Acompanham

segunda-feira, 30 de junho de 2025

Metanóia

Se eu esperasse amanhã

Se amanhã não virasse hoje

Se ontem não fosse um dia morto

 

Eu estaria na eternidade

Não haveria o maldito tempo

Somente o espaço

Que em um abraço desapareceria

 

Viveria de mendigar resquícios

Montar quebra-cabeças

Juntar nossas eternidades

 

Costurar sentimentos ambíguos

Com fios sensíveis de paixões

Acreditando na metafisica

Para sonhar a realidade

domingo, 29 de junho de 2025

Merva

Queria estar no meio do mundo

No extremo dele estou

Estou digerido

Resto agora eu sou

Era emplume erva

Odor a acrescentar

Agora sou creme e ar

Depositado num vaso

Nenhum eu a se alimentar de mim

Só um plácido lago

Agua a me levar

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Blasfêmias

        




 

        A União Democrática Nacional (UDN) até a década de 60 do século passado eram os paladinos da moralidade. Foram os primeiros a achar que todos, ou quase todos. os problemas do país se resolveriam com o fim(?) da corrupção. No fim da década de 70, consolidando nos anos 80 nasce o Partido dos Trabalhadores fruto dos sindicatos de operários e das comunidades eclesiais de base herdando a plataforma menos moralista, mas ainda centrada na ideia de que a corrupção atravancava o progresso do país. Na última década do século passado surgem partidos como o PSDB e PL que passam a pregar que o que falta é técnica, que tem politica demais. Começam a aparecer os candidatos que administrariam os Estados como se fossem empresas.

Visões parciais que acreditavam que o roubo provocava maior mal que a incompetência. Uma ingenuidade ululante descrer na burrice como um mal que pode superar qualquer outro. Outros de que apenas saber administrar resolve o problema como se estivéssemos nas repúblicas de Hitler ou Stalin, num totalitarismo. Em nenhum outro regime o consorte consegue realizar tudo o que quer. Nem na tirania é possível. Porque até nela há oposição. Nem todo desejo vira fato. Fora do Totalitarismo é preciso manha, artimanha ou negociar, ou seja, política.

Na verdade, todos eles sabiam que legislar e governar é ilimitadamente mais complexo que se prender a simples maniqueísmos: Roubo/Ingenuidade; Técnica/Política. Qualquer dicionário de antônimos não reconhece nenhuma dessas oposições porque nenhuma está relacionada a outra. É possível ser honesto, técnico e fazer política. A maior oposição talvez seja ser eleito e ser honesto, mas não quer dizer que seja impossível.  Politica como ação não é uma realidade restrita as eleições. É uma pena que a maioria tenha se convencido dessa mentira. E a pior de todas de que a politica se restringe aos políticos.

Os discursos eleitoreiros que se tornaram muito piores neste momento, perderam toda a materialidade em slogans vazios: a Itália é para os italianos, Zeus acima de tudo, Pastor bom é pastor morto. Coisas que não dizem absolutamente nada. Quem são os italianos? Os nascidos na Itália ou os que tem por origem famílias italianas? Os que decidiram morar lá e colocar seus negócios importantes gerando empregos não tem os mesmos direitos?  O que é tudo? Todas as coisas? Todas as pessoas? Todas as ideologias? Toda atividade de pastor é inaceitável? Alguma atividade não pode ser entendida como metafórica em vez de estelionato?

Governar ou legislar pressupõe negociar, tentar fazer o melhor POSSÍVEL.  A ênfase tem que estar em possível, porque o impossível nunca se ganha mesmo quando se propõe. O melhor é sempre uma enorme desilusão. Essa é a parte política. A técnica está em saber o que propor e como propor para dar um passo a frente no fim de tudo. Mas não adianta saber o que se quer ou o que é necessário se não se sabe viabilizar, negociar. Afinal nem os mais próximos pensam igual. A multiplicidade então... É bom que seja o máximo possível honesto pra perder menos dinheiro no caminho pra aplicação. Mas se o gestor é burro ou ineficiente de nada adianta ter economizado na feitura já que a obra é inepta ou inoperante. O desperdício foi maior ainda.

Eu sei que esse texto é inútil porque as pessoas preferem se apegar a mentiras fáceis. Construir dogmas em vez de pesar, sopesar argumentos. Estão doidas para continuar no velório da política enquanto os espertalhões transformaram tudo em economia, em negócios. Governos comprando o legislativo desde 2004. O legislativo comprando votos para a própria reeleição sequestrando dinheiro do executivo desde 2015. Negociar significa ser ingênuo, ser enganado porque a logica não é mais política, é econômica. Todos querem fazer o melhor negócio, mas não justamente. Querem um enganar o outro. E quando um malandro encontra um otário... É o mal de sair da política. Na política se um não confia no outro, nada sai. Nos negócios...

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Minhocando

Hoje não!

Hoje é dia santo

Dia de São Fanfarrão

O padroeiro das coisas sérias

Das inutilidades

Que não servem a ninguém

Senhoras de si

Como as minhocas

(As borboletas estão pregadas no isopor)

Borboletando

As asas da borboleta estão no arame

O corpo flexado no isopor

Expõe-se sua beleza

Foi uma lagarta feia

E livre

E comilona

Agora tinha dois outdoors em si

Dois quadros majestosos

Até desfilou pelo mundo

Mas a flexa do destino a capturou

Faz parte de um belo quadro de borboletas

(É uma beleza que prende)

terça-feira, 24 de junho de 2025

An-dança

Atravessar fronteiras

Físicas ou mentais

Pressupõe explodir linhas

Erodir limites

Superar-se

Sair de si

Desnaturalizar o local

Tornar universal o particular

E o efêmero moda

Convenções sem validade

Leis sem eficácia

Só boiar no rio

Daqui pra lá

De lá pra cá

Como um alargamento

Um traspassamento

Das fronteiras

Um esquecimento

Da naturalidade

Um somente existir

De não ser nada

Inclassificável

Um mistério

Que não demanda solução

(Ou simplesmente ser humano)

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Exercício longo

Ave Cesar!

A ave de Cesar

Pousou no meu ombro

Sua sombra

À sombra da ave de Cesar

Ave Cesar!

Os romanos morreram

Veio o Vaticano

Os romanos viveram

Em Roma

Arre Cesar

Cesar morto

Papou a papa

A ave de Cesar

Ave Papa!

O Papa papou a papa da ave de Cesar

A sombra do Papa pousou em mim

Ave Papa!

A papa papada se auto-papou

Ave Eu!

Ave Ego!

O Ego matou a ave!

O Ego eliminou o outro

Nem ave, nem ego, nem outro

Salve Algo!

Salvem algo

Salvem-se

Não saúdo o inexistente

Nada existente a salvar

O niilismo se salvou

Ao se negar a ser

Mas tudo existe

Nada é, mas existe

Que fiasco!

Um espaço aberto

Sem chão

Nem teto

Nem paredes

Nada nos prende

Nem nos segura de cair

No abismo infinito

A não ser que a Lei da gravitação

Seja anulada pelo legislativo

A vida segue

  Atravessei dois ou três prédios pela rua Inspirou-me confiança Acenei efusivamente para o nada Recolhi todos ou louros da ação Esc...