelado

Pelo trem, pelo caminhão, pelo avião

Pela vida

O sabiá sabia assobiar

  Assim cantou o sabiá Como sempre Sabia assobiar Com a melodia assombrar E o ritmo encadear O sol sobe e a lua baixa As estrela...