O mundo não existe. Pelo menos não objetivamente. Polêmica essa afirmação, mas facilmente explicável: o nosso mundo é um mundo de significação. As coisas não existem por-si-próprias (per-se). Todo o nosso mundo é mediado por nossa percepção, compreensão. Nietzsche afirmava que não há fatos, apenas interpretações. Se tudo no mundo é interpretado (o que é muito bom, pra não engolir a seco acriticamente), então vivemos num mundo subjetivamente construído.
Sendo assim,
num mundo onde não existe uma verdade per-se, pois tudo nele é subjetivo, de
modo em que nenhum de nós vive nos mesmos mundos, embora eles constantemente
estejam se entrelaçando no que em matemática se chama interseção. Cada mundo é
particular, pois cada um tem sua singular visão de mundo e das coisas que o
cercam. Mesmo assim, conteúdos civilizatórios, contratos sociais, fazem com que
muitas concepções sejam próximas ou coincidentes. Servem a este intuito, como
já dizia Antônio Gramsci no início do século passado, educação, religião e a
própria economia como determinadora do tipo de intelectual a ser formado.
Assim mesmo
num mundo construído, esses consensos, interseções de conjuntos denominados
mundos particulares, possibilitam criar uma espécie de “realidade”. Uma
paranoia coletiva em cada um reafirma a imaginação do outro por estar certo de
sua convicção, que vem a ser a mesma visão do outro. Assim, algo ideal se torna
material. O idealismo subjetivo penetra o materialismo mais concreto e mais
coletivo possível.
No entanto é
preciso lembrar que essas proximidades nunca são, nem serão unânimes. Assim
toda “realidade” é constantemente questionada. Dialeticamente o mundo evolui
também neste ponto de vista (tese-antítese-síntese), pois a sociedade sempre
tenta integrar os dissonantes, à força se preciso, e se não consegue
simplesmente o elimina sua cidadania. Mas se modifica ao crescer do número de
dissonantes. Assim é garantida a psicose coletiva. Assim conseguimos viver num
mundo surreal, provavelmente mais belo e dramático do que seria a própria dita
realidade objetiva.