Nascera sem desejar, nem ser desejado. Ou melhor, nascido desejado era. Concebido não. Não estivera nos melhores lugares, nem nos piores. Sempre esteve onde deveria estar. Esse o seu problema. Era tudo perfeito demais. Per – feito, feito completamente ou com completitude. Ele sentia, sabia que ainda tinha muita trilha no caminho. Nada estava terminado, finalizado.
Logo nos
primeiros meses desesperadamente percebeu como era frágil, completamente dependente.
Morria de medo de ficar incompleto, pois a maior parte de si estava em outros.
Ao mesmo tempo temia que a maior parte de si era controlada pelos demais. Descobriu
cedo a sociedade, esse temível conceito econômico.
Nascera numa comunidade
muito fechada e colaborativa, a dos curdos na Síria. Seria sempre um estrangeiro
por onde fosse. Talvez um pouco menos no Iraque. Na Turquia provavelmente seria
um defunto ambulante. Era estranho como as pessoas mesmo com ideias tao diferentes
pensassem com unidade (comunidade). Depois quando estudou a democracia grega percebeu
similitudes: os gregos “quebravam o pau” em praça pública, mas a decisão era
uma lei natural, inquestionável, a verdade.
Não avaliava
aquilo. Era o que era. Provavelmente um despotismo da democracia. Um regime que
permite a todos discutir e escolher, mas veda contestar o consenso. Aprendeu
cedo liberdade positiva e negativa. Entre os curdos e gregos a positiva existia
e era mais plena que nos outros povos, mas inexistia a negativa. Achava isso
muito bom e uma porcaria ao mesmo tempo. Era muito prático e eficiente, mas era
difícil evoluir a comunidade.
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