Acompanham

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Presente

Fui e me perdi

Achei a vida

Em meio aos seus remendos

Compreendi a inteireza

De cada universo

Descrito

Escrito

Elaborado

 

Em meio as incompletudes

Me achei

No meio perdido

Preenchido

Pela experiencia

De viver completamente

Imerso

Largado

Interagindo

Com o sempre novo

 

Isso é viver

Sem temores

Nem expectativas

Sem passado

Nem futuro

Só presente

(presente em minha vida, vivo)

terça-feira, 27 de maio de 2025

O desejo


 

Os séculos XVIII e XIX (1701 a 1900) foram majoritariamente a reação do Ego ao Superego. Ou seja, a reação a eras de uma autoridade externa interiorizada com a afirmação de uma razão individual, o tal do Iluminismo. Uma reação da Idade Moderna à idade Medieval de poder teocrático dos déspotas. A troca da autoridade teológica gradualmente pela cientifica. Na segunda metade do século XIX começa o ressurgimento do Id. Percebe-se que a razão não governava nem os mais fervorosos racionalistas.

No final do século XIX fica mais evidente ainda quando Sigmund Freud lança a interpretação dos sonhos. Passa a ficar óbvio que a razão é muito frágil perto da força dos instintos. Todo mundo tem Id, Ego e Superego. Ninguém deixou de ter alguma dessas instituições em nenhum momento da humanidade. Mas é uma ilustração tosca do pensamento das épocas.

A música todo mundo vai sofrer composta por Diego Silveira, Junior Gomes, Lari Ferreira e Renno Poeta e cantada por Marilia Mendonça trabalha com a ideia do desejo muito próxima a concepção de Arthur Schopenhauer (e mesmo de Buda) para o qual o desejo traz sofrimento inevitavelmente. Quem eu quero, não me quer/ Quem me quer, não vou querer/ Ninguém vai sofrer sozinho/ Todo mundo vai sofrer.  Para Schopenhauer a solução é o afastamento, a fuga. Para Sidarta Gautama a saída é a iluminação: sabendo o que os desejos provocam controlá-los, sublimá-los.

Nietzsche acreditava na afirmação do desejo, especificamente do desejo de poder. Contrariando Schopenhauer não diria evita o doce, mas sim chafurda no doce, submeta ao pote de doce aos seus desejos. Ou seja, Nietzsche submete a razão aos desejos porque o desejo de poder pode fabricar uma nova razão. Kierkegaard nem submete a razão, ele acredita num salto de fé para superar o obstáculo da razão.

Acabou

Acabou sem terminar

O tempo finda

Tudo está sempre a reiniciar

 

O cruel reinicio

Constante, constantemente

A nos matar

 

Matar nosso tempo

Tempo é vida

Ela devia ser vivida

 

Nós não vivemos

Só nos preocupamos com a providencia

Esquecemos do hoje

Dispensamos a vida

 

Por sorte tudo morre

A morte por fim

Pode salvar nossa vida

segunda-feira, 26 de maio de 2025

O perigoso ato de escrever

     


    Nada mais perigoso hoje em dia que pretender se fazer entender. Os comunicadores infelizmente não sabem disso. Acreditam numa teoria tola baseada na racionalidade. Jornalistas acreditam que é possível repassar informações ou opiniões sem que estas sejam submersas no ambiente próprio ou de todos que intervieram no texto, seja como sujeitos, seja como objetos. Publicitários acreditam que podem influenciar os leitores a terem os comportamentos esperados. Mas esquecem o que Nietzsche disse aos positivistas: "Contra o positivismo que permanece parado junto ao fenômeno afirmando: ‘Só há fatos’, eu diria: não, justamente fatos não existem, apenas interpretações. Não estamos em condições de fixar nenhum fato ‘em si’: talvez seja mesmo um disparate querer algo assim. Vós direis então: ‘Tudo é subjetivo.’ Mas isto também já é interpretação: o ‘sujeito’ não é nada dado, mas acrescentado através da imaginação, inserido aí por detrás. – Ainda é necessário afinal colocar o intérprete por detrás da interpretação? Um tal ato já é poetização, hipótese. Uma vez que a palavra ‘conhecimento’ possui antes de mais nada um sentido, o mundo é passível de ser conhecido: mas ele pode receber outras significações. Ele não possui nenhum sentido por detrás de si mesmo, mas inumeráveis sentidos".

    Nietzsche está certo? Não sei. Sua própria filosofia o impediria de dizer isso. Na verdade, me impediria de ter a certeza de estar sendo fiel ao que ele disse. Também não é o meu interesse discutir se Nietzsche estava certo ou não. Se minha leitura é a correta ou não. Pouco importa. Minha convicção, que não posso garantir que é verdadeira é de que a obra é a leitura feita pelo leitor. Não o que escreveu o escritor ou a mancha gráfica no livro. Já alerto: bastante discutível como tudo que encontraremos aqui. E que bom que é discutível! Pois é justamente o que pretendemos fazer aqui discutir, dar impulso a discussões.

    Ainda não cheguei ao que desejo propor com o texto. Bom... mas já é um bom pressuposto. Vamos ao problema concreto que lhes proponho com um exemplo inicial: Imaginem que um grande entendido em algum filosofo ou literato escreva um texto onde tente simplificar pra tornar compreensível qualquer teoria e o faça com maestria, enfatizo com grande sucesso. Consegue, tipo, explicar o primeiro capítulo de fenomenologia do espírito de Hegel em poucas páginas, talvez até mais páginas que tem o supracitado capítulo. Há teses volumosas sobre esse primeiro capítulo ou mesmo sobre o primeiro ou segundo paragrafo do mesmo.

    Imaginem, não é preciso muito esforço, pois todos fazemos isso, que alguém leia o texto explicativo do tal gênio que conseguiu explicar magicamente o texto de Hegel e preencha todos os espaços vazios ressignificá-lo na mente ou torná-lo plenamente compreensível. O texto não será mais do autor ou do livro, mas do leitor que baseado em suas experiências e compreensões imprimiu novos significados ao texto. O leitor pode ter entendido plenamente a síntese feita pelo nosso genial escriba. Pode não ter deturpado nada das teses propostas pelo escritor ou pelo texto, mas as tirou de um ambiente e o colocou no meio dele no qual flutuam suas experiências e convicções. 

    Por isto que eu digo será de imensa coragem, quiçá temeridade escrever aqui. Escrever é colocar a cara à tapa não pelo que escreve. Todos nós estamos dispostos a assumir nossas convicções. Mas pelo que os outros entenderão de nossos textos. Numa época em que a hermenêutica é tão maltratada pela falta de leitura. Em que leitores de interpretes julgam ter certeza sobre obras. A certeza que sequer seus autores tiveram. Uma época em que simplificadores canhestros ou funestos deturpam teorias que por vezes desmentem a própria leitura ou pensamento do autor ou sua escola ou época. Uma época em que as florestas não são preenchidas sequer por unicórnios, que apesar de fantasiosos viveriam bem em solo, mas por cachalotes ou orcas simplesmente porque estas existem.

    Repito, nesta época de péssimos leitores. brindo a coragem ou destemor de quem redige. Talvez seja necessário pensarmos que a educação do futuro se funde na exigência moral e fundamental da leitura. Prioritariamente dos autores e depois dos bons interpretes. Não estou me referindo a filosofia, mas a literatura como o todo. Pois não há base maior para o pensamento que toda a literatura. Só a leitura de boas obras pode nos conduzir a uma boa de todo o resto. Ler criticamente o mundo talvez seja a única tarefa que nos sobra. Para ser mais claro, não ser conduzido, seduzido pela facilidade das leituras alheias. É preciso lutar para ter a nossa, mesmo que possa se considerar impossível. O sujeito, mesmo que tenha se tornado para muitos de nós um conceito morto, deve ser o nosso horizonte: a autonomia.

domingo, 25 de maio de 2025

Irmão do milho

Antes de fenecer

O verde campo floriu

Rameou sua vida pelo solo

Frutificou seus esporos

Esporou o ambiente

Explorou a existência

Existiu como ser e ente

Espalhou-se antes de ser enrolado

Contaminou de vida nossa alma

Propôs cama macia

Mas enrolado feneceu

Ressecou

Tornou-se complemento

De sal e agua

sábado, 24 de maio de 2025

Judas

O canário cantou

Tocou a música pedida

Revelou o segredo

 

O que era sagrado

Se tornou público

A magia

Tornou-se rito

 

O que era contrato

Virou notícia

O que era raro

Tornou-se comezinho

 

Por 30 moedas de prata

Ou não

O que era relação

Prostituiu-se

(nasce um judas)

Budas

Pé ante pé observo o mundo

Este acelerado e ignorante

Fatos todos engolidos

Em plena indigestão

 

Assisto o replay

Das análises do ano passado

Repudio as notícias

Espero virar história

 

Vejo as manchetes

Click baits

Imbecilidade pura

O mercador que grita mais alto na feira

 

Esse barulho todo fere meus olhos

No meu ouvido bate o silencio da razão

Constrangido e bêbado

Fujo desnorteado tropeçando em meu próprio passo

 

Passo

Fujo dessa

Me escondo em mim

Quem sabe no nada

Querendo ser Buda

Conto de Ulices

  Ulices não foi pra ilha de Creta. Nunca pretendeu tomar uma rainha. Quer dizer, uma vez no xadrez sim. Na Dama nunca chamou a dama de rain...